Além Do Teu Olhar (Romance Gay)

Capítulo 15

Na casa de Andry, Kelvin e Carolina ficaram arrasados ao saberem da morte do pai. Porém, David estava lá para cuidar deles, pois era isso o que o irmão gostaria que ele fizesse.

-Tio David, o que realmente aconteceu com o papai? - pergunta a jovem para o tio.

-Foi um acidente, Carol. Eu estou tão chocado quanto você e seu irmão, mas eu vou cuidar de vocês como o Andry gostaria que eu cuidasse - explicou David, dando um abraço na sobrinha.

-Promete?

-Eu prometo - respondeu David, olhando para os olhos da garota.

Kelvin foi o único que não demonstrou seus sentimentos, porém, em seu interior, ele estava arrasado com a morte do pai.

-O velório não vai acontecer, tio? - ele pergunta para David.

-Kelvin, eu sinto muito, mas o corpo ficou muito desfigurado e eu não iria suportar ver aquela cena novamente - respondeu o professor, estendendo a mão para o sobrinho, que a pega e o abraça.

Em Junction City há investigações rigorosas sempre que há um 1048 - acidente de trânsito com vítima. Uma ambulância é enviada do Serviço de Ambulâncias do Condado e um homem do xerife comparece ao local. Se o pessoal do exército está envolvido no acidente, a Divisão de Investigações Criminais militar realiza um inquérito, paralelo à investigação do xerife.

Lucas Sevilha, um oficial à paisana do setor do DIC em Fort Riley, o xerife Anderson e um assistente estavam examinando o relatório sobre o acidente, no gabinete do xerife, na rua 9.

-Tem uma coisa que não consigo entender - comentou o xerife Anderson.

-Qual o problema, xerife? - perguntou Sevilha.

-Houve cinco testemunhas do acidente, não é? Um padre, duas freiras, o coronel Will e o motorista do caminhão, sargento Marcelo. Todos disseram que o carro do doutor Rangel entrou na estrada e o caminhão desgovernado o atingiu.

-Isso mesmo - disse o homem do DIC. - E onde está o problema ?

O xerife coçou a cabeça.

-Já viu algum relatório onde duas testemunhas dissessem a mesma coisa? O que me pertuba é que cada uma das cinco testemunhas disse exatamente a mesma coisa.

O homem do DIC deu de ombros.

-Isso apenas comprova que o acidente foi bastante óbvio.

-Etamos de acordo? - pergunta Sevilha.

-Sim. Foi apenas um acidente - disse o xerife, voltando a se sentar.

A morte é supostamente o fim, mas para David Rangel foi o começo de um inferno insuportável. Ele é Andry haviam conversado sobre a morte, e David se dispusera a aceitar o inevitável; só que agora a morte assumia uma realidade imediata e aterradora. Não era mais um evento vago que só ocorreria em algum dia distante e remoto. E não havia meio de enfrentar. Tudo em David clamava para negar o que acontecerá à Andry. Quando ele morrerá, o sentido de viver havia desaparecido do âmago de David. A realidade insistia em atingi-lo em renovadas ondas de choque. Ele se descobriu furioso com Deus. Por que não me levou primeiro?, indagou.

O tempo passava, escarnecendo de seu vazio. Sua vida era como um trem em disparada, sobre o qual não tinha o menor controle.

Os amigos lhe faziam companhia, tentando atenuar o sofrimento, mas David desejava que todos o deixassem em paz. Caio apareceu uma tarde e encontrou David diante da televisão, assistindo a uma partida de futebol americano do time da Universidade Estadual do Kansas.

-Ele nem percebeu que eu estava lá - contou Caio para Betânia, sua esposa, naquela noite. -Concentrava-se desesperadamente no jogo. - Ele estremeceu. -Foi assustador.

-Por quê?

-David detesta o futebol americano. Era Andry que não perdia um jogo.

David precisou recorrer às últimas reservas de força de vontade para cuidar dos destroços deixados pela morte de Andry. Haviam as contas, o seguro e outras coisas a pagar que ele queria gritar para que os advogados o deixassem em paz.

Mas ele foi obrigado a enfrentar os problemas, pois não iria suportar perder os sobrinhos também.

Fernando Wilffe, o contador de Andry, disse:

-Infelizmente, senhor Rangel, as contas e as despesas com o funeral vão consumir uma boa parte do dinheiro do seguro de vida. Seu irmão não costuma pressionar os pacientes para lhe pagarem. Devia muito dinheiro. Falarei com uma agência de cobrança para procurar as pessoas que estão devendo...

-Não faça isso - protestou David com veemência. - Andry não gostaria.

Wilffe ficou desorientado.

-Neste caso, sobram tinta mil dólares em dinheiro e está casa, que está hipotecada. Se vendesse a casa...

-Andry não gostaria que eu vendesse.

Ele se mantinha rígido, controlando seu desespero. Willfe pensou: Eu gostaria que meu irmão se preocupasse tanto assim comigo.

O pior ainda estava por vir. Chegou o momento de cuidar das coisas pessoais de Andry. Foi duro ter que cuidar de tudo sozinho, mas ele sabia que Andry iria querer que o irmão o fizesse. Desde pequenos, Andry e David eram muito unidos e cuidavam um do outro. Agora havia um grande vazio em David que ele não conseguiria mais preencher. Mas ele precisava aceitar a realidade é seguir em frente. Carolina e Kelvin precisavam dele, pois não havia mais o pai para cuidar deles.