Capítulo 29

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A fim de aproveitar melhor o tempo nos dias movimentados que o esperavam, David determinou que Florian fosse buscá-lo às seis e meia da manhã todos os dias. Durante o percurso até a embaixada, ele lia os relatórios e comunicados de outras embaixadas, entregues
na residência durante a noite.Ao atravessar o corredor, passando pela porta de John Slade, ele parou de repente, surpreso  Ele estava à sua mesa, trabalhando. Com a barba por fazer. Ele se perguntou se Slade teria passado a noite inteira ali.

— Chegou cedo — disse David. Ele levantou os olhos.

— Bom dia. Gostaria de falar com você.

— Está bem.

Ele começou a entrar.

— Não aqui. Na sua sala.

Ele seguiu David para a sala dela e foi até um instrumento que estava num canto.

— Isto é um retalhador — informou John.

— Sei disso.

— Sabe mesmo? Quando saiu ontem à noite, deixou alguns papéis em cima de sua mesa. A esta altura, já foram fotografados e enviados para Moscou.

— Oh, Deus! Devo ter esquecido. Que papéis eram?

— Uma lista de cosméticos, papel higiênico e outros artigos pessoais que queria
encomendar. Mas isso não importa. A faxineira trabalha para a Securitate. Os romenos ficam
felizes por qualquer fragmento de informação que consigam obter e são ótimos para juntar
dois e dois. Lição número um: à noite, tudo deve ser guardado em seu cofre ou destruído.

— E qual é a lição número dois? — indagou David, friamente. John
sorriu.

— O embaixador sempre começa seu dia tomando café com o subchefe da missão. Como
prefere o seu?

David não tinha o menor desejo de tomar café com aquele filho da mãe arrogante.

— Eu... puro.

— Faz muito bem. É preciso tomar muito cuidado com a silhueta por aqui. A comida é do tipo que engorda. — Ele se levantou e se encaminhou para a porta que dava para a sua sala.— Preparo meu próprio café. Tenho certeza de que vai gostar.David continuou sentado, furioso com Slade. Tenho de tomar cuidado com a maneira de tratá-lo, pensou. Quero afastá-lo daqui o mais depressa possível. John Slade voltou com duas canecas de café fumegante e colocou-as em cima da mesa.

— Como posso matricular Carol e Kevin na escola americana aqui? — indagou David.

— Já providenciei tudo. Florian as levará pela manhã e irá buscar à tarde.

Ele ficou confuso.

— Ahn... obrigado.

— Deve visitar a escola quando tiver uma oportunidade. É pequena, com cerca de cem
alunos. Cada turma tem oito ou nove estudantes. Vêm de todos os lugares... canadenses,
israelenses, nigerianos... pode dizer qualquer um. Os professores são excelentes.

— Irei até lá.

John tomou um gole do café.

— Soube que teve uma boa conversa com nosso destemido líder ontem à noite.

— O presidente Ionescu? É verdade. Ele foi muito simpático.

— Sempre é. Um cara maravilhoso. Até que se irrita com alguém. E corta sua cabeça.

David disse, bastante nervoso:

— Não deveríamos falar sobre essas coisas apenas na Sala Bolha?

Além Do Teu Olhar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora