Capítulo 4: Virtude Inata

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Basicamente o e-mail era um convite. O evento mencionado, um baile de gala para fins humanitários. Em um dos anexos o convite contendo o endereço e no outro um código de conduta e vestimenta. No baile estariam presentes pessoas como empresários, governadores, magnatas, prefeitos — bem como Kara havia dito — e todos os possíveis candidatos ao benefício. Ao meu ver, era um jogo de socialização, pois receberiam o auxílio apenas aqueles que despertassem o interesse dos filantropos presentes. Meu nome estava na lista de convidados, como dissera o convite e caso eu não comparecesse seria impedido de tentar novamente em um futuro próximo. Uma sociedade bem séria e rígida, mas eu estava determinado a fazer parte dela.

Entusiasmado em demasia, quase não notei que o evento aconteceria no dia seguinte às 09:00 p.m. em algum lugar de São Francisco e eu não tinha nada parecido com um smoking, nem sequer um terno. Quando Selly chegou em casa na manhã do sábado, encontrou-me revirando de ponta à cabeça a minha parte do guarda-roupas.

— Já está fazendo suas malas? — Vasculhou a bagunça rapidamente.

— Não — sorri contente e segurei seu rosto para um beijo forte e breve.

— Pelo menos alguém aqui está de bom humor por voltar para casa — cruzou os braços dando um sorriso torto.

— Talvez eu não precise mais disso — joguei minhas camisas no chão e puxei-a pela cintura.

— Como assim? — Questionou confusa pondo as mãos em meu peito. — Vai aceitar minha ajuda ou assaltar um banco?

— Nenhum dos dois — mordi meu lábio reparando sua boca. — Ontem, fui até São Francisco e fiz minha inscrição numa espécie de sociedade filantrópica.

— Mesmo? — Franziu sua testa — Qual?

The Beaumont Society. — Lhe dei um sorriso largo e voltei à minha confusão de roupas.

— Nunca ouvi falar — encostou-se no batente da porta.

— É bastante exclusiva — peguei uma camisa social preta me olhando em frente ao espelho, mas acabou amassada junto com as outras. — Pelo que entendi poucas pessoas tem acesso. Kara me deu o cartão — apontei para ele em cima da mesa de cabeceira.

— Estou muito feliz por você, — comentou analisando-o — mas ainda não entendi o que significa esse furacão.

— Hoje à noite terá um baile e eu preciso comparecer, caso consiga ser notado posso encontrar alguém que financiará os meus estudos — suspirei com a possibilidade. — O problema é que não tenho nada para vestir — resmunguei.

— Qual é o código?

— Gala — rolei os olhos.

— Acho que posso dar um jeito nisso — olhou-me de modo instigante foi tomar um banho.

Para a minha sorte, Selly não era do tipo que se prendia a detalhes pequenos, por isso não foi incomodo o fato de eu não contar a ela sobre minha inscrição antes.

Claro que perdi bastante tempo pondo tudo de volta no guarda-roupas, mas nada fora capaz de acabar com meu bom humor. Depois do almoço, Selly saiu comigo à procura de algo adequado para vestir. Nem mesmo o cansaço de uma noite de trabalho a impediu de me ajudar — eu apreciava bastante todo o esforço que ela fazia por mim e almejava ser um dia capaz de retribuir. — Como se não bastasse sua companhia, ela tentou comprar o smoking em meu lugar, embora fosse completamente desnecessário.

— Você já está fazendo demais, — puxei-o de suas mãos — pode voltar para o carro.

— Por favor, eu quero fazer isso — ameaçou fazer beicinho, embora esse truque não funcionasse mais.

A sociedade BeaumontOnde histórias criam vida. Descubra agora