RANCOR

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YOONGI P.O.V

O ser humano é uma criatura esquisita, nos vários sentidos desta palavra. Muitas vezes tomam atitudes inexplicáveis, estranhas. Dizem que o homem é o ser vivo mais adaptável e, de acordo com Darwin, sobrevive aquele que se adapta melhor, mas nem sempre é isso o que parece.

Parando um instante para observar o comportamento das pessoas, percebemos que muitas vezes os humanos agem como animais irracionais — tais como os cães em certas atitudes — e, as vezes, até pior. Pois falamos e desrespeitamos o próximo com ofensas e xingamentos, invadimos seu espaço e sua privacidade, e não nos importamos com o resultado de nossas atitudes. Novas palavras são criadas apenas para ser uma nova forma de xingar, ofender debochar e fazer apologias a coisas vulgares.

Não acho que estamos evoluindo com a mentalidade que temos agora, por não enxergar que somos todos iguais mesmo com todas as diferenças. Acho que é deste modo que se originam os conflitos.

(...)

Um novo ano letivo havia dado início. Novos rostos surgiam a cada instante pela porta com os rostos dos novatos brilhando com a emoção da idade, ou melhor, da curiosidade. Um contraste bem diferente dos veteranos, aqueles que logo se formariam.

Mesmo que fosse só o primeiro dia de aula, muitos ali já sentiam a pressão do que significava estar no ultimo ano do ensino médio. Era o ultimo ano em que viveriam, muitas vezes, sem preocupação, pois logo teriam que viver sozinhos e pagar suas contas sem o auxilio dos pais e ainda tinha a faculdade. Alguns ali tinham planos para o futuro já formados, alguns a serem realizados em curto prazo e outros a longo. Outros, sem ter muita escolha, seguiriam as profissões de seus pais e continuariam o legado da família. O mais difícil estava para aqueles que precisavam de alguma bolsa por não conseguir se garantir com o exame nacional, que caso nenhum olheiro os visse em atuação, talvez não conseguissem pagar suas faculdades e ficariam na margem da sociedade com um trabalho mal remunerado.

No momento, eu não tinha nenhuma destas preocupações. Eu estava no segundo ano, ou seja, só tinha de me preocupar com a unica coisa e era sobreviver a mais um ano e passar para o ultimo. Algo que eu não esperava ser tão difícil.

Mas se tornou.

(...)

Quando Jiyong e seu grupo se formaram, muitos respiraram aliviados por não ter de sofrerem nas mãos deles, mas parecia que nem tudo seria tão simples e fácil esse ano como imaginavam.

Fiquei sem ver Seokjin durante os meses das férias e logo que ele entrou pelos portões do colégio notei sua mudança, o garoto timido e frágil havia desaparecido, dando lugar a um adolescente alto e orgulhoso, que não parecia temer a nada e nem ninguém. Namjoon, o garoto que revelou ser seu namorado e quem apanhava junto dele ano passado — eles haviam virado vítimas de Jiyong justamente por isto —, havia se tornado um cara frio e sádico que pegava toda e qualquer oportunidade para destratar os outros e humilhá-los.

Em menos de uma semana, doze garotos haviam se "admirado" com o comportamento da dupla e passaram a apoiá-los, na verdade, parecia que os doze eram os que faziam o trabalho sujo na maioria dos casos, e os dois eram apenas seus líderes.

Os ultimos a se juntarem ao seu grupo de seguidores foram Hoseok e Taehyung, o primeiro era um dos melhores alunos de nossa turma e surpreendeu a todos quando humilhou um garoto magrelo do primeiro ano no meio do refeitório; já o outro era um garoto do primeiro ano, o unico que estava em seu grupo e era de uma turma inferior. Taehyung era praticamente imune aos castigos já que ele era filho de uma funcionária do colégio e por isso, mesmo que ele ficasse na detenção nada além disso ocorria.

Taehyung, mesmo que mal tenha entrado no colégio, tinha altas críticas a dar e por isso ao invés de ficar correndo atrás dos outros alunos preferia depredar o patrimônio da escola, seja fazendo pichações ou literalmente quebrando tudo com um taco de baseball que ele deixava em seu armário.

Jin havia criado um esquema, bem mais organizado que Jiyong fazia no ano passado, havia criado a "Borboleta", um nome bobo em comparação ao seu significado, afinal, não era nada mais que um "frágil inseto". Ele dava esse titulo a todos que entravam no seu caminho ou desaprovava o seu comportamento e de seu grupo e, principalmente, a aqueles que não se encaixavam em seu padrão.

— Merda — Falei quando choquei de frente com alguém quando virei no corredor, derrubando as partituras que eu estava trabalhando nas ultimas duas semanas. Me abaixei rapidamente para pegar as folhas e enquanto pegava, meus olhos pousaram em sapatos de marca que pareciam ter acabado de sair da loja de tão limpos. Engoli em seco e me ergui, com as folhas em mãos. Ergui a cabeça e encarei Jin que me olhava com seriedade, a mandíbula trincada, parecia irritado e eu já imaginava o que sairia daquilo tudo.

— Você. Eu estava esperando o momento para te encontrar, mas acho que foi você que me encontrou — Jin falou um sorriso debochado surgiu em seus lábios e ele se virou para Namjoon — Namjoon, querido, você sabia que o Yoongi um dia nos viu apanhando e não fez absolutamente nada? — Meus olhos foram para Namjoon que estava um passo atrás de Jin, a sua direita. A expressão neutra de Namjoon logo se converteu, seus olhos se tornaram assassinos e por um instante temi o que fariam comigo — Acho que ele venderia seus próprios pais em troca de sua segurança.

— Não passa de um covarde — Namjoon falou.

— O que é isso? — Seokjin pareceu reparar nas folhas que estavam em minhas mãos e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ele as tomou a força de minhas mãos. Sua expressão divertida logo foi substituída por uma expressão de repulsa, ele me olhou com puro ódio por uns instantes e logo um sorriso surgiu em seus lábios — Pelo que tem aqui, acho que não é tão importante assim, certo? — Eu não respondi, sabia que ele não se importava com o que eu fosse dizer e mesmo que falasse, não mudaria seus pensamentos. Ele me lançou mais um olhar mortal e logo rasgou minhas folhas, dividindo em dois, em quatro, em muitos pedaços antes de jogar contra mim o que restou do meu trabalho — Vamos — Jin falou para Namjoon logo depois de dar um sorriso, parecendo satisfeito de ter arruinado com o meu trabalho.

— Dêem um fim nele — Namjoon falou para o grupo que estava atrás do casal antes de partirem dali.

Antes que eu pudesse me mover ou falar qualquer coisa, senti como me agarravam pelos braços e logo sentia um soco sendo dado na boca do meu estômago, que me fez perder o ar. Mais um soco. E outro.

Minha visão estava borrada e eu mal conseguia respirar.

Quando me soltaram os braços, cai contra o piso do corredor, senti alguem dar um chute na lateral do meu tronco e senti algo se partindo dentro de mim, e eu senti o liquido ferroso em minha boca.

Forcei meus olhos a se abrirem, minha visão estava desfocada, mas fui capaz de ver alguém se afastando, alguém com cabelos lilases.

Kim Taehyung...

C O N T I N U A...

Devilish [TaeYoonKook]Onde histórias criam vida. Descubra agora