Capítulo 30: Tempos de Diamante

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Depois de toda tempestade sempre há uma calmaria. É nessa calmaria que conseguimos enxergar o que foi destruído e o que restou ainda pé. A tempestade foi muito forte e eu me mantive firme, mas infelizmente muita coisa ainda estava de pé, assim como eu.

Eu gostaria de contar que àquela altura eu já não sentia mais nada pela Eloise – papo furado. Acho que posso dizer que a amava e que, durante muito tempo, eu lutei para admitir isso com seriedade pois sabia que não seria minimamente correspondido, mas agora que se foda. Não é um crime ter sentimentos. Porém, isso não significa que quando amamos alguém devemos deixar que as pessoas nos tratem da maneira como elas acham que devem, como se fôssemos descartáveis. Qualquer pessoa que ame merece ser amada na mesma proporção. Não é amor quando te maltratam, quando fazem você se sentir culpado pelos seus sentimentos, ou pela pessoa que você é. É mentira quando dizem que o amor é suficiente, que o amor supera tudo... O amor de um não supre a falta de amor do outro. Se não é recíproco, então não existe nada ­– ou pelo menos não deveria.

Mesmo sabendo desde o início que os motivos para os nossos encontros não eram os mesmos, eu quis aproveitar cada segundo que fosse da companhia dela. Na minha cabeça, talvez, se eu desse uma chance continuando essa aventura louca com ela, nós poderíamos pelo menos ser algo a mais. Algo mais especial. Eu aceitei os termos dela, ninguém me obrigou a nada, mas com o passar do tempo tudo se transforma. Eu não era obrigado a aceitar um tratamento de merda só porque tinha sentimentos por ela. Dessa vez, eu escolhi me afastar de verdade. E, se dependesse de mim, nós não teríamos mais nada, porque eu cansei de ser usado.

Pouco tempo passou depois que voltei. Felizmente consegui outro emprego, dessa vez na minha área de conhecimento mesmo. Minha pesquisa estava indo bem. Meus avós estavam bem. Arrisco-me a dizer que eu estava começando a ficar bem, embora ainda tivesse que lutar para ignorar os e-mails e mensagens de Eloise. Voltei a sair com meus amigos, pelo menos uma vez a cada duas semanas. Estava me focando em ficar saudável. Ah! Também voltei a correr e praticar exercícios.

O salário que ganhava não era tão ruim assim, eu estava juntando uma grana para finalmente me mudar. Aquele apartamento me trazia muitas lembranças indesejadas – indesejadas, porém deliciosas e muito úteis quando eu estava sozinho e queria bater uma pra descontrair. De qualquer forma, chegou em um ponto que eu não podia mais fugir dela, precisava entrar em contato para falar sobre o apartamento. Era direito dela saber que o apartamento, em breve, estaria livre caso quisesse alugar ou dar para outra pessoa.

Esperei alguns dias para ligar – uma semana tomando tequila e coragem, para ser exato. Sinceramente, eu não sei o que me bloqueou. Afinal, não era como se ela fosse me comer pelo telefone, não é!?

Assim, por volta das sete da noite de um sábado, eu liguei para falar com Eloise. Liguei para o seu celular e até para o número do babaca do Christopher, mas nenhum dos dois atendia. Respirei aliviado, pois eu nem sabia como iria começar uma conversa depois de tanto tempo.

Como já havia decidido tirar a noite só pra mim – sem mulheres, sem amigos, só eu, uma pizza de calabresa e algumas garrafas de cerveja –, fiquei largado no sofá, de cueca, assistindo filmes de ação na Netflix. De repente, minha campainha tocou, fiquei calado e, sorrateiramente, abaixei o volume da TV. Logo depois, batidas na porta. Bufei e levantei para atender de uma vez, adiando meu plano de tornar-me parte integrante do sofá.

— Adam! – Eloise sorriu e entrou sem ser convidada, já segurando meu rosto entre as mão e me dando um beijo desesperadamente selvagem.

Eu a queria... mas eu queria tanto que largar o seu beijo foi provavelmente muito semelhante à reação de um viciado ao ter a droga em suas mãos durante a abstinência. Mas me mantive firme.

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