Desci do táxi. Por ser uma semana de carnaval não tinha muitas pessoas no cemitério. Fui o caminho inteiro lembrando da última vez que estive naquele lugar. Levei meia hora para chegar até lá, pois cemitério ficava no alto da cidade. Desci do táxi e caminhei até a entrada, onde parei e dei um longo suspiro, suspiro igual ao que dei antes de entrar para o enterro dele.
Criei coragem e entrei...
Logo na entrada havia uma pequena barraca de flores - com uma ótima aparência – com uma senhora que parecia ser muito gentil, o que me fez ir até ela.
Não foi difícil achar a sepultura do Gustavo, eu ainda lembrava onde estava. Era um túmulo bonito, coberto de azulejos azuis, perto de uma estatua de um São Francisco sorridente com um passarinho pousado em sua mão. Eu parei e observei, depois continuei andando. Aproximando-me cada vez mais daquela sepultura, me inclinei para frente e comecei a passar a mão pela foto do Gustavo.
Tentei não chorar, mais foi inevitável.
Eu estava parada bem enfrente ao seu túmulo.
– Sinto tanto a sua falta Gustavo! – Disse emocionada. – Tem sido um longo ano sem você, meu amigo. Eu vou te contar tudo sobre isso quando eu te ver novamente!
Como eu sentia falta das nossas conversas, das que eu podia contar sem ter arrependimento depois. Dos seus desabafos bem no meio da aula de educação física ou no meio do filme. Parece bobagem, mas era bom ter um espaço no sofá da sua sala. Um dia fomos grandes amigos. Os conselhos que ele me dava me levou para tantos lugares.
– A gente percorreu um longo caminho desde que nos conhecemos. Caramba, quem diria que depois de todas aquelas festas que fomos e as coisas boas que passamos eu estaria bem aqui falando com você. Que trilhou um outro caminho, para longe de mim! – Eu queria apenas falar...conversar com ele, mesmo que ele não pudesse ouvir. Eu precisava desabafar!
Nós dois adorávamos pegar a estrada e rir. Mas alguma coisa me dizia que isso não iria durar. Eu tinha me apaixonado perdidamente pelo irmão dele, que era um cara que sabia sempre o que dizer. O começo de tudo foi quando, eu e você saímos de nossos caminhos. As vibrações foram ficando fortes, o que era pequeno se transformou em uma amizade que virou uma ligação que nunca seria quebrada e que nem o amor iria acabar. Então acabamos virando irmãos antes que essa linha fosse cruzada. E quando eu fui ver já era tarde! A nossa amizade tinha crescido em um labirinto sem saída.
– Depois que você se foi eu mudei: tinha que olhar as coisas de um jeito diferente, ver o tamanho de tudo isso, de todos aqueles dias de cumplicidade que estão pra sempre pagos. Agora vejo você em um lugar melhor. – O tempo na minha cidade estava mudando, começava a ventar forte, o que fez com que as flores que estavam no túmulo fosse levadas pelo vento.
– Ainda bem que eu comprei essas flores, né? – Falei balançando-as. – Eu trouxe umas margaridas e também uns lírios que você tanto amava. Eu nunca me esqueci daqueles que você me deu. – Falei entre ás lágrimas. Se ele estiver me ouvindo com certeza iria querer me dizer que coisas da família a gente não esquece! E logo em seguida diria: "Como não podemos falar sobre família, quando a família é tudo o que nós temos?".
Por tudo o que passei ele estava lá parado, bem do meu lado, e agora, ele iria ficar comigo até o meu último passeio. Então, deixarei que as luzes me guiem para o caminho que desejar, mas sempre guardando todas as lembranças enquanto ele for minha estrela guia. E a cada estrada que ela pegar sei que sempre me levará para casa depois. Mais quando tudo fosse firmado e chegássemos a linha que teve de ser desenhada, eu sei que ele – a minha estrela guia – se lembraria de mim quando eu também for embora.
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O Outono Que Mudou Minha Vida
Novela JuvenilNo seu 16° outono, Manuela - ou Manu como gosta de ser chamada - passou por um trauma que ainda não foi superado totalmente, em parte pela falta de atenção e sensibilidade de seu pai advogado/autoritário, e outra parte por não conseguir se livrar da...