CLANDESTINO (2/2)

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TAEHYUNG P.O.V

Por que você me ajudou? — A voz dele soava em minha memória e um grunhido saiu da minha garganta. Fechei os olhos, parando de encarar sua imagem desenhada no meu caderno.

Aquela noite em que o ajudei e cuidei de seus ferimentos não parava de se repetir em minha cabeça. Eu não conseguia parar de ouvir sua voz, de lembrar de seu toque quando trocamos um aperto de mão, logo que nos apresentamos.

Por que você me ajudou? — Quanto mais aquela pergunta soava em minha cabeça, menos eu conseguia formular uma resposta. Inicialmente eu pensei que o havia ajudado por não estar de acordo com a atitude de Jin, mas, agora, não consigo parar de pensar que essa é só a ponta do iceberg, mas o que há mais?

O fim de semana passou e mais uma semana começou. Cheguei no colégio ouvindo minha mãe reclamar sobre alguma coisa, mas minha atenção era nula.

Ela não era bem a minha mãe, ela é minha madrasta. Minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos e meu pai não demorou em arrumar outra, e como eu era pequeno, Kim EunAh havia me criado, nunca me tratou mal e sempre tentava fazer as coisas para me agradar. Eu nem mesmo me lembrava o nome ou o rosto da minha verdadeira mãe, já que meu pai jogou tudo fora depois de sua morte. Desde então papai se transformou em um outro homem, bebia sem parae e havia sido demitido, mal parava em casa e quando o fazia era agressivo comigo por "ser muito parecido com ela" e também em sua mulher por tentar me proteger.

Ele era o vagabundo do bairro, todos os vizinhos o conheciam, ou melhor, seus gritos quando chegava do bar, ele sempre chegava bem tarde e desaparecia em algum momento em que estávamos fora. Ele nem se dignava em tentar se manter sóbrio para arranjar um emprego, deixando tudo nos ombros de EunAh que trabalhava na secretaria do meu colégio (era só por seu trabalho que eu estudava no YHDHS), o salário não era grande coisa e por isso viviamos constantemente sem luz e telefone, por serem cortados.

Ela se despediu antes de entrarmos no terreno do colégio e eu permaneci parado em frente ao portão esperando por Hoseok, que estava do outro lado da rua esperando o sinal fechar e quando o fez logo começou a tagarelar do meu lado sobre uma confusão que aconteceu no domingo entre Chanyeol e o garoto baixinho assustador que tem no nosso grupo.

— Por que você não apareceu no domingo? — Ele perguntou quando finalmente terminou de relatar o que presenciou. Já estavamos dentre do colégio, caminhando na direção dos nossos armários que, vale destacar, eram vizinhos — Jin ficou putasso por você não atender as ligações ou responder as mensagens.

— Ele tem que aprender que o mundo não gira em torno dele, não é como se eu fosse largar tudo apenas para fazer o que ele quer — Falei colocando o código do cadeado para logo abrir e pegar o que precisava.

— Não o deixe ouvir isso, ou estará em grandes apuros — Ele falou soltando uma risada, talvez achando que eu estava brincando, mas não estava. — Afinal, o que você ficou fazendo o fim de semana inteiro? — Ele perguntou fechando o armário e se apoiando na porta. Revirei os olhos, fecahando a porta.

"Como foi que eu acabei com um amigo tão curioso?" Quer dizer, eu acho que posso chamá-lo assim, afinal, eu passo a maior parte do tempo com ele e ele é o que eu menos desgosto do grupo.

— Eu...

"...passei a semana inteira desenhando a Borboleta." Eu poderia ser sincero, poderia ter contado a verdade, poderia arriscar dizer a Hoseok o que eu fiz aquele fim de semana, poderia contar que eu não conseguia parar de pensar no garoto palido que apanhava todos os dias... Mas não fiz isso.

— Eu... — Tentei dizer de novo, mas parei logo que o vi cruzar o corredor em direção as salas, ele parecia apressado, a cabeça baixa e a mão segurando com firmeza o pulso — Espera, eu tenho que fazer uma coisa, nos vemos depois! — Falei correndo na direção que ele seguiu. Me impressionei por ele ser tão rápido apesar das pernas curtas, pois ele já havia desaparecido quando virei no corredor.

Devilish [TaeYoonKook]Onde histórias criam vida. Descubra agora