Hoje era para ser mais um dia normal de fevereiro, no qual eu não teria hora para acordar, não teria compromissos e nem nada de importante para fazer durante todo o dia, seria apenas eu e os meus pensamentos. Mais como eu disse antes "era para ser mais um dia normal", o que definitivamente não era isso para mim.
Lá estava eu, ás seis horas da manhã sentada em um banco da rodoviária em pleno domingo, esperando o momento em que me despedirei de meus pais.
- Filha! Por favor, tente não tornar isso mais difícil do que já é. - Disse o meu pai Ricardo, sentado ao me lado.
- Quando você diz para eu não tornar isso mais difícil, você tá falando pra mim ou só pra você? Porque eu juro que não entendi. - Eu disse, olhando para os seus olhos castanhos desafiadores.
Eu não sabia se ele estava querendo dizer que aquele momento era difícil pra ele ou para mim. Ele não me respondeu com palavras, apenas lançou-me um olhar do tipo "eu não quero brigar com você de novo". Entendi de imediato e logo me levantei do banco em que estava sentada apenas a dez minutos, que mais pareciam três longas horas.
- Já volto, vou ao banheiro rapidinho. - Eu falei, pondo minha mão esquerda em seus ombros
- Tudo bem Manuela, mais não demora. Seu ônibus já vai encostar. - Ele retrucou, enquanto eu me levantava.
Eu pensei em responder com uma ironia do tipo " qual a parte do rapidinho você não entendeu?", ou então, " olha não precisa me apressar não tá, eu sei muito bem o horário que ele vai encostar. E você também podia disfarçar essa sua vontade de me despachar pra outra cidade pelo menos né papai", mais resolvi ficar quieta, e saí andando como se não tivesse ouvido o que ele falou.
Ao andar pela rodoviária em busca de um santo banheiro que eu nunca encontrava, pude perceber o estado em que se encontrava: paredes brancas, porém sujas e descascadas, o chão mais parecia um terreno baldio de tanto lixo que tinha, e onde estava limpo, ou tinha um sem-teto dormindo ou era onde ficavam as mesas e cadeiras das lanchonetes que ali tinham.
Já estava quase desistindo de ir ao banheiro quando avistei em uma das colunas pintadas de azul, uma pequena placa que informava " banheiro á esquerda". E lá fui eu para a esquerda quando de repente, senti um odor (sabe aquele cheiro de coisa estragada? Então, adiciona aí mais uns cinco anos disso estragando) vindo em minha direção. Foi quando percebi que os banheiros estavam bem na minha frente - e que os banheiros masculinos são um horror.
Ao entrar no banheiro feminino - dei graças a Deus, por ele não ser fedido - me deparei com um imenso e lindo espelho em minha frente. E o vendo ali naquela parede de banheiro de uma rodoviária, notei que a minha tia Sandra estava certa quando ela diz que um bom e bonito espelho fazia toda a diferença em um banheiro. O espelho de formato retangular grande e que tinha duas luminárias em volta dele deu uma profundidade que aumentou e iluminou todo o ambiente que tinha um estilo meio atemporal, voltado para o clássico e com revestimentos em porcelanato de tons neutros.
Foi nesse espelho que pude ver o estado deplorável em que eu me encontrava: olheiras profundas, o cabelo todo desgrenhado, parecendo que eu tinha feito uma escova ontem, e que hoje ele tinha pego uma chuvinha. Sim! Ele estava nesse estado, porém eu não tinha feito nada nele (exatamente nada, nem penteá-lo eu o penteei) hoje. Mais ao me ver daquele jeito eu me senti tão mal que resolvi me arrumar um pouquinho mais, então fui até a bancada e coloquei a minha bolsa encima, e dela tirei uma escova de cabelo. Comecei a desembaraçar meus longos cabelos castanhos. Logo após penteá-lo, lembrei de minhas enormes e profundas olheiras e resolvi passar um corretivo nelas. Quem sabe assim melhora o aspecto da pessoa aqui?!
Ao terminar de me ajeitar, voltei correndo para a área de embarque dos ônibus, onde havia deixado meus pais e meu irmão enquanto ia voando ao banheiro.
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O Outono Que Mudou Minha Vida
JugendliteraturNo seu 16° outono, Manuela - ou Manu como gosta de ser chamada - passou por um trauma que ainda não foi superado totalmente, em parte pela falta de atenção e sensibilidade de seu pai advogado/autoritário, e outra parte por não conseguir se livrar da...