35 -Despedida

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Sentei na biblioteca com um papel e uma caneta, sabia que me pediriam para falar alguma coisa no enterro da minha mãe, talvez eu devesse ter preparado isso antes mas a dor e o choque de sua perda foi tanto que minhas tarefas como filha e princesa foram deixados de lado por mim.
Encarei o papel por um tempo até saber o que escrever.

-o que está escrevendo? -perguntou Damon parando ao meu lado na mesa da biblioteca.

-discurso fúnebre.

-eu sinto muito pela sua mãe.

-eu também sinto -respirei fundo.

Assim que terminei meu discurso dobrei o papel e o guardei em um bolso, aquilo estava sendo mais difícil do que se quer poderia imaginar. E saber que terei de dizer adeus em frente a todos aqueles a quem ela importou de maneiras diferentes estava me deixando ainda mais nervosa. Assim que estava pronta e meu discurso também, conferi meu relógio e segui com Damon até o carro.

-vai ficar bem? -ele perguntou assim que parou o carro em frente ao cemitério.

Olhei pela janela escura do carro, várias pessoas entravam e saiam, papai estava parado próximo a entrada junto de Davina e Rebekah, certeza de que me esperavam.

-não consigo, não posso fazer isso. Não dá! -respirei fundo.

-é claro que consegue, você é forte Lucy, já vi você passar por muita coisa e sei que nada se compara ao que você está sentindo agora, mas eu sei que vai passar por isso... Eu estou aqui para te ajudar -voltei a olhar pela janela, Damon puxou delicadamente meu rosto para ele novamente -vamos passar por isso, juntos.

-e se eu não conseguir? E se eu não for boa o suficiente? Ela era ótima rainha, mãe e esposa, eu não consigo nem ser uma boa filha, não tenho amigos e praticamente abandonei a escola que exemplos são esses? E se meu discurso estiver ruim? E se papai não me quiser ao seu lado?

-Lucy! Para! Seu pai te ama e vai sempre querer você ao lado dele, você será uma rainha tão boa quanto sua mãe quando isso tiver que acontecer, mas por enquanto, seja você mesma, volte a encher a vida deles de alegria como sempre fez. E você será perfeita.

-oh meu deus! Eu tô tão nervosa -olhei rapidamente para o meu pai que encarava o relógio -eu... Eu tô com falta de ar... aí minha nossa!

-ei, calma -ele botou as mãos nos meus ombros -vai ficar tudo bem.

-eu não... Consigo! Queria... Ela aqui... Agora.

-você precisa respirar e se acalmar.

-não consigo.

-isso é algum tipo de ataque de pânico?

-provavelmente...

-o que eu faço? Chamo alguém?

-eu não... Sei!

-ta, acho que já ouvi Stefan falar alguma coisa sobre isso, você precisa trancar a respiração.

Encarei ele assustada.

-eu não consigo... respirar... Não dá... pra trancar... A respiração!

-da sim, eu sei como.

-com... -não pude nem terminar de falar quando senti seus lábios contra os meus.

O beijo foi lento, sei que Damon é meu tio e tecnicamente isso é errado mas admito que esperava por esse beijo a muito tempo. Algo nele me faz bem, me tranquiliza, me faz me sentir segura como jamais senti nem mesmo com Isaac. Ele era diferente, como se um ima me puxasse para ele, como se meu destino estivesse entrelaçado ao dele.

-está melhor? -perguntou colando nossas testas.

-sim, estamos atrasados?

-não sei -rimos.

-obrigada.

-não agradeça. Não quero que pensem que sou bonzinho, apenas salvei você de um enfarto -comecei a rir me afastando.

-precisamos ir -disse por fim.

Ele apenas assentiu e descemos do carro, seguimos andando até a entrada, Davina permitiu a entrada de Damon no cemitério, e enquando ele ia a procura de Stefan, papai me dava a notícia a qual eu já esperava, teria que discursar.

-como você está? -Davina perguntou enquanto seguíamos meu pai cemitério a dentro.

-nervosa e meio abalada ainda.

-imagino, mas relaxa, vai dar tudo certo e estarei aqui para o que você precisar.

-obrigada -sorri para ela.

Chegamos a uma área cheia de cadeiras, a maioria já ocupadas, aquilo me congelou por completo, logo a frente o caixão contendo o corpo da mulher que me criou e que agora eu não veria mais.

-você consegue -Damon surgiu ao meu lado me assustando -só confia em mim -assenti e com uma das mãos em minhas costas ele me guiou até meu lugar ao lado do papai.

Em estado normal eu diria que a cerimônia foi chata e tediosa, mas no meu estado atual só posso dizer que foi doloroso de tal maneira, que precisei me afastar do lugar por alguns minutos pois tinha a sensação de que iria vomitar a qualquer momento, Elijah me segurou antes que eu saísse correndo para qualquer canto aonde pudesse chorar sozinha, ele cuidou para que eu me sentisse bem e voltamos juntos para a cerimônia. Então chegou a pavorosa hora do discurso. Papai foi o primeiro, e então, segurando as lagrimas e com a voz rouca por causa do choro que prendia leu palavras singelas de amor e saudade, em seguida Bekah falou sobre a falta de uma amiga como minha mãe, e tio Elijah sobre o saudade e o vazio que ela deixará agora, logo após algumas outras pessoas falaram sobre minha mãe. Levei um susto ao perseber que uma delas era a rainha Candice que tinha um rosto abalado diferente das outras vezes que a vi, e então chegou a minha vez.
Me levantei calmamente e segui quase amassando o papel em minhas mãos até a frente de todas aquelas pessoas. Respirei fundo e hesitei por um minuto sair correndo, mas então lembrei o real motivo de estar ali, o que quer que eu fosse falar, planejado ou não, bem dito ou não, não era para nenhum daqueles que estavam ali presentes, eram palavras para a mulher que partia naquela manhã.
Desdobrei o papel, olhei atentamente a primeira linha e o dobrei de volta, o escondendo na palma da mão, olhei para o papai que sorrio para mim e então comecei.

-bom dia a todos, hoje assim como todos vocês, vim me despedir dessa mulher, a qual eu desejava nunca ter de dizer adeus. Mulher guerreira, forte, fiel. Rainha, mãe e esposa exemplar. Mas não é sobre todas essas qualidades as quais vocês já conhecem que vim falar, mas sim dos defeitos. Ele era muito chata -sorri -odiava quando eu deixava a toalha molhada na cama, e sinceramente ela não era boa na cozinha, também não era boa cantora e muito pior quando se tratava de desenhar. Mas além de tudo, ela era perfeita. Mesmo como todos esses defeitos, com a rabugice de manhã cedo, com a mania de ser super protetora, ela era perfeita, e não sei descrever em palavras a falta que ela fará. Queria ter me despedido dela, ter me desculpado por tudo que disse ou fiz, ter implorado para ela cantar aquela música que eu odiava -respirei fundo segurando as lagrimas -ter dito uma última vez que a amava e contar a ela uma história. Dizer a ela que a rainha loba teve um final feliz ao lado do rei híbrido, que ela pôde assistir o futuro de seu povo e de sua filha. Dizer a ela o quão dolorosa seria sua partida. Mas eu não disse, e espero que agora, de onde quer que ela esteja, ela possa me ouvir dizer em alto e bom som um eu te amo eternamente... Eu sei que não sou boa com palavras, mas ela sabia que sentimentos não são todos os que se podem expressar por escrito. E a saudade que ela deixou, e o amor que tenho em mim, não seram explicados nem se eu lhes ler um livro inteiro -ri -mas de qualquer forma, obrigada a todos por tudo que estão fazendo por minha família,  e tudo o que fizeram por ela. Obrigada de coração, e mesmo com toda a dor que me causa falar isso, eu me despeço hoje da minha mãe, da minha melhor amiga, da minha eterna paixão. E que aonde quer que ela esteja... esteja feliz. Espero que uma dia eu chegue aos pés da pessoa que ela foi e sempre será em nossas lembranças. Obrigada.

Voltei para junto do meu pai que me abraçou apertado.

-sua mãe deve estar muito orgulhosa de você minha filha...

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