∆Capítulo 6 - Ryan

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O maior problema de estar no deserto é ficar perdido, sem comida ou água, o que não era a minha situação. Não fazia ideia de como havia chegado na minha própria casa, mas pelo menos eu estava confortável. A pobre garota branca de cabelos morenos como chocolate provavelmente estava passando maus bocados agora, e eu nem sabia seu nome.Não gostava de dizer o meu, porque era como carregar um fardo. Ryan era o nome do meu pai, que matará minha mãe, Heria. Quando chegou a prisão, ele começou uma rebelião entre os presos, sendo o primeiro pessoa na história a se matar com uma calça legg. Isso pode fazer o filho dele ganhar fama de ladrão, mesmo que ele não fosse.
Mas e se, hipoteticamente falando, armarem para ele, ele levaria a culpa, porque é filho de um bandido suicida. Assim, as pessoas achavam que todas as coisas que eu tinha não eram minhas.  Quando na verdade, eu era o único herdeiro vivo da família da minha mãe, o que faz de mim um milionário. Nunca tive interesse no dinheiro, e se houvesse alguém para quem eu pudesse dar esse dinheiro, eu daria. Já fizera de tudo para me livrar dele, como doa-lo para caridades e nenhuma delas aceitar, por causa dele. Era chato ter tanto dinheiro, e não poder fazer nada com ele.
Desde da morte de ambos, eu não tinha ânimo  para fazer qualquer coisa, apenas para escrever, era a única coisa que me fazia feliz.  Não podia me gabar por isso, mas até que eu não era ruim. Era a única coisa que não me fazia sentir morto por dentro.Pode parecer estranho, mas de alguma forma a garota havia mexido comigo, e a única coisa que ela fez foi perguntar meu nome.
Talvez fosse porque , quando a vi, pensei que teria a chance de ter uma amiga que não se importaria com meu passado. Agora, havia uma grande chance de eu nunca mais vê-la, e eu não fazia ideia de onde ela estava. Parecia que eu tinha entrado em um mundo proibido, apenas para me sentir perdido,e depois ser expulso dele. Entediado, revirei minha bolsa atrás de algo daquele mundo que pudesse ter vindo comigo para cá, e achei. Um anel com dois 8 em pé e uma na linha reta ao lado de cada um, o que será que aquilo significava? Coloquei o no dedo, e fui a minha biblioteca particular a procura do símbolo, mas não havia nada parecido. 
Irritado, joguei o livro de símbolos longe, onde ele quicou e começou uma espécie de plataforma, como uma alavanca. Eu não acreditei, quando vi diante de mim uma porta enorme e detalhada com vários tipos de diamantes que eu não sabia nomear apareceu.
Fiquei parado um instante incrédulo, então subi as escadas , peguei algumas coisas necessárias,um taco de beisebol, joguei na bolsa e passei pela porta, esperando rumar para aquele mundo.

***

Não foi bem o que eu esperava, tudo o que encontrei foi mais uma biblioteca particular escondida. Fiquei decepcionado ao notar que os livros eram todos iguais aos das outras salas, e que eu já lera todos. Mas porque esconder uma biblioteca que é igual a todas as outras?
Se havia cópias , devia haver uma original com algo que a diferenciava das outras. Eu conhecia aquelas salas como a palma dá minha mão, agora só precisava o que fazia essa tão especial a ponto dela precisar ficar escondida. Investiguei cada centímetro daquele lugar, apenas para não encontrar nada. Respirei fundo, e recomecei minha caça. Frustado, me joguei na poltrona no canto dá sala, talvez eu tenha soltado alguns palavrões. Agora só me restava uma única opção: analisar o anel.
Estranhamente, ele cabia perfeitamente na minha mão, como uma luva. Mas os dois números 8 e as linhas, me intrigavam. Eu sabia que um oito deitado, representava o infinito. Agora, por que alguém em sã consciência, colocaria dois oitos em pé, então juntaria duas barras a eles​? Onde está o sentido? Além de testar minha paciência, não havia sentido nenhum. Certamente, quem o colocou ali , queria que eu o achasse. A não ser que eu não fosse a pessoa que deveria acha-lo , e sim ela.
Notei, aborrecido comigo mesmo, que eu não levará nenhuma bolsa até lá, porque eu fui acidentalmente teletransportado.  Então, supostamente, a bolsa era para ser dela, o que fazia de mim , um imprevisto .
O que significava que alguém tinha um plano tão bem detalhado para o destino dá garota, que não contará com imprevistos. E quem quer fosse esse alguém, tinha um inimigo, um inimigo esperto o suficiente para colocar um civil despreocupado como eu para impedir que o plano desse certo. Normalmente, isso se chama uma jogada de gênio, mas eu chamo de maluquice.Me perguntei se aquele tinha algum propósito além de me intrigar, e numa das minhas ideias idiotas , joguei o anel para cima, esperando que caísse em minha mão. Mas não foi isso que aconteceu.
Eu esperei, então olhei para cima e notei porque ele não caia, estava grudado no teto. Eu era alto o suficiente para pegar-lo, sem muito esforço. Assim que o puxei, me deparei com outra pergunta: como o  anel ficará preso ali? Não havia um chiclete ou imã, pois eu não tinha nenhuma dessas coisas em casa, e não poderia ser outra pessoa lá em cima ,porque eu estava numa passagem secreta, fechada com uma estúpida trava de segurança.
Parei e pela primeira vez olhei para o teto, o único lugar que eu não tinha procurado, e achei algo.  Acima de mim, havia uma espécie de caminho com luzes brilhantes que formavam mais um número 8, porém esse estava deitado. Era quase como uma constelação, como se houvesse uma ligação entre o anel e o número no teto. Por pura idiotice, cacei o livro com número 888. E achei, era um livro velho que eu jamais me atreveria a ler, só pelo tamanho ou pelo peso. Folhei as páginas e descobri que havia um compartimento onde ele escondia outro anel exatamente igual ao que eu segurava na mão. Tirei-o dali e coloquei os dois perto, apenas para ver se algo acontecia. E pela primeira vez, eu quis estar errado.
Ambos começaram a brilhar como se fossem estrelas , tão cegantes que eu fui obrigado a fechar meus olhos, e quando os abri novamente já não estava mais no meu quarto.
Estava em um quarto de boate, um lugar que seu eu  adolescente outrora esquecido conhecia muito bem. E diante de mim ,pendurado em um cabideiro jazia um terno e roupas sociais, o suficiente para me fazer parecer um executivo, com um bilhete dentro de seu bolso :

VISTA ISSO. ME ENCONTRE NA FESTA.

Ele desejou que o bilhete fosse assinado por pelo menos uma letra, ou que lhe desse informações do porquê tinha ido parar numa boate, um lugar que ele jurou que nunca mais iria. Com o coração batendo forte e já arrependido, ele se vestiu e foi para a festa.

πππ

Primeira regra de sobrevivência no deserto: nunca desmonte uma barraca perto da uma tempestade de areia. Essa era uma lição que ela aprendeu do modo mais difícil: quando aconteceu. Talvez fosse muita falta de sorte, mas todo seu plano de fugir para algum lugar fora por água abaixo. A única coisa que podia fazer agora era esperar montar a barraca e ali dentro esperar a tempestade passar, torcendo para não ficar louca. O que não era fácil, considerando que não havia nada para fazer. Não que eu fosse hiperativa, mas a falta de um passatempo causava tédio, o que levava a sono, e ela não podia dormir tão desprotegida. Se ao menos tivesse alguma arma, se sentiria segura o suficiente para dormir, e o apoio dá barraca não podia servir tal propósito.
De todas as histórias sobre as quais escreverá, nunca havia colocado um personagem em tal situação, onde ele perdia tudo, porque lhe parecia muito cruel com qualquer um. Não imaginava que ela um dia passaria por tal situação, sem ao menos ter tempo de se preparar para isso. E parece que quando você quer, a noite custa a passar.  No fim, eu adormeci contra minha vontade.
Quando a manhã chegou, me senti um pouco renovada, como se a luz do sol pudesse me dar um pouco de energia. Me levantei e fui deserto a fora.

***

Quanto mais eu andava, mais me sentia perdida.  Todo lugar para onde eu olhava, havia mais e mais areia, e não importava o quão longe eu chegasse, não parecia nem que saí do lugar. Era exaustivo tanto fisicamente quanto mentalmente. 
O que eu poderia fazer contra um deserto inteiro? Por que não era capaz de existir uma única casa em meio a toda aquela areia? Acho que talvez eu tenha xingado aquele lugar mais de uma vez, em todas as línguas que conhecia, e olha que eram muitas. Adorava falar em outras línguas, principalmente as mortas, me fazia sentir mais inteligente, como se pudesse conter muita informação na minha memória, e eu sabia que podia e ainda assim sobraria espaço para mais um  monte de informação. Minha cabeça era como um cartão de memória com 16 GB. May costumava dizer que reter tanta informação algum dia me faria mal, mas eu não podia evitar. Simplesmente lia algo e aquilo ficava gravado na minha mente, e eu tinha o costume de debater comigo mesma sobre isso. Alguns​ minutos a mais naquele deserto e eu já estaria falando sozinha, como uma maluca.
Eu estava a beira do precipício entre ficar maluca e continuar sã, me equilibrando muito mal no meio. Era só uma questão de tempo até eu começar a alucinar, ou perder a noção de onde estava, ou morrer desidratada. Não sabia qual das opções era pior. Me lembrei da chuva, não a que me explodirá, com carinho, desejando ao menos um pouco de água.  E ao mesmo tempo, agradeçi por ela não ter vindo, era algo que eu não queria ver chuva de novo tão cedo.
Talvez eu tenha pedido um pouco de água a qualquer pessoa que eu achei que estivesse ali, mas não foi isso que veio. Minhas alucinações me fizeram enxergar uma janela , e desesperada por ajuda, eu entrei. Assim que a passei, desabei de exaustão onde quer que fosse que estava, e não quis acordar mais por  um bom tempo.

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