29 -Sangue

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Depois que comemos aquela pizza inteira, fomos cada um para o seu quarto, eu já não me sentia tão mal. Sentei no chão encostada na cama e comecei a ler o livro que eu sempre carregava comigo, o meu livro favorito. Mas não consegui me concentrar na leitura, me lembrava o tempo todo daquela carta de Katherine. Dúvidas pairavam sobre o ar, lacunas não preenchidas da história, segredos não revelados.
Larguei o livro e andei pelo quarto, andava em círculos, quando ficava tonta apenas invertia a direção. Fiquei assim até alguém bater na porta.

-entre! -disse não muito alto e logo vi Damon abrir a porta -o que quer Damon?

-vim lhe trazer uma xícara de chá. Percebi que estava meio aflita hoje... Não me admira, com tudo que aconteceu.

Relaxei. Talvez Stefan estivesse dormindo ou mergulhado em histórias de um de seus diários, mas o importante era que Damon estava sendo legal.
Peguei a xícara de sua mão e olhei para o líquido dentro dela enquanto ele se sentava na cama.

-não se preocupe, não tem veneno -ele revirou os olhos.

Bebi calmamente, logo deixando que a água quente me aquecesse. Era uma noite fria e chuvosa, a chuva estava cada vez mais forte, me forçando fechar a janela para que ela não abrisse com o vento.

-obrigada -agradeci baixo e ele apenas fez um gesto com a cabeça.

Segui andando pelo quarto com aquela porcelana quente em minhas mãos. Bebendo pequenas quantidades do chá doce. Minha cabeça estava mais agitada que uma estação de trem, com certeza eu não conseguiria dormir assim. Estava tão perdida em pensamentos que aos poucos esqueci a presença de Damon.
Não era apenas os diários que estavam em minha mente. Estava preocupada com minha casa, minha familia. Não tirava da cabeça as estranhas marcas nos pulsos do tio Elijah. Nem as manchas de sangue que ficaram em minhas mãos depois de minha mãe ter sido atingida. Sangue. Acho que tudo não se passava de sangue. O sangue que corria em minhas veias, o sangue que era vital aos vampiros, o sangue derramado a cada corpo deixado sem vida pelo caminho.
Aquele chá que eu bebia já não tinha o mesmo gosto. Agora amargo. Me trazia a memória o sabor do sangue. E por um estante perdi as forças fazendo com que a xícara escapasse de minhas mãos em encontro ao chão. Por sorte estava vazia, por mais que aquele gosto me trouxesse más lembranças, eu não consigui parar de beber. O barulho de porcelana sendo partida em diversos fragmentos me fez voltar a realidade.
Me abaixei e comecei a juntar os pequenos cacos que antes eram uma xícara.

-você está bem? -Damon perguntou se abaixando para me ajudar com os cacos da porcelana.

-estou sim, foi só um acidente.

Juntamos todos os cacos e os jogamos na lixeira que havia no quarto, senti uma pequena picada e olhei para minhas mãos, aonde um pequeno fragmento havia feito um corte que agora sangrava. Nada grave. Nada fundo. Apenas um pequeno corte. Fiquei olhando para o sangue escorrendo na palma da mão, e me lembrei do que havia acontecido a mais ou menos dez horas mais cedo. Quando minhas mãos estavam cobertas pelo sangue daquela que me criou. Senti uma dor imensa naquela hora, imaginando que o sangue em minhas mãos... O sangue dela, não era o mesmo que corria em minhas veias. E agora, nesse quarto. Esse sangue presente em minha mão. Era o sangue de um vampiro. O sangue de um Salvatore.

-Lucy! -Damon me olhava preocupado.

Olhei para ele e voltei a olhar para a minha mão, não sabia explicar o que estava acontecendo comigo. Eu só não conseguia afastar as memórias. Memórias que apenas hoje eu entendo. Aquele sangue banhando o chão do Quartel em noites de festas. Apenas hoje entendo o que acontecia. A chacina. A morte. O sangue.
Embora as memórias me assustasse eu não conseguia desviar os olhos. O sangue, agora já se espalhava pela mão.

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