Eu tinha uma facilidade natural em dormir em qualquer lugar, mesmo os mais barulhentos. Principalmente depois de ter levado uma coronhada.
De qualquer forma, quando acordei novamente, notei que eu continuava no deserto, só que agora havia uma tenda estendida, talvez para me proteger do sol escaldante, talvez não.
Normalmente, quando alguém acerta sua cabeça, essa pessoa não quer você viva. Esse tipo de coisa faz a gente pensar na vida, se tem inimigos ou alguém com raiva o suficiente para sequestrar você, o que eu não tinha. Nem amigos eu tinha, éramos só eu e May. Mas sabe qual era a pior parte? Alguém tinha cortado meu cabelo, numa altura que não me era confortável, mesmo que eu nunca me importasse com isso , era horrível. Nenhum perigo a vista, ao menos isso era bom.
Em toda a minha vida, eu sempre quis ter uma aventura mundo afora. Mas assim que saí da minha casa, a única coisa que eu sentia era medo. Medo da morte, de tudo, principalmente de estar sozinha, tanto na minha vida normal quanto na que estava aparecendo agora, eu sabia que não tinha ninguém. Só a mim mesma, e no momento não me parecia muita coisa, principalmente estando amarrada.
Sair dali, era prioridade, até o momento que eu vi o vulto na minha frente. Há uma possibilidade de eu ter uma queda pelo meu sequestrador? Pois foi exatamente o que aconteceu. Ele era alto, muito mais que eu, mas isso todo mundo era. Tinha a pele branca, num tom quase albino, só um pouco mais escuro. Os olhos azuis, davam um contraste ao cabelo ruivo envolto em uma bandana preta com detalhes brancos em forma de caveiras. Seu rosto era bem esculpido, assim como o corpo, musculoso mas sem exageros, quase como uma estátua grega. Uma jaqueta de couro esfarrapado preto e uma calça jeans completavam o visual de motoqueiro dos anos 70 , ou algo assim. Esperei que ele me levasse fora daquele lugar, ou falasse comigo,mas ele simplesmente se sentou e apoiou a cabeça nos próprios joelhos, sem dizer uma palavra.
Não havia considerado que ele poderia ser algo além de meu sequestrador, mas agora ,com uma reação daquelas, ele parecia ,mais um refém, assim como eu. Não sabia qual das minhas muitas personalidades poderia ser usado naquele caso, nenhuma delas sabia lidar bem com o sofrimento dos outros ou o próprio. Era a hora de criar uma que pudesse . Me concentrei e em poucos minutos eu era outra pessoa, mesmo sem ter trocado quase nada. Tomei coragem e o chamei:
_Qual o seu nome?-perguntei
Ele me deu um olhar frio, como se eu tivesse tocado numa ferida muito profunda. Nomes podem ser um fardo, e eu sabia muito bem disso. Mesmo assim, ele respondeu:
_Ryan.
Por algum motivo, ele não quis saber o meu e eu fiquei feliz com isso. Decidi não perguntar mais nada que pudesse ser pessoal, mas ainda tinha que achar um jeito de sair dali. Olhei a minha volta, ainda procurando por algo, quando notei onde estava amarrada. Era um simples e pequeno poste leve o suficiente para que se fizesse força ele cairia e eu estaria livre. Se desse certo ,Ryan não tentaria me impedir, talvez até me ajudasse na fuga.
De uma vez, puxei com toda força e ele caiu. Catei o poste, que poderia ser usado como bastão, e corri o mais rápido que minhas pernas podiam. Mas assim que saí, dei de cara com meu antigo problema: o deserto, ou seja, areia para todo o lado, sem nenhum sinal de vida além de nós dois. Xinguei baixo e levantei o pano, só para descobrir que eu estava sozinha, no deserto sem água ou comida. Apenas eu ,o bastão e o pano.xxx
Antes de explicar minha origem, vou lhe fazer uma pergunta: O quanto custa a uma pessoa para ela ser si mesma? A resposta de algumas seria dinheiro, de outras o tempo. Mas e se você não o tivesse? Você teria que se sentir bem consigo mesmo, e com quem você era, com seu próprio caráter.
Era fácil ter um bom caráter, quando você tem bons exemplos disso. Quando não se os tem , existem vários jeitos de acabar indo para o lado errado. E as vezes, não há mais volta, até porque você simplesmente não quer, porque você é feliz assim, do lado errado.
Principalmente quando seu plano arquitetado por anos começa a dar certo, tudo por causa de uma garotinha que não tem ideia do que está acontecendo ,de que estará sendo usada muitas vezes, que ela pode mudar o curso dá guerra. Agora, vamos para minha origem.
Imagine uma clínica para doentes mentais, e que nela há duas pessoas que se gostam, e que eventualmente elas acabariam por ter um filho. Agora, em nossa época, doentes mentais não são capazes de criar filhos, então eu parei no sistema de adoção. Lá, ninguém iria querer um filho de dois doentes mentais, então assim que tive consciência disso,eu fugi. Fui de becos em becos, me vestindo com roupas esfarrapadas para parecer um mendigo pedindo esmola, e juntei dinheiro.
Uma coisa que ninguém em qualquer época vai aceitar, é a pobreza, todos fariam de tudo para não estar nessa situação. Dormir e comer não importava muito, desde que tivesse meu dinheiro no final do dia, no horário que poderia comprar meu sustento, e ainda sobrava um pouco. Então juntando esses pouquinhos que sobravam durante alguns anos, eu consegui ter minha própria casa.
Passo 1, cumprido.
Mesmo assim, continuei com minhas roupas para poder juntar mais, e com o tempo, eu tinha uma vida confortável, mas ainda não estava satisfeito com aquilo. Uma das coisas que me incomodava era lembrar meus anos como morador de rua, e ver que não havia respeito com e entre eles, assim nasceu o objetivo do Passo 2: conseguir justiça para essa parte da população, algo que não nada a ver com Adohena. Ela era uma peça , de outro quebra cabeça, que ela mesma acabaria completando sozinha.
Se tem algo que sempre amei, era arquitetura. Ela era minha maior companheira de todos esses anos, adorava ver como alguma coisa bem planejado poderia levar a outra, mesmo que as duas não tivessem nada a ver.
Se queria uma guerra, precisava de um exército. E todo exército precisa de uma causa pela qual lutar, assim como de uma líder. Uma líder é aquela que tem mais preparo físico e mental, não necessariamente a mais forte do exército, mas sim a mais inteligente. E era essa pessoa que Adohena deveria se tornar, com o tempo. Caso não acontecesse , ele iria descartar-lá, como fazia com as pessoas inúteis. Em todo caso, era sempre bom ter mais de uma carta na manga, e ele tinha várias.
[Fim da parte I]
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Once In A Lifetime
Teen FictionAdohena era uma simples adolescente do ano 4000 ,que vivia com um segredo que poderia jogar-la atrás das grades, até que um dia ela teve um sonho muito maluco e sua vida só desceu ladeira abaixo depois disso. Em meio a suas aventuras, ela logo desco...