Capítulo 26

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O Aeroporto Otopeni, a quarenta quilômetros do centro de Bucareste, é moderno, construído para facilitar o fluxo dos viajantes dos países próximos da Cortina de Ferro, além de absorver os turistas ocidentais, menos numerosos, que visitam a Romênia todos os anos.

No interior do terminal havia soldados em uniformes marrons, armados com rifles e pistolas; havia também uma impressão de frieza que nada tinha a ver com a temperatura.

Inconscientemente, Kelvin e Carolina chegaram-se para mais perto de David. Então eles também sentem, pensou ele.

Dois homens se aproximaram. Um deles era esguio e atlético, parecia um americano, o outro era mais velho e vestia um terno amarfanhado de aparência estrangeira. O americano apresentou-se:

- Seja bem-vindo à Romênia, senhor embaixador. Sou Jerry Davis, seu representante consular para assuntos públicos. Este é Tudor Costache, o chefe do protocolo romeno.

- É um prazer ter o senhor e seus sobrinhos conosco - disse Costache. - Sejam bem-vindos a nosso país.

De certa forma, pensou David, vai ser meu país também.

- Multumesc, domnule - respondeu David.

- Você fala romeno! - exclamou Costache. - Cu plãcere!

David torceu para que o homem não se deixasse arrebatar. E apressou-se em ressaltar:

- Apenas umas poucas palavras.

Kevin disse:

- Bunãdimineata.

E David ficou tão orgulhoso que teve a sensação de que ia estourar. Ele apresentou as crianças.

- A limusine está à sua espera, senhor embaixador - disse Jerry Davis. - O coronel McKinney está lá fora.

O coronel McKinney. O coronel McKinney e John Slade. Perguntou-se se Slade também estaria ali, mas não falou nada.

Havia uma fila comprida esperando para passar pela alfândega, mas David e as crianças deixaram o prédio em poucos minutos. Havia repórteres e fotógrafos à sua espera, só que não eram turbulentos como os que David sempre encontrara antes, mas sim ordeiros e controlados. Quando acabaram, agradeceram a David e partiram em bloco.

O coronel McKinney, de uniforme, estava à espera na calçada. Estendeu a mão.

- Bom dia, senhor embaixador. Fez boa viagem?

- Foi ótima, obrigado.

- John Slade queria estar aqui, mas precisou resolver um problema urgente.

David se perguntou se seria uma ruiva ou uma loura.

Uma limusine preta comprida, com uma bandeira americana no pára-lama dianteiro direito, parou junto ao meio-fio. Um homem de aparência jovial, num uniforme de motorista, abriu a porta.

- Este é Florian.

O motorista sorriu, exibindo lindos dentes brancos.

- Seja bem-vindo​, senhor embaixador, mister Kevin, miss Carol. Terei o maior prazer em servir a todos.

- Obrigado - disse David.

- Florian estará à sua disposição 24 horas por dia. Pensei em seguirmos direto para a residência, a fim de que possa desfazer as malas e descansar. Talvez mais tarde queira dar uma volta pela cidade. E amanhã de manhã Florian o levará à embaixada americana.

- Está ótimo para mim.

David especulou outra vez onde estaria Jonathan Slade.A viagem do aeroporto à cidade foi fascinante. Seguiram por uma estrada de duas faixas com tráfego intenso de caminhões e automóveis, mas a intervalos de poucos quilômetros os
veículos praticamente tinham de parar por causa de carroças de ciganos que se arrastavam
com lentidão. Nos dois lados da estrada havia fábricas modernas, entre cabanas antigas. O
carro passou por uma fazenda depois de outra, com mulheres trabalhando nos campos, lenços
coloridos na cabeça.

Além Do Teu Olhar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora