— Por que não foi a escola esses dois dias? O que aconteceu com você? Você está mais palido. Parece doente. Imaginei que estivesse doente ou algo assim, por isso eu trouxe isso aqui para você — Uma marmita envolvida em um pano branco de bolinhas azuis foi erguida diante de seus olhos, ainda estava quente, dava para sentir ainda que distante.
Jungkook havia se surpreendido quando viu Yoongi parado na sua porta da frente. Ele não sabia como o outro sabia qual era o numero de seu apartamento, se havia advinhado ou se havia perguntado a alguém. Mas, definitivamente, ele estava impressionado por Yoongi ter estado preocupado o bastante para ir procurá-lo.
Jungkook abaixou a cabeça, sem saber como responder.
Era verdade, ele estava doente, mas nada tão grave. Apenas um resfriado que o havia deixado indisposto e causado uma febre insistente que ia e vinha, uma tosse irritante, espirros, um nariz escorrendo e olhos que ocasionalmente lacrimejavam. Tudo culpa da chuva que pegou por ficar aquele dia naquele parque, sozinho e chorando.
O resfriado não era nada em comparação a dor que sentia em seu peito.
A dor de ser abandonado.
Naquele dia, ao chegar em casa, Jungkook se surpreendeu ao ver o lugar vazio. Não havia sinal algum de Jimin e isso o deixou completamente desnorteado. Ele ligou para sua mãe, para falar que Jimin havia sumido, já que ela estava trabalhando apenas para levar um esporro por ter atrapalhado ela no meio do serviço. Meia hora depois, ela ligou de volta, dizendo que Jimin havia retornado a Busan e quando perguntou a Jungkook o que havia acontecido, o filho havia começado a chorar por sentir culpa e logo cortou a ligação.
— Vai me deixar entrar? Seria descortez de sua parte não me deixar passar. E eu não vou embora até você me deixar cuidar de você — Yoongi falou e Jungkook deu um passo para o lado, deixando que Yoongi passasse, mas em nenhum momento o olhou. Ele estava de cabeça baixa desde que começara a recordar o motivo de sua dor e tentava conter as lágrimas.
Jungkook fechou a porta e Yoongi o mandou ir para seu quarto. Jungkook imaginou que os apartamenrtos eram iguais, pois logo ouviu o barulho de Yoongi na cozinha, que andava como se conhecesse o lugar. Jeon deixou sua porta aberta e foi para sua cama, ficando sentado no colchão, mas cobrindo suas pernas com seu cobertor do Iron Man, ele simplesmente não sabia o que devia fazer com Yoongi ali, senão esperar por ele.
Depois de uns curtos minutos, Yoongi entrou no quarto de Jungkook com uma travessa no lugar da marmita que trouxera. Havia um prato de sopa e uma pequena vasilha com frutas cortadas. Jeon ainda estava desconcertado pela presença do outro ali mas, apesar do nervosismo, conseguiu dizer obrigado quando o mais velho colocou a bandeja na mesa de cabeceira e se sentou na beira da cama, perto de Jeon, porem não lhe chegava a tocar. Para sua surpresa, Min pegou a sopa e encheu uma colher, antes de soprar um pouco para esfriar e esticar na direção de Kook que arregalou os olhos.
— Abra a boca — Yoongi falou e Jungkook a abriu devagar. Suas bochechas, que já estavam rosadas pela febre apenas se intensificaram, mas Yoongi não demonstrou qualquer reação, apenas voltou a encher a colher para lhe dar mais. Jungkook não poderia estar mais envergonhado. Ninguém o tratava assim. Nem mesmo sua mãe o mimava mais desta forma. Ele nem se lembrava da ultima vez que sua mãe fez sopa para ele quando estava doente. — Sabe, quando nos tornamos intimos a uma pessoa damos, de certa forma, poder a ela sobre nós mesmos. Ela pode te deixar felez e também pode te machucar, mentir, fazer chorar. A pessoa, se ela tiver manha, pode nos moldar para se tornar mais parecida a ela, fazer seus gostos coincidirem te influenciar sem que você perceba. Mas ela principalmente tem o poder de te destruir. Mas só se faz odiar aquilo que faz parte de nós mesmos — Yoongi ainda servia a Jungkook enquanto prosseguia seu monólogo. Logo que entrara no quarto ele havia comprovado que seu pensamento a respeitro dos dois melhores amigos que haviam desaparecido da escola nesses dias podia estar correto. Algo havia ocorrido entre eles, algo tão repentino e grave que havia feito o outro desaparecer. Jimin já não estava ali, não havia nenhum traço de Park, todas suas coisas haviam desaparecido do quarto de Jeon, o que significava que não ouviria mais a risada de Park do seu apartamento de tão alto que o baixinho ria. — Algumas pessoas rentam aliviar a dor do outro dizendo "não foi culpa sua", que culpado teria proporcionado a nossa desgraça, a nulidade e o esvaziamento de nossas vidas, o responsável de todas as tristezas, senão nós mesmos? — Yoongi perguntou, mas não esperava respostas. Jungkook também não parecia capaz de responder.
A sopa por um momento foi esquecida.
Jungkook havia começado a chorar. Ele olhou para Yoongi, que já o olhava e apenas chorou mais, levando as mãos ao rosto. Se sentindo culpado por ter perdido sua amizade com Jimin. Envergonhado por chorar diante de Yoongi. Ele não compreendia porque sua vida era tão errada, porque a cada passo que ele dava na direção que ele achava certa se contorcia e se mostrava tão errada. Como o destino brincava com sua vida apenas para tornar sua vida um desastre ainda maior. É tão facil culpar o destino. Mas o que é o destino senão nós mesmos e as decisões que tomamos?
Jungkook mordeu seu dedo indicador ao reprimir sua vontade de gritar.
Foi neste momento que Yoongi se aproximou dele, finalmente lhe tocando, lhe envolvendo com os braços num calido abraço. O corpo de Yoongi estava tão quente em contraste com o seu que Jungkook não conseguiu fazer outra coisa senão se aproximar mais, seduzido pelo calor proporcionado pelo refugio de seus braços. Mas estar nos braços de Yoongi não diminuiu seu choro, ao contrário, parecia que apenas havia aumentado, como se saber que Yoongi não o estava abandonando houvesse lhe causado tamanho alivio que liberou tudo o que ainda estava guardado dentro de si.
Seu choro era incontrolável. De repente a tosse de seu resfriado o atingiu e Jungkook se sentiu mais miserável. Yoongi afagou suas costas enquanto Jungkook segurava com força no tecido de sua camisa, o rosto virado para o lado pelo tempo em que sua tosse persistia.
Quando a tosse passou, o choro também havia cessado. Yoongi, percebendo, parou de fazer carinho em suas costas e com sua outra mão tocou no rosto de Jungkook, seu queixo, fazendo o mais novo levantar a cabeça. Seu rosto estava manchado de lágrimas. Seus olhos, nariz e lábios mais avermelhados do que devia por conta do choro e do resfriado. Ninguém falou nada, apenas sustentaram o olhar no outro. Com o polegar, Yoongi secou as lágrimas do garoto que fechou os olhos sentindo o toque do outro. Yoongi sorriu discretamente, e se aproveitando do outro com seus olhos fechados, traçou as linhas de seu rosto, e como um gato, Jungkook parecia se aproximar mais, como se quisesse mais de seu toque.
Quando Yoongi parou de desenhar o rosto de Jungkook, nenhum dos dois se afastou, ao contrário. Jungkook apenas se aconchegou mais nos braços de Yoongi que voltou a fazer carinho em suas costas e agora também em seus cabelos. Com seu rosto na curva do pescoço de Min, ele sentiu o cheiro que desprendia da pele do outro e não poderia sentir nada além de uma até então desconhecida paz.
— Sabe Jungkook, a cada chamado da vida, o coração deve estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem lamúrias. Aberto sempre para novos compromissos. Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver. Espero que esteja pronto para recomeçar.
C O N T I N U A...
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Devilish [TaeYoonKook]
FanficJungkook acaba de ser transferido para um colégio de artes em Daegu e se encontra em perigo ao se envolver e conhecer a história de seus alunos - principalmente a história do artista encrenqueiro e a do misterioso pianista. [Disponibilidade também n...