Capítulo 25

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Eu estava no meu quarto, deitada na minha cama e olhando pra porta aberta da pequena varanda do meu quarto, pensando em como a noite anterior tinha acabado terrivelmente. Um vento forte que balançou a porta e que fez um barulho ao bater no quadro – o mesmo que meu pai tentara leiloar semanas atrás – que meu irmão felizmente tinha posto na minha mala quando a pegou com o Dante, na minha última noite em Campos, fez com que eu decidisse me levantar da cama, para fechar a porta na trinca.

Quando meus pés descalços tocaram o chão frio do quarto, eu estremeci. Mas, ao levantar a cabeça, eu fiquei mais gelada que o piso. O vento que vinha do lado de fora me encorajou a caminhar depressa para fechar a porta, antes que outra rajada de ar entrasse. E depois de ajeitar o quadro na parede, caminhei até a minha cama novamente, na expectativa de voltar a dormir, talvez até entrar em um sono profundo, como fez uma das princesas da Disney. Ao me sentar na cama ouvi vozes do outro lado da porta, na hora nem liguei – deveria ser apenas minha prima assistindo Gossip Girl. Quase meia-hora depois, sem ter conseguido pregar os olhos por mais de um minuto, decidi me levantar de vez. Nos quatro passos que levei para chegar até a porta, deu tempo o suficiente para coçar os olhos com o dedo, bocejar levando os dedos da outra mão á boca e ainda reparar que meu cabelo estava completamente oleoso e meu pijama, estrondosamente amassado. Abrindo a porta, pude concluir que estava errada ao pensar que a Nah estava assistindo Gossip Girl. As vozes que eu tinha escutado não era à da minha prima "conversando" com a televisão. E sim, com o Rafael – que eu poderia jurar que era a voz do Nate Archibald. Os dois, que estavam no cômodo da sala, pararam de conversar e passaram a me olhar. Ainda com a cara de susto, notei que minha prima bateu na própria testa e Rafael tentava disfarçar a cara de quem tinha sido enganado.

– Ai... Jesus! – Tentei falar algo, mas minha voz saiu tremendamente rouca pelo fato de eu ter o encontrado no meu sofá.

– Que droga! – Minha prima murmurou. – Manuela, seu namorado quer muito falar com você, acho que ele quer pedir desculpas pelo feito de ontem.

"Mil vezes, que droga!", pensei.

– Tudo bem. – Respondi, suspirando de maneira séria enquanto abria um pouco mais a porta, como um sinal de que ele viesse para o meu quarto.

Já sentada na minha cama e com ele ao meu lado, minha atenção foi voltada para a paisagem do lado de fora do prédio, onde o vento devia estar correndo em uma velocidade enorme. Mesmo sem não o ter batendo em meu rosto eu apreciava aquela sensação de olhos fechados. O barulho da televisão na sala, agora ligada, não ofuscava o canto dos pássaros, que eu sabia que voavam livremente pelos céus, migrando para encontrar um novo lar. Ao abrir os olhos, pude ver pelo vidro da porta, todo aquele conjunto de enormes prédios vizinhos. E imaginar a vida de cada pessoa que neles moravam me deixava extasiada e...

– Vai ficar assim pra sempre? – Rafael interrompeu meu discurso mental.

– Acho que tenho esse direito, não é? – Perguntei, virando meu rosto para encará-lo, que tocava no meu travesseiro de dormir.

– Na verdade, não. Você ontem deixou bem claro no estacionamento o que pensava de mim! – Ele apertou o travesseiro com um pouco mais de força.

– Claro, você praticamente espancou seu próprio irmão! Qual esperou que fosse minha reação? E não se esqueça de que foi você quem me largou, sozinha, naquele estacionamento deserto!

– Eu sei e te peço desculpa por tudo isso! Eu não devia ter feito o que eu fiz. Foi inconsequente e irracional. Olha minha linda, eu não quero ficar brigado com você, ainda mais com a proximidade do seu aniversário. Então você pode por favor, perdoar esse cara que é louco por você e que só tava tentando te defender?

O Outono Que Mudou Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora