Eu sempre achei que a primeira coisa que fiz quando nasci, foi deixar a paciência no útero da minha mãe (quem quer que seja ela). Não faz sentido nenhum, eu não ter um pingo de paciência e mesmo assim querer ser escritora, ou pintora. Para tudo o que eu faço, é necessário paciência, seja para escrever uma história ou fazer um quadro.
Eu aprendi a trocar de profissão , assim como troco de roupa. Queria poder fazer a mesma coisa com garotos, se é que tinha algum interessado em mim. Se tinha, era pela metade, porque eu não sou bonita. Talvez meu rosto tenha belas feições, já que sempre ouço isso. Mas o meu corpo, nem tanto. Toda vez que olho no espelho depois do banho, eu fico me fazendo essa mesma pergunta: porque alguém gostaria de mim? e então eu respiro fundo, fecho meu roupão e me deito, tentando não pensar em tudo que aconteceu naquele dia. Em vez disso, eu sonho. Eu sonho com coisas boas, para tentar acalmar meu espírito inquieto, mas não é todo dia que eu consigo. As vezes, eu só consigo me assustar ainda mais. Quando eu era menor, costumava escapulir do meu quarto para o de May, e lá eu me sentia segura o suficiente para ter uma boa noite de sono, depois que eu cresci, nunca mais me senti assim.
Eu tenho medo de andar na rua, tenho medo de ficar sozinha em lugares desconhecidos. Mas eu adoro estar aqui sozinha, é como se fosse uma terapia onde ,ao escrever histórias sobre pessoas inspiradas em mim, eu aprendo a gostar um pouco mais de mim. Me amar mais, me enxergar como se eu fosse um ser humano. Sei que não sou um Alienígena, mas nunca me senti como um ser humano deveria. Eu me arisco fazendo coisas perigosas, na esperança de me sentir viva, mas até hoje nunca senti nada. Costumo me perguntar: se estou viva ou apenas existo?
Gosto de de não me acostumar a rotinas, ficar fora dos padrões, porém acho que isso acabou virando uma rotina sem que eu percebesse. E agora eu não quero me desfazer dela, só que provavelmente ela tentará se desfazer de mim. É o que sempre acontece, eu acho uma coisa na qual sou boa, ou então uma pessoa de quem eu goste, e me apego a isso, assim que eu faço isto, o quer que seja, me abandona. Já estou acostumada a perder coisas importantes, mas sempre algo, ou melhor alguém ,com quem eu posso contar para quase tudo. May.***
Sempre que as minhas histórias não conseguiam me animar, May conseguia. Mas o problema é que ela gostava de correr e eu não, então nós fazíamos qualquer coisa que não fosse correr. Não repare na preguiça natural do ser humano, mas eu prefiro correr de bicicleta à correr de pé, e de preferência é melhor que ela esteja parada no lugar. Odeio ter que admitir mas eu não sei nem nunca soube como andar nela. Então eu e May nos dividimos para fazer o que uma gosta de cada vez, e hoje era a vez dela.
Era difícil para mim alcançar-la, já que suas pernas eram mais longas que as minhas, mas ela diminuía o ritmo para poder me acompanhar enquanto conversavamos. Eramos quase como duas irmãs normais aproveitando seu tempo livre, se ela não fosse a única pessoa que sabia o meu segredo. Um deles, pelo menos. Ela era cuidadosa o suficiente para não tocar no assunto, e me deixar constrangida. May era exemplo de pessoa para mim, eu queria ser como ela quando crescesse.
Mas eu sabia que não poderia ser ruiva, não combinava com meu tom de pele, nem com a minha falta de paciência. Depois de correr, nós paramos em algum lugar para comer e continuamos a conversar. Dessa vez, fomos para o Tmis. É um nome estranho, mas o lugar é ótimo.
Candelabros cobrem o teto, descansadeiras e mesas de madeira de última geração capazes de produzirem o que você pedir e ainda checar a conta, de modo que o faz parecer uma praia moderna, onde não tem necessidade de nenhum garçom, apenas atendentes caso alguma máquina não funcione. Pedimos um suco cada uma, eu pedi morango e May, limão. Até a bebida era bem enfeitada com guarda chuvas coloridos, hortelã e a fruta do suco congelada. Como sempre, estava delicioso, bom o suficiente para eu pedir novamente. Só que ele veio de laranja. Eu olhei para os atendentes e ergui a mão para chama-los, mas um deles acenou para mim como quem diz "é sua", eu acenei de volta mas não a tomei. Pedi mais uma vez, de limão. Depois minha irmã foi embora, e o meu dia estava quase acabando. Eu só pensava em voltar para casa, mas eu sabia que não teria nada para fazer lá. Olhei em volta, me perguntando o que eu poderia arranjar, e então eu vi o atendente. E simplesmente, decidi falar com ele.
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Once In A Lifetime
Teen FictionAdohena era uma simples adolescente do ano 4000 ,que vivia com um segredo que poderia jogar-la atrás das grades, até que um dia ela teve um sonho muito maluco e sua vida só desceu ladeira abaixo depois disso. Em meio a suas aventuras, ela logo desco...