Capítulo 30

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No dia em que Carol e Kevin deveriam começar a ir à escola David recebeu um telefonema da
embaixada às cinco horas da manhã, comunicando que chegara uma mensagem urgente, que
exigia resposta imediata. Foi o começo de um dia longo e movimentado. Quando ele voltou à
residência, já passava de sete horas da noite, e as crianças estavam à sua espera.

— Como foi a escola? — perguntou David.

— Eu gostei — respondeu Carolina. — Sabia que os alunos são de 22 países diferentes? Tem um garoto italiano lindo que passou a aula toda olhando para mim. É uma escola sensacional.

— Tem um laboratório de ciências que é uma beleza — acrescentou Kevin. — Amanhã vamos dissecar algumas rãs romenas.

— Mas é muito esquisito — ressaltou Carol. — Todos falam inglês com sotaques
engraçados.

— Lembrem-se de uma coisa — disse David aos sobrinhos. — Quando alguém tem um sotaque,
isso significa que fala uma língua a mais do que vocês. Mas fico contente de que não tenham
tido problemas.

— John cuidou da gente — comentou Carol.

— Quem?

— O senhor Slade. Ele nos disse para chamá-lo de John.

— O que John Slade tem a ver com a ida de vocês à escola?

— Ele não lhe contou? John nos levou à escola e apresentou aos professores. Conhece
todos.

— E também conhece uma porção de garotos — informou Kevin. — E nos apresentou a eles.Todo mundo gosta de John . É um cara sensacional.

Um pouco sensacional demais, pensou David.

Na manhã seguinte, quando John entrou em sua sala, David foi logo dizendo:

— Soube que você levou Carol e Kevin à escola.

Ele acenou com a cabeça.

— Não é fácil para os jovens tentarem se adaptar a um país estrangeiro. Eles são bons
garotos.

Será que ele tinha filhos? David compreendeu de repente que sabia muito pouco a respeito da vida pessoal de John Slade. Provavelmente é melhor assim, concluiu ele. Afinal, ele quer
que eu fracasse.E David queria ser bem-sucedido.

Na tarde de sábado, David levou as crianças ao Clube Diplomático, onde a comunidade se reunia para conversar. Correndo os olhos pelo pátio, Davis viu John Slade tomando um drinque com alguém. Quando a mulher se virou, ele constatou que era Dorothy Stone. E sentiu um choque momentâneo. Era como se sua secretária estivesse colaborando com o inimigo.

Perguntou-se até que ponto Dorothy e John Slade seriam íntimos. Devo ter a cautela de não
confiar demais nela, pensou David. Nem em qualquer outra pessoa.
Harriet Kruger estava sentada sozinha a uma mesa. David aproximou-se.

— Posso sentar com você?

— Terei o maior prazer. — Harriet tirou da bolsa um maço de cigarros americanos. —Aceita um cigarro?

— Não, obrigado. Não fumo.

— Uma pessoa não pode viver neste país sem o cigarro.

— Não entendi.

— Os maços de Kent fazem a economia funcionar. Literalmente. Se quer ver um médico, ofereça cigarros à enfermeira. Se quer carne do açougueiro, um mecânico para consertar seu
carro ou um eletricista para dar um jeito numa lâmpada... suborne-os com cigarros. Tinha uma amiga italiana que precisava fazer uma pequena operação. Ela precisou subornar a enfermeira
responsável para lhe arrumar uma lâmina nova ao prepará-la para a cirurgia. E teve de subornar também as outras enfermeiras para usarem ataduras novas depois que limparam o
ferimento, em vez de usarem outra vez as ataduras antigas.

Além Do Teu Olhar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora