{ 1 mês depois }
Adohena se jogou na cama, como fazia desde seu primeiro dia ali, exausta e feliz ao mesmo tempo. Seu quarto a confortava com suas pinturas e seus manuscritos, que foram tiradas de seu tempo e trazidos para cá. Ela mesma pintara cada parede,com a ajuda de Sandra, a única amiga que ela fizera ali, de azul turquesa, sua cor favorita. Colocará todos os seus antigos quadros pendurados na parede, enfileirara sua coleção de pedras na caixinha organizadora, dera uma continuação aos seus manuscritos, e pela primeira vez, em muito tempo, ela se sentiu em casa.
Cada uma das garotas que estava ali tinham poderes como ela. Cada uma tinha seu próprio espaço apenas para treino, onde havia um tecido que se adaptava a todos os tipos de poderes, testando suas formas e limites. Era apenas uma quadra tecnológica, mas era ali onde ela tinha passado a maior parte de seu treinamento no último mês, conhecendo suas novas parceiras de combate ou até mesmo amigas.
Na hora das refeições, todas paravam suas atividades atuais, e iam para o salão de estar. Havia, mesas rotativas brancas expondo as comidas e bebidas, mesas maiores feitas de concreto cinza, cadeiras e bancos, espalhados por todo o salão conforme os grupos de amigos. No teto, tinha luzes com LED de vários tons, de modo que parecia uma balada, mas com mais organização e menos gente bêbada.
Uma vez por semana, ela tinha o treino as cegas, onde amarravam ela a uma colega e as duas, com uma venda nos olhos, tinham que passar por um desafio aleatório. Depois de Castleville, aquilo era no mínimo aceitável.
E quando lhe sobrasse tempo, ela podia fazer o que quiser. O sentimento de independência e adrenalina a dominava durante quase o dia inteiro, indo embora apenas de noite,quando ela estava dormindo e os sonhos tomavam conta de sua cabeça. Sonhos, sobre seu passado, sobre seu futuro, sobre lugares ou tempos que queria visitar sem estragar-los, sobre as certezas que ela queria ao fim dessa jornada. Mas principalmente, sobre a última noite que passará na base Temporal, quando Ryan tinha vindo se despedir dela.***
Adohe estava arrumando as malas, colocando tudo ali dentro, menos suas roupas. Ela queria começar a nova vida com tudo novo, seu passado ainda a perseguia, mas ela estava ficando boa em fugir dele. Cuidadosamente, apertou o botão do cubo-quarto, que guardava as suas coisas em tamanho mínimo dentro dele, e ouviu uma batida na porta.
_ Oi. - disse Ryan.
_ Oi. - respondi. - Veio se despedir?
_ Talvez, se estiver disposta a me ouvir. - disse.
_ E por que eu não estaria disposta? - perguntei.
_ Porque você não tem muita tolerância comigo. - respondeu.
Eu sabia que ele estava certo, mas jamais admitiria isso a ele.
_ Você tem até eu terminar de arrumar minhas coisas. Comece. - mandei.
Ele suspirou.
_ Acho bom pararmos de fingir que somos amigos.- disse.
Eu não diria que era fingimento, além do mais eu não sabia como fingir nada.
_ Eu não estava fingindo.- esclareci. - Eu realmente achava que podíamos ser amigos.
Ele se sentou na borda dá cama.
_ E podemos.- disse.- Mas temos que parar de mentir um para o outro.
Eu não estava acompanhando, havia só uma coisa que eu não tinha contado a ele, mas isso era algo que eu nunca tinha contado a ninguém.
_ Quando foi que eu menti para você? - perguntei.
_ Eu sei sobre seu pai, Adohena.E sinto muito. - disse.
" Ele apenas disse que sabe sobre meu pai, mas não que eu o matei", foi a primeira coisa que pensei.
Ouvir meu antigo nome foi como trazer de volta todo o sofrimento que vinha em combo com ele. Uma lágrima desceu mas eu a sequei antes que ele pudesse ver.
_ Adohe.- o corrigi. - Como sabe?
_ Alguém me contou, eu não consigo lembrar quem. - disse.
Eu pisquei. Também sentirá alguém faltando, mas eu jamais saberia dizer quem era. As armações de May tinham feito de tudo apenas para tirar as certezas dela.
_ Obrigada.- falei. - E você? O que está escondendo de mim?
Se ele sabia do maior segredo, mesmo que fosse apenas metade dele, que eu escondia, eu tinha que saber do dele.
_ Eu sou filho de Guilherme Walshler.- disse.
Isso não me parecia um segredo tão grande, mas eu comecei a pensar. Walshler não era um sobrenome estranho, era até familiar. Se estou certa, ele foi o primeiro preso suicida a começar a rebelião em meu tempo.
_ Walshler o primeiro preso suicida?- perguntei.
_ Sim.- respondeu.
Eu me lembrava que ele tinha sido preso por matar a própria mulher e fazer o filho assistir, que devia ser Ryan. Deixei aquela informação no meu cérebro.
_ Mais alguma coisa? - perguntei.
Eu o vi morder o lábio.
_ Pode me fazer um favor? - pediu.
_ Que tipo de favor?- indaguei.
_ Não morra.
Eu estranhei seu pedido, mas assenti.
_ Pode fazer o mesmo por mim?
Ele assentiu e andou até porta, achei que ele fosse ultrapassar-la, mas ele parou e se virou no último segundo.
_ Adohe, me prometa que vamos continuar amigos, não importa o que aconteça.- pediu.
Eu olhei para ele. O que causará essa preocupação repentina comigo? Mas percebi que lhe importava mais a minha amizade, que qualquer coisa que pudesse acontecer com ele.
Estendi meu dedo mindinho para ele.
_ Eu juro.- prometi.
Ele enroscou seu dedo mindinho no meu, selando nossa promessa. Ficamos parados por algum tempo, apenas sentindo o toque um do outro. Ele me avaliava com olhos, e por um segundo pensei que fosse me beijar, mas algo o impediu e ele me abraçou. Eu me senti, novamente , uma estranha em meu próprio corpo ao afundar minha cabeça em seus braços e não querer sair dali, como se fosse uma espécie de cobertor quente no mais frio dos invernos. Pela primeira vez, me senti mal por ir embora. Por Ryan, valia a pena ficar na base Temporal por mais um tempo. Mas, por ela mesma , ela tinha que partir e se estabilizar em si mesma novamente.
Ele se afastou, acho que mais por obrigação que por querer.
_ Adeus, Adohe.- disse e saiu porta afora.
_ Adeus. - eu disse, mas já era tarde demais, ele já tinha saído.
E eu não puderá me despedir apropriadamente. Apenas torcer para que o destino nos colocasse perto um do outro novamente, vivos de preferência.
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Once In A Lifetime
Fiksi RemajaAdohena era uma simples adolescente do ano 4000 ,que vivia com um segredo que poderia jogar-la atrás das grades, até que um dia ela teve um sonho muito maluco e sua vida só desceu ladeira abaixo depois disso. Em meio a suas aventuras, ela logo desco...