¶ Capítulo 20

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{1 dia depois}

May acordou com o sol batendo na pequena janela de sua cela, assim como com o som que os guardas faziam ao trazer o café para seus prisioneiros. Era engraçado pensar em como os papéis tinham se invertido em tão pouco tempo, isso tudo porque ela não contará com a astúcia de sua irmã.
Seu plano tinha sido perfeitamente orquestrado até a parte onde o Rei morria, a partir dessa parte ela precisará trabalhar em um plano que rodara em volta desse fato. O objetivo era apenas conseguir que Adohena aprendesse a procurar as verdades escondidas em meio as mentiras que May viverá contando para proteger-la.
Ela sabia que de algum modo, tinha feito algo errado, mas não era capaz de se lembrar o que era, havia uma espécie de buraco em sua memória. Era nessas horas que uma memória de 16 GB viria a calhar.
Entretanto, nem tudo estava perdido. Ela ainda tinha alguém lá fora cuidando de tudo, enquanto ela estava incapacitada graças a prisão. A única coisa que precisava fazer era sair daquele lugar, algo que ela podia conseguir facilmente.

πππ

Depois de um dia cheio, entre tirar o Rei de Castleville de um tempo em que não estava morto e colocar-lo de volta no trono para que o príncipe não assumisse, ela finalmente conseguiu achar uma cama na base Temporal, e desabar em choro.
Sua vida toda foi baseada, no fato de ela ter matado o pai, e agora nem tinha mais essa certeza, eu estava apagada na hora. No fato de May ter criado ela, lhe ensinado tudo desde seus primeiros passos até como cozinhar. No fato de que ela de que ela era sua irmã, do pacto que fizeram de nunca machucar uma a outra. Ela não tinha certeza de quais partes eram verdade ou quais eram mentira, muito menos se esse era seu verdadeiro nome, tanto o de May quanto o próprio. Ela não fazia ideia de quem era sem a irmã em sua vida.
Talvez eu tenha passado um dia ali, me lamentando, ou mais , não tenho certeza. Acabei dormindo de exaustão, e quis ter os sonhos malucos que tinha quando estava em casa, mas eu nem sabia mais o significado dessa palavra.
Fui acordar apenas no outro dia quando ouvi uma batida na porta do meu quarto.
_ Adohena? - perguntou a voz de Will.- Posso entrar?

***

De todas as pessoas que eu queria ver naquele momento, Will provavelmente era uma das últimas. Mas considerando o fato de que eu e ele mal nos conhecemos, era compreensível terem mandado ele falar comigo.
Talvez um pouco de interação humana me faria bem, mas antes eu tinha que escovar meus dentes. Só então que eu o deixei entrar.
_ Como você está? - perguntou.
Estranhei seu modo de agir, preocupado, mas eu estava frágil, me agarrando a qualquer gesto de amizade.
_ Um caco.- disse.
Ele pegou minhas mãos.
_ Sinto muito.- pediu.- Você deve estar passando por uma crise de identidade.
Eu puxei minhas mãos.
_ É tão óbvio assim?- perguntei.
Ele pareceu perceber o que estava fazendo e recolheu as mãos.
_ Sim. - disse.- Sabe, nós temos uma espécie de protocolo para quando essas coisas acontecem.
Pensei um pouco.
_ E como isso iria me ajudar? - perguntei.
_ Você confia em mim?- retrucou.
Eu quase disse que sim, mas a traição de May me tornou paranóica a ponto de confiar apenas em mim mesma.
_ Não.- respondi.
Ele rolou os olhos.
_ Apenas faça o que eu pedir, Ok?
Me senti uma estranha em meu próprio corpo quando assenti com a cabeça em sinal de "sim".
_ Feche os olhos. - pediu.
Eu obedeci, automaticamente.
_ Vai tentar me fazer imaginar algo? - perguntei.
_ Não.- respondeu, secamente.- Vamos começar com algo fácil. Me diga seu nome inteiro.
Por algum motivo desconhecido, o meu nome escapa da minha boca, mais facilmente que o normal.
_ Adohena Heyna England.- respondo.
Eu ouço ele rir baixinho e depois disfarçar.
_ Vamos tornar-lo mais fácil.- diz.- Tire ou acrescente o que quiser em seu nome, mas não muita coisa. Tipo um apelido.
Penso por pouco tempo e logo digo:
_ Adohe England.
_ Bom. Agora pense em suas características psicológicas.- continua. -Não precisa me dizer, apenas pense.
Sarcástica, simpática, fechada, inteligente, gentil, desastrada, esperançosa, pensei e assenti para ele.
_ Agora pense nas certezas que você tem, que não devem ser muitas.- continuou.- Preciso que você diga dessa vez, apenas para poder focar nas verdades.
Tenho tantas perguntas na minha mente, mas há uma que me importa mais que as outras.
_ Eu matei meu pai.- digo.
_ Verdade.
_ May é minha irmã.
_ Meia-irmã por parte de pai.- ele me corrige.
_ Minha mãe morreu no meu parto.
_ Verdade. Isso já é suficiente.-diz.- Pegue essas certezas que você tem agora e recomece sua vida, Adohe.
Eu abro meus olhos, e realmente parece que há uma nova Adohe dentro de mim, tomando o lugar da outra.
_ E por onde eu devo começar?- pergunto.
Ele me joga um panfleto holográfico com os dizeres: " As caçadoras:um lugar feito para mulheres poderosas" e abaixo um número de celular, se levanta e para na porta.
_ Se tiver interesse, ligue para o número no panfleto.- diz.- Elas são aliadas, sempre nos ajudam quando um caso como o seu aparece. Quando eu mostrei a Ryan, ele disse que parecia o seu tipo de lugar, só ele sabe o que isso significa.
E saiu. Eu coloquei uma roupa "apresentável" e fui atrás de um telefone.

∆∆∆

_ Falou com ela? - perguntei.- Como ela estava?
_ Arrasada.- disse Will.- Mas eu conheço essa cara, nem pense nisso.
Eu não tinha feito cara nenhuma.
_ Cara, do que você está falando?
Ele suspirou.
_ Ouça bem, porque eu sou vou falar uma vez. Faça de tudo para não gostar dela.- disse.
Eu podia aceitar aquilo.
_ Por que?
_ É melhor você nem saber.- disse e mudou de assunto.- Vamos, Tyrone ainda está nos devendo algo.

£££

Horas depois, Will entrou em um quarto da base ,que agora seria o seu, o quarto do capitão. Ele ficou satisfeito com sua promoção, mas o quarto ainda tinha as coisas de May espalhadas pelo chão, fotos dela quando menor, planos de batalha. Ele teria muito trabalho para desocupar aquele lugar.
Ao olhar em volta, ele sabia que não podia mexer os móveis de lugar, ou tirar as coisas dela dali. Aquilo não cabia a ele. A May que aquela base conheceu era diferente da que tentou bagunçar o tempo. Essa May, que lutou batalhas ao lado dos Temporais, merecia ser lembrada como quem ela era, e não por quem se tornou.
Aquele seria o santuário de May England,a ex-capitã, e logo ele iria atrás de Weaver England, a general. E teria uma tropa a seu favor.

∆∆∆

Ryan foi levado de volta a seu tempo apenas para recolher os pertences que realmente lhe importavam, eles seriam levados de volta para a base e ficariam em seu novo quarto. Foi estranho voltar a sua casa, olhar o lugar onde crescerá e não sentir vontade alguma de chamar aquele lugar de lar. Will disse que ele logo se acostumaria com isso, e teria outro lugar para chamar de lar.
Ele só esperava que não fosse preciso morrer para isso.

???

Enquanto Ryan estava na Terra pegando seus pertences, alguém invadiu seu novo quarto. Essa pessoa andou pelo quarto a procura de qualquer relíquia de sua antiga dona, a qual ninguém mais se lembrava.
Ficou feliz em ver que sua pupila tinha cumprido direito seu trabalho, apagando uma das fundadoras da base Temporal. Infelizmente, era a fundadora errada, porque, sem motivo aparente, a base ainda estava de pé. Primeiro precisavam fazer a base cair de dentro para fora, para depois fazer o mesmo com o tempo. E tudo o necessitavam eram algumas pessoas arrependidas de seus passados, assim como tecnologias avançadas capazes de coisas inimagináveis.
Quando o novo dono do quarto colocasse suas coisas no lugar, não existiria mais nada de Kaitilin Eagle ou da linhagem que ela originara. Apenas essa pessoa se lembraria delas, mas jamais,iria ser capaz de trazer-las de volta, não sozinha.
Sozinha, essa pessoa iniciaria a fase dois do plano.

[ Fim da parte II ]

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