Capítulo 9: Como o diabo foge da cruz

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Ouvi batidas na porta minutos depois, mas não tive coragem suficiente para abrir e olhar em seus olhos intimidadores. Uma voz repetia constantemente: Que vergonha! Que vergonha! Que vergonha! Não por me masturbar, — seria infantil demais — mas por fazê-lo pensando em Eloise, minha mentora. Como se já não bastassem as crises existenciais que a vida de vinte e poucos anos têm, outra dúvida surgiu em minha mente: O que fiz foi traição?

Discussão bastante pertinente. Enquanto muitos diriam que sim, outros discordariam e eu estava parado exatamente na linha ténue entre essas duas premissas.

Tentei fugir de Eloise "como o diabo foge da cruz" — assim diria a minha avó. Claro, uma hora nos veríamos novamente e adiar isso não seria uma das melhores ideias.

— Fez algo errado? — Um sussurro brando atingiu minha pele ao término de um evento no domingo à tarde. Engoli seco sentindo os pelos da nuca ouriçando-se.

— Não — esforcei-me para não hesitar.

— Está se sentindo bem? — Eloise insistiu. 

— Estou — distanciei meus pensamentos dela imaginando que em algumas horas veria minha namorada novamente.

— Bom, não parece — levantamos vagando pelos corredores para fora do auditório.

Concordava plenamente. Tornei-me irreconhecível para mim mesmo. Distante, disperso e contido. Talvez o maior estranhamento fora o fato de em cinco minutos de conversa com Eloise eu não ter dito qualquer besteira constrangedora. Convenci-me de que seria melhor assim: Tudo estritamente profissional, seguindo o código de ética como deveria ser.

Eloise deixou avisado que retornaríamos em poucos minutos, então, ao invés de preparar meus objetos para a partida, preparei-me para a viagem de mais de cinco horas ao lado dela e tentando de modo frustrado ignorá-la.

Perdi meu tempo. Voltamos em carros separados, assim como na ida. Uma desilusão patética. Pareceu que parte de mim queria tê-la ao meu lado para apreciar a incerteza das sensações que sua companhia me traria.

Apartamento vazio. Um bilhete de Selly avisando que estaria fazendo treinamento em outro hospital. Já era tarde. A preguiça me impediu de desfazer a mala, tirei apenas a camisa e os sapatos e lutei contra a falta de sono para poder dormir esperando que fechar os olhos funcionasse como um botão capaz de resetar todo o fim de semana.

— Oi, amor — um sopro ao pé do meu ouvido durante a madrugada. — Senti sua falta... — entrou debaixo das cobertas comigo, então senti sua mão deslizar sobre o meu abdômen e os lábios repetidas vezes em meu pescoço.

— Eu também, — balbuciei sorrindo embriagado de sono — mas estou muito cansado da viagem. Acho que não é uma boa ideia.

— Shh... deixa que eu faço — ouvi sua breve risada e sua boca encontrou a minha. — Feliz aniversário atrasado de quatro anos!

Senti seus dedos descerem até o cós da minha calça, em seguida o barulho inconfundível do zíper sendo puxado para baixo. Permaneci imóvel e com os olhos fechados. Então, sua mão estava dentro da minha cueca, alisando e apalpando a fim de me deixar ereto. Concentrei-me nas sensações e sorri enquanto escorregava sua língua em meus lábios. Quando começou a me masturbar só se ouviam meus gemidos, sua respiração pesada e o barulho provocado pela fricção veloz entre nossas peles.

bom assim? — Perguntou docemente e eu assenti de imediato apertando os lençóis. — Quer transar comigo? — Meu corpo e mente já se encontravam em um plano extraterreste, ela recebeu apenas um grunhido em resposta — Então geme o meu nome — senti seu sorriso em minha boca.

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