Capítulo 28

59 8 0
                                    

A tarde foi ocupada a ouvir uma série de queixas. Todos pareciam infelizes. E havia ainda a leitura. Em sua mesa estava uma pilha de papéis. Eram traduções para o inglês de notícias
que haviam saído no dia anterior em jornais e revistas romenos. A maioria das notícias do
jornal popular Scinteia Tineretului era sobre as atividades diárias do presidente Ionescu, com
três ou quatro fotografias suas em cada página. O incrível ego de um homem, pensou David.

Havia outras condensações para ler: The Romania Libera, o semanário Flacara Rosie e
Magafinul. E isso era apenas o começo. Havia também os telegramas e os resumos do que
estava acontecendo nos Estados Unidos. Havia uma pasta com os textos integrais de discursos
de importantes autoridades americanas, um volumoso relatório sobre negociações de controle de armamentos e uma síntese atualizada sobre a situação da economia americana.

Em um dia há material de leitura suficiente para me manter ocupado por anos e terei isso todas as manhãs, pensou David.

Mas o problema que mais o perturbava era a sensação de antagonismo da equipe. Era
preciso encontrar uma solução imediata.

Ela chamou Harriet Kruger, a responsável pelo protocolo.

— Há quanto tempo trabalha aqui na embaixada? — perguntou-lhe David.

— Por quatro anos antes do rompimento com a Romênia e agora há três gloriosos meses.

Havia um tom de ironia em sua voz.

— Não gosta daqui?

— Sou uma garota de McDonald's e Coney Island. Como diz a canção, "Mostre-me o caminho de volta para casa".

— Podemos ter uma conversa particular?

— Não, madame.

Mary esquecera.

— Por que não vamos para a Sala Bolha? — sugeriu.

Depois que sentou na Sala Bolha com Harriet Kruger, a porta fechada, David disse:

— Acaba de me ocorrer uma coisa. Nossa reunião de hoje foi realizada na sala de
conferências. Não está grampeada?

— Provavelmente — respondeu Harriet Kruger, em tom jovial. — Mas não tem
importância. John Slade não deixaria que fosse discutida qualquer coisa que os romenos já
não soubessem.

John Slade de novo.

— O que acha de Slade?

— Ele é o melhor.

David resolveu não manifestar sua opinião.

— Eu queria conversar francamente com você porque tenho a impressão de que o moral
aqui não é dos melhores. Todos estão se queixando. Ninguém parece feliz. Eu gostaria de
saber se é por minha causa ou se sempre foi assim.

Harriet Kruger estudou-o em silêncio por um momento.

— Quer uma resposta sincera?

— Por favor.

— É uma combinação das duas coisas. Os americanos que trabalham aqui estão sob
pressão permanente. Se violamos as regras, estamos perdidos. Temos receio de fazer amizade
com romenos porque provavelmente acabaremos descobrindo que são da Securitate. Por isso,ficamos restritos aos americanos. O grupo é pequeno, e logo se torna aborrecido e incestuoso.— Ela deu de ombros. — O pagamento é péssimo, a comida ruim e o tempo horrível. Nada disso é culpa sua, senhor embaixador. Seus problemas são dois. O primeiro é que se trata d e uma nomeação política e está no comando de uma embaixada guarnecida por diplomatas de carreira. — Fez uma pausa. — Estou sendo muito forte?

Além Do Teu Olhar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora