Capítulo 17: Montanha-russa

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As reais intenções da Samantha ficaram absurdamente evidentes depois da cena embaraçosa no meu apartamento. Aquelas perguntas indiscretas sobre Selena e Eloise, suas frases ambíguas... a finalidade era ficar comigo e só por um simples detalhe técnico não aconteceu. Saiu do meu apartamento às pressas — cabeça baixa, aparência desleixada e um "tchau" veloz entredentes. Acredito que fora melhor dessa maneira, eu também não saberia como reagir caso ela desejasse ficar por mais tempo.

Quase perdi meu horário. Pedalei como se não houvesse amanhã e consegui chegar antes que o professor iniciasse a chamada — ter um nome que cujo a inicial é primeira letra do alfabeto é uma maldição. O foco fugira de mim durante a manhã, talvez eu devesse estar pensando na Samantha, mas a cena de Eloise no elevador tomou toda minha mente.

Eu ainda não poderia ligar, ou ir até sua casa, além do mais, ela não queria minhas explicações, embora sentisse que deveria fazê-lo. A única alternativa restante era ligar para o...

Mademoiselle Beaumont não está disponível no momento — a monotonia de Christopher era contagiante.

— Nós dois sabemos que você está mentindo — meus olhos rolaram. — Por favor, me deixe falar com ela — insisti.

— Já parou pra pensar que talvez ela não queira falar com você? — Não posso negar, pensar nessa possibilidade me causou certo desconforto.

— É um assunto importante, Christopher — rabiscava aleatoriamente a folha de um livro tentando manter a calma.

— Por que não liga diretamente para ela? — Tenho certeza que estava com sua famigerada expressão. — Mande uma mensagem, talvez.

— Você muito bem sabe que...

— Ligação para mim? — Sua voz melodiosa atravessou meus ouvidos de repente.

— Sim, senhorita, mas não é importante — o som fora abafado, ainda assim pude ouvir perfeitamente a conversa paralela. — Posso dizer que está ocupada.

— Eu decido o que é importante, agora me dê o telefone — sorri, apesar do nervosismo.

— Eloise, — abandonei a caneta subitamente — sou eu... Adam.

— Posso ajudar? — Firme.

— Bem, — a minha inteligência formidável nem ao menos havia planejado um discurso coerente para convencê-la a me encontrar — são assuntos pertinentes à... — olhei ao redor — minha matrícula.

— Houve algum problema, devo ligar para o reitor? — Obviamente não foi uma ótima ideia.

— Não! — Agarrei meu cabelo. — Seria melhor se tivéssemos uma... reunião!?

— Verei o que posso fazer — houve um ruído de teclas ao fundo e a ligação fora encerrada.

Desiludido aguardei por uma resposta. Embora, mais uma vez, estivesse certo de que o contrato seria rasgado bem na minha frente, em inúmeros pedacinhos. Mas antes, havia outro cenário incerto com o qual eu precisava ainda lidar.

Ao chegar para estagiar refiz meu caminho de todos os dias — sem evitar visitar a baia da minha amiga, como sempre fizera — mas Samantha não estava lá. Além de incomodado, fiquei preocupado. Quase ninguém soube responder o que de fato acontecera, enquanto alguns disseram que ela esteve por lá mais cedo, outros nem sequer reconheciam seu nome. Preferi pensar que fora promovida, ou simplesmente trocada de setor, de qualquer modo enviaria uma mensagem a ela após o expediente.

Nem à longa distância foi o meu melhor dia de trabalho, tive dificuldades para me concentrar. Contas simples, procedimentos rotineiros precisaram ser repetidos em demasia devido, simplesmente, à minha falta de atenção. Finalmente um intervalo, pela primeira vez não aguentava mais olhar aqueles números. Procurava Samantha pelo andar quando meu supervisor interceptou-me com um recado um tanto quanto assustador: Eloise me aguardava na sala de reuniões.

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