Capítulo 37

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Às oito e quarenta e cinco da manhã seguinte, quando David estava numa reunião, Dorothy
Stone entrou correndo na sala e disse:

— As crianças foram seqüestradas!

David levantou-se de um pulo.

— Deus do céu!

— O alarme da limusine acaba de disparar. Estão localizando o carro agora.

Eles não
conseguirão escapar.

David correu para a sala de comunicações. Meia dúzia de homens estavam parados em torno de um painel de controle. O coronel McKinney falava por um microfone.

— Entendido — disse ele. — Já anotei. Informarei ao embaixador.

— O que está acontecendo? — indagou David, a voz rouca, mal conseguindo falar. — Onde
estão meus sobrinhos?

O coronel disse, em tom tranqüilizador:

— Estão bem, senhor. Um deles tocou no botão de alarme da limusine por acidente. A luz de emergência no teto acendeu e foi emitido um sinal de SOS em ondas curtas. Antes que o
motorista percorresse mais dois quarteirões, foi cercado por quatro carros da polícia, com as
sirenes ligadas.

David cambaleou contra a parede, aliviado. Não sabia até aquele momento como era grande a sua tensão. E pensou: É fácil compreender por que os estrangeiros que vivem aqui acabam recorrendo aos tóxicos ou à bebida... ou a ligações amorosas.

David ficou com as crianças naquela noite. Queria estar o mais perto possível dos sobrinhos.

Contemplando-os, pensou: Será que meus sobrinhos correm perigo? Estaremos todos em perigo?
Quem poderia querer nos fazer mal? Ele não tinha as respostas.

Três noites depois David tornou a jantar com o doutor Fernando Desforges. Ele parecia mais relaxado desta vez. Embora persistisse o fundo de tristeza que David sentira desde o primeiro
encontro, ele se empenhou em ser atencioso e divertido. David se perguntou se ele sentiria a
mesma atração que experimentava em relação a ele. Não foi apenas uma tigela de prata
que lhe mandei, admitiu para si mesmo. Foi também um convite.
"Senhor embaixador é muito formal. Pode me chamar de David". Ele estaria mesmo dando em cima daquele homem? E, no entanto... Eu lhe devo muito, possivelmente minha vida. Mas estou racionalizando. Isso não tem nada a ver com o motivo pelo qual desejava
vê-lo outra vez.

Eles jantaram cedo no restaurante do terraço do Intercontinental Hotel. Quando  Fernando o
levou de volta à residência oficial, David perguntou:

— Não gostaria de entrar?

— Obrigado — respondeu ele. — Será um prazer.

As crianças estavam lá embaixo, fazendo os deveres de casa. David apresentou-as a Fernando.

Ele se abaixou na frente de Caeol e disse:

— Posso? — Abraçou-a por um instante e depois se empertigou. — Uma das minhas filhas era três anos mais moça do que você. A outra era mais ou menos de sua idade. Eu gostaria de pensar que cresceram para se tornarem tão bonitas quanto você, Carol.

Carol sorriu.

— Obrigada. Mas onde...?

Mas David apressou-se em dizer:

— Que tal tomarmos todos um chocolate quente?

Eles sentaram na enorme cozinha, tomando o chocolate quente e conversando. As crianças ficaram encantadas com Fernando, e David pensou que nunca vira um homem com tanta ânsia nos olhos. Ele o esquecera. Estava inteiramente concentrado nas crianças, contando
histórias sobre as filhas e anedotas, até que todos riam às gargalhadas.
Já era quase meia-noite quando David olhou para o relógio.

Além Do Teu Olhar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora