Foi na hora da saída, passávamos pela rua lateral do colégio e Jimin tagarelava sem parar sobre como ele estava feliz por poder vir morar e estudar comigo que levamos um susto quando os galhos de uma macieira que fica dentro do terreno do colégio começaram a balançar como se houvesse algo ou alguém ali entre seus ramos. Jimin, por medo, havia colado ao meu lado, me prendendo com seu braço. Desde criança, ele sempre fora nervoso e caia em todas as pegadinhas que faziam. Ele gritava bem alto, para qualquer susto que levava e dessa vez não foi diferente.
O galho balançou mais e eu estava convicto de que havia alguém ali.
De repente alguém pulou da árvore ao chão, de pé a nossa frente como se de um gato se tratasse. Mas era Kim Taehyung. O maior encrenqueiro do colégio, que havia me salvado duas vezes, que sabe reproduzir obras primas da arte nos mais remotos lugares. Ele parecia gostar de chamar a atenção das pessoas para si ao mesmo tempo em que parecia não se importar com nada.
Seu olhar era como o de um tigre, belo mas feroz. Sorriu com malícia e sua face irradiava rebeldia e domínio.
Eu havia ouvido boatos sobre ele, que seu pai er um bêbado desempregado, a mãe sustentva a casa e apanhava do marido, que a irmã mais nova estava num colégio interno que mal conseguiam pagar e que Taehyung só estudava ali porque sua mão era a secretária. Também diziam que ele tinha ficha na policia por pichação, por ser pego cometendo atos de protestos e depredação do patrimônio público. Alguns diziam que ele nunca foi uma Borboleta, que por um tempo atuou no grupo de Jin, mas que agora todos o temiam pois mesmo que não andasse mas com eles continuava a intimidar a todos apenas por sua presença.
Vi aquele brilho de curiosidade surgir nos olhos de Jimin e isso não me agradou em nada, sua presença só estava tornando as coisas mais complicadas para mim. O que ele esperava de nós? Por que sorria daquele jeito?
— Vocês não vão contar a ninguém, vão? — Taehyung perguntou de forma inquisidora. A aura confiante que surgia de sua figura não se abalava nem por um momento, como se não temesse as consequencias caso o dedurássemos. Negamos com a cabeça em silêncio, ele não precisava que prometêssemos com palavras. Seu sorriso se alargou e ele fez um aceno com a mão, nos incentivando a seguí-lo. Mesmo que não parecesse uma ordem, obedecemos sem pensar duas vezes, era como se ele fosse um líder nato e nós apenas meros seguidores.
Taehyung traçou um caminho remoto que eu não conhecia o destino, nunca havia saído do meu curso escola-casa e casa-escola, a não ser aquela vez com Yoongi, mas não era como se eu lembrasse o caminho ou que Taehyung estivesse nos levando para o mesmo lugar.
A cada nova rua que cruzávamos, mas pensava que o melhor seria dar meia volta e ir embora o mais rápido possível. Parecia que dois mundos se fundiam ali, a escola fazia parte do mundo de luz, mundo que Jimin e eu estávamos acostumados, já Taehyung era acostumado com as trevas e se mantinha impassível com a remota aparência do lugar, com pedintes e usuários de alguma substância viciante.
As pessoas usavam roupas sujas e rasgadas, não como aquelas rasgadas que se compra daquele jeito, mas puído de tanto uso, seus cabelos eram maltratados, as unhas negras — isso quando eles tinham unhas —, os olhos vermelhos pelo excesso de drogas, fediam muito e feridas surgiam e suas peles que eu não parava de vê-los coçar. Perto de onde elas estavam espalhadas pelo chão por onde passávamos podia ver garrafas aqui e acolá cheias de um líquido amarelo que eu já imaginava do que seria, eles nem deviam usar sempre as garrafas pelo cheiro de latrina que me fazia enrugar o nariz e o meu estômago se revirar querendo colocar o almoço para fora. Nem conseguia imaginar que tipo de doença eles deviam ter ou quais eu poderia pegar por apenas respirar o mesmo ar que eles.
Eu só queria que Taehyung nos tirasse logo dali.
Uma grande construção do que parecia ter sido uma loja de roupas que há muito havia sido saqueada com os vidros das vitrines quebradas e o que sobrou de araras de roupas no chão sujo ocupava a esquina que Taehyung virou. Cada vez mais submergíamos nas trevas, no desconhecido. A rua de paralelepípedos estava gasta, alguns se desprendiam do chão e outros estavam partidos, ervas daninha surgiam por suas divisões sem controle algum. Taehyung andou até o fim da rua onde os paralelipípedos se tornavam um chão de areia batida, olhei para meus sapatos novos por um instante, eles se sujariam e eu não saberia que explicação dar a minha mãe. Quando ergui a cabeça, vi que Jimin e Taehyung já se afastavam sem nem se importar de que eu havia ficado para trás, por isso corri atrás deles.
Taehyung nos levou para um rio e foi o primeiro a se sentar uma das grossas raízes que prendiam uma enorme macieira em sua margem. Alguns metros da macieira uma ponte cuja construção não havia sido terminada era o abrigo de um cão de pelos amarelos sujos que estavam embolados por não receber cuidado. Jimin se sentou ao lado dele e eu permaneci de pé, querendo voltar logo para casa.
— Tenho certeza que vocês mauricinhos com suas vidas tediantes nunca imaginaram vir para um lugar assim, verdade? — Taehyung perguntou se recostando contra o tronco da árvore. — Mas se não conhecer tudo o que há ao seu redor, provar de coisas que jamais imaginou, como vai saber se é algo que te atrai ou não. Não estou dizendo que vocês devem viver por um dia como pedintes, mas conhecer o mundo em que vive, os lugares, as pessoas é o que vai fazer a diferença quando você olhar para trás.
C O N T I N U A...
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Devilish [TaeYoonKook]
FanfictionJungkook acaba de ser transferido para um colégio de artes em Daegu e se encontra em perigo ao se envolver e conhecer a história de seus alunos - principalmente a história do artista encrenqueiro e a do misterioso pianista. [Disponibilidade também n...