Capítulo 19

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Era incrível como minha vida tinha mudado da água pro vinho. Eu tinha cedido aos encantos do Rafael, tinha me adaptado a minha nova cidade e tinha me tornado uma modelo. Tudo estava caminhando nos trilhos certos. Eu não tinha mais medo do dia que viria após o outro.

Esse era o meu pensamento até agora...

Eu tinha inventado de fazer um bolo para comemorar todo o dinheiro que havia sido arrecado para as crianças carentes na noite anterior quando meu irmão apareceu na cozinha com a cara toda amassada de sono. Ele olhou rapidamente pra mim – que tirava da tomada a batedeira –, mas não me deu muita atenção já que pra ele um sorriso bastava. Eu não gostei da ideia de tê-lo acordado, mas se fosse em outras circunstâncias na qual eu não estivesse fazendo um bolo surpresa, eu iria amar ter o acordado daquele jeito.

– Eu te acordei? – Perguntei, rapidamente.

Ele se encostou na parede, coçou seus olhos e respondeu que não, que já estava acordado antes de eu ligar a "metralhadora". Seus olhos estavam quase fechados por conta da luz que entrava pela porta aberta da cozinha.

Percebendo que ele não ia falar mais nada, me arrisquei a perguntar-lhe o porquê de ter acordado antes das duas da tarde.

– Eu e uns amigos iremos dar um rolê! – Explicou-se. – E não, você não vai junto.

– Eu não disse nada! – Mais se bem que eu iria pedir pra ir.

Lucas olhou para mim com um sorrisinho nos lábios, enquanto eu o fitava com os olhos.

– Olha, você viu aquela forma que a tia Sandra usava pra fazer bolo quando ela vinha aqui? – Perguntei. Eu já estava desde cedo á procurando e nada dela aparecer.

– Sei não! Muito tempo que nossa mãe não faz... peraí, acho que ela deve ter guardado no sótão junto com as outras coisas, depois que você se mudou. Tá cheio de tralha lá em cima!

O olhei por mais alguns segundos. Meu irmão tinha se tornado um homem lindo, mas continuara sendo gente boa. Eu tinha muito orgulho de tê-lo como irmão.

Abri uma gaveta do armário da cozinha e puxei uma toalha para cobrir a massa do bolo batida. Depois fechei a porta da cozinha e fui em direção a escada. Enquanto á subia, ouvi a porta da frente da sala ser fechada, deduzi que meu irmão já tinha ido se encontrar com os amigos. Continuei subindo a escada. Mas para chegar até o sótão ainda tinha uma escada de caracol que eu precisava subir. Por um momento pensei que aquele momento era a típica cena dos filmes de terror: a garota vai até o sótão sozinha, após sua última companhia que tinha na casa ter ido embora, então quando a garota (eu) entrasse no sótão, seria morta por um espírito vingativo.

Ao abrir a porta do sótão, fiquei parada na porta pensando por onde eu iria começar a procurar pela forma de bolo. Cocei a cabeça e andei até a estante central. Puxei uma caixa que no rótulo dizia cozinha. Como ela estava meio presa à prateleira superior, puxei com força, o que me fez cair pra trás, sentada no chão. Todas as coisas de dentro da caixa caíram no chão. Mas ali estava ela: a forma. Catei todas as outras coisas do chão e pus de volta na caixa. Quando fui colocá-la no seu lugar, me deparei com uma outra caixa. Sem rótulo. Mais o que tinha me chamado a atenção fora um retrato de uma garota com a blusa do Fluminense, junto com outras três pessoas ao seu lado. Forcei meus olhos e encarei a fotografia, foi aí que eu percebi que a garota era eu, e ao meu lado esquerdo estava meu ex-namorado Matheus, e do lado direito estavam seu irmão Gustavo e minha amiga Bianca. Todos vestindo a blusa grená e branco. Aquela foto era mais uma recordação do dia em que nós quatro viajamos para o Rio de Janeiro juntos. A foto havia sido batida por um outro torcedor que fez a gentileza de se voluntariar, e fora no mesmo dia que Gustavo fizera a minha pintura.

O Outono Que Mudou Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora