Capítulo 29: Agora você me vê, agora não vê mais

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Eloise pediu comida e, claro, vinho. Ficamos pelo sofá mesmo, ela quis assistir filmes clássicos franceses. Apesar de não entender muita coisa, até que curti. Tivemos um bom momento, apesar de não conversarmos muito. Eu ainda tinha minhas questões. Queria contar a ela o que Christopher fez, mas eu não queria perturbá-la, pois estava passando por um momento indescritivelmente difícil. Decidi seguir seu conselho e só aproveitar o momento.

Cobertos por um edredom, adormecemos no sofá. Ela no meio das minhas pernas, com a cabeça encostada em meu peito. Nem em um milhão de histórias que a minha ansiedade era capaz de criar, eu teria imaginado que um dia ficaríamos assim, como um casal de "namorados" – pensar nessa palavra também embrulhava o estômago e eu queria muito evitar, pois não queria criar expectativas quanto a esse assunto.

— Sem sexo? – Foi a primeira frase que ela disse ao acordar.

— Sem sexo, mas com as costas doloridas como se tivesse montado em mim a noite inteira – ri esticando meu corpo no sofá.

— Não teria sido tão ruim assim – me deu um selinho e ficou de pé. — Desculpe por ter dormido em cima de você, é por isso que suas costas estão doendo agora.

— É sempre um prazer – fui até a cozinha para preparar o café. — Eu tenho que trabalhar daqui a pouco, mas você pode ficar à vontade.

— Não precisa se preocupar – ela arrumava os lençóis calmamente. — Eu preciso ir em casa, resolver algumas burocracias.

— Posso ajudar de alguma forma? – Coloquei café pra ela, acariciei suas costas e beijei seu ombro ao entregar a xícara mais bonita que eu tinha em suas mãos.

— Obrigada, – ela sorriu e tomou um gole – mas não precisa.

Eu ainda tinha umas fatias de pão na geladeira, fiz um pouco de torrada e tomamos o café da manhã juntos. Depois que terminamos, ela pediu toalhas para tomar um banho e eu fiquei esperando sentado no sofá devaneando sobre as consequências de desistir desse emprego para lhe fazer companhia. Quando terminou, desci com ela até seu carro. Mesmo reafirmando que estava tudo bem para ela ficar sozinha, algo em seu semblante me deixava preocupado.

— Eloise, eu não preciso trabalhar, se você quiser minha companhia hoje – coloquei as mãos dentro dos bolsos do moletom enquanto olhava para os lados observando as pessoas a passear.

— Eu nunca vou te prejudicar. Se o emprego é importante pra você, vai lá e faz o que tem que ser feito – ela abriu a porta do carro, mas se voltou para mim antes de entrar. — Por falar nisso, aquelas passagens que comprei estão datadas para o início da próxima semana

— É verdade! — Bati a palma em minha testa. Isso iria atrapalhar o meu novo emprego.

— Eu não sabia sobre os seus planos, eu sinto muito mesmo. Mas se quiser, eu posso comprar outras, só não deixe de passar um tempo com eles enquanto pode, ok!?

— Claro, claro... – balancei a cabeça em acordo – mas não precisa trocar, eu vou. Posso conseguir outro emprego depois. — Dei um sorriso torto. Encostei seu corpo na lateral do carro e acariciei sua bochecha com o meu polegar. Repentinamente, lembrara que ela havia me presenteado com duas passagens para a Carolina do Norte, então abri minha boca sem pensar. — Por quê não viaja comigo? – Beijei brevemente seus lábios.

— Não acho que seja uma boa ideia – segurou minha mão e a abaixou, tirando de seu rosto. Ela não parecia a mesma Eloise de alguns minutos atrás e um mal-estar familiar começou a me incomodar novamente no estômago.

— Por que não? Minha avó adorou você! – Tentei encorajá-la. — Vamos, vai ser bom pra...

— Eu não tenho insegurança quanto ao que as pessoas pensam sobre mim, Adam – ela ergueu uma das sobrancelhas. — Da última vez que estive lá, pensaram que eu era sua namorada. Acredito que voltar lá e dormir com você, no seu quarto, só vai dar motivos para que ela pense nisso de novo. Com certeza seus avós sonham em te ver casando e tendo filhos, uma família como outra qualquer, e são coisas que eu não posso e nem vou te dar. Assim como eu, acredito que você não quer dar falsas esperanças a eles. Então, vai nessa viagem e lhes dê o máximo de atenção que puder. Cada segundo com eles vale ouro. Aproveite!

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