Quando eu era pequeno, eu tive vontade de ser policial, bombeiro, médico e até ator. A cada semana eu dizia para minha mãe que queria ter uma nova profissão e ela nunca me desanimou, era normal imaginar como as coisas seriam quando eu crescesse. Se os carros voariam ou se eu teria aquele skate maneiro do Marty McFly de "De Volta para o Futuro II", a imaginação não tinha limite na minha maquina de sonhos.
Agora sei que não é bem assim, não é só desejar e vestir a fantasia que você vai ser, que nem sempre há aquelas placas nas vitrines que dizem "precisa-se de ajuda" como nos filmes. Os filmes são máquinas dos sonhos de outras pessoas.
Com o garoto misterioso caminhando ao meu lado a chama de minha imaginação se apagou um pouco. Ele não é uma imaginação de minha cabeça, debaixo de seu casaco não vão sair tentáculos como o Dr Octopus e em seu peito não vai ter um reator arc como o do Homem de Ferro, ele é só um garoto comum e normal que vai ao mesmo colégio que eu e coincidentemente mora no mesmo condomínio, nada tão mágico.
— Para onde estamos indo? — Perguntei quebrando o estranho silêncio que estava instalado entre nós desde que saímos da entrada do meu prédio. Já havíamos saído do condomínio e andávamos pela rua principal, carros passavam ao nosso lado no asfalto e as vitrines das lojas mostravam as roupas da estação.
— Eu não sei.
— Como você pode não saber?
— Você não acha o acaso mais interessante?
— Eu achei que você fosse me mostrar alguma coisa.
— Não é porque te chamo para ir a algum lugar comigo que eu estou te levando a um lugar especifico ou especial. Além disso, eu mal te conheço.
Suas palavras duras me acertaram em cheio e por uns instantes fiquei em silêncio, me sentindo como um idiota, envergonhado por ficar imaginando as coisas que ele devia fazer e porque ele havia me chamado para dar uma volta. Ele só devia estar tentando ser legal por andar com um completo desconhecido que apanha dos valentões e eu sendo um trouxa por imaginar coisas que não tem significado algum. Estava começando a debater se devia ou não voltar para casa e o deixar terminar seu passeio ao desconhecido sozinho, quando o ouvi falar mais uma vez.
— Sabe Jungkook, eu acredito em destino, acredito que as coisas acontecem porque tem que acontecer e que nossas decisões nos levam a caminhos diferentes. Não tem nada a ver com um ser superior, mas com nós mesmos, não é como se um caminho que você escolhesse fosse torná-lo certo ou errado, mas as decisões que tomamos dentro dele. — Ele falou e me surpreendi quando ele segurou meu pulso e me fez virar para olhá-lo, estávamos parados no meio da calçada, as pessoas tinham que desviar da gente para continuar a andar, mas aquela estranha sensação que me dava quando olhava no fundo de seus olhos me fez ignorar completamente todo o nosso ao redor e focar em seus olhos que estranhamente pareciam felinos. — Você quer saber por que eu te chamei para sair comigo? — Ele perguntou e eu acenei com a cabeça em afirmativo, era o que mais eu queria saber. Por que ele havia se aproximado tão repentinamente se até então só havia estranhas trocas de olhares com metros de distância nos separando e porque agora, tão próximo, parece que a sensação aumenta? — Porque eu sabia que não devia me aproximar de você — Ele falou e soltou meu pulso e se virou para a direção que estávamos seguindo — Além disso, está um dia bonito, não acha?
— É... — Falei meio incerto, e olhei para cima. Nós dois parados. Mas já não estávamos conectados. E o céu, acima de nós, brilhava com os raios do sol sem qualquer nuvem. Era um estranho dia, um estranho dia ensolarado. — É estranho. — Falei meus pensamentos em voz alta e o vi pelo canto do olho ele se virar para mim e abaixei meu olhar do céu para também o olhar.
— O que?
— O seu modo de pensar. É um pouco egoísta pensar que tudo depende de você — Falei e o ouvir rir, aquela era a primeira vez que o ouvia rir ou que o via mudar sua expressão. Ele tem um sorriso bonito.
— Vejo que você não entendeu. Espero que algum dia você possa me entender. Mas até lá, me diga, em que você crê?
— Não sei.
— Isso prova que você não se conhece tão bem quanto imagina. — Como isso é possível? Como eu posso não me conhecer? — Quando foi a última vez que você fez algo por você. Algo que você quis sem se importar com os outros, com o que eles pensariam de você?
— Como o que?
— Sei lá. Pintar o cabelo com uma cor extravagante, furar as orelhas, fazer tatuagens, dirigir a uma moto acima do limite de velocidade apenas para sentir o vento batendo em seu cabelo ou pular de um lugar alto direto na água.
— Essas coisas não fazem meu estilo — Falei mordendo o lábio inferior, me sentindo nervoso e inseguro, me sentia tão pequeno perto dele, tão sem graça ao ouvir tais palavras dos lábios dele e sentindo que tudo aquilo ele já havia feito por pura diversão.
— Você teria medo? — Ele perguntou e eu apenas pude confirmar com a cabeça enquanto sentia minhas bochechas esquentarem de vergonha por admitir aquilo a ele — Você não deve ter medo de fazer algo só porque parece arriscado. Deixa o medo te controlar e o mesmo que não viver. Correr riscos é a sua chance de descobrir coisas novas em sua vida que podem mudar para sempre.
Cada palavra que ele pronunciava era como um feitiço que tomava conta do meu corpo, sua fala era hipnotizante e me fazia desejar conhecer o desconhecido ao lado dele. Vi que ele estava se acercando e senti como meu coração batia mais forte e eu começava a sentir um calor que eu nunca havia sentido antes em minha vida.
Fechei os olhos.
Mas nada aconteceu.
Quando abri meus olhos vi Yoongi parado a poucos centímetros de mim.
— Está pronto para correr riscos? — Ele perguntou e eu afirmei com a cabeça, me sentindo confiante, me sentindo seguro por estar junto dele. — Então vamos.
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Devilish [TaeYoonKook]
FanfictionJungkook acaba de ser transferido para um colégio de artes em Daegu e se encontra em perigo ao se envolver e conhecer a história de seus alunos - principalmente a história do artista encrenqueiro e a do misterioso pianista. [Disponibilidade também n...