¶ Capítulo 16

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May subiu as escadas mais uma vez, suas pernas estavam quase molengas de tanto subir e descer, mas ela sabia que valia a pena. Finalmente, chegou a antepenúltima parada: seu quarto. Ele não era decorado como seu quarto na sede dos Conselheiros do Tempo, era apenas para dormir, nem aparentava que aquele quarto abrigasse uma pessoa. Tinha pedido um quarto assim , livre de distrações, só as paredes e a cama.
Comecei a rever minhas anotações. Agora nesse momento minha irmã devia estar passando por mais um trauma, dessa vez seria psicológico. Ela tomará certas precauções para que fosse assim, como juntar-la com uma das fundadoras do Conselho para que,logo, ela quebrasse o conselho. Conhecendo Adohe, assim que lhe dissessem que deveriam retornar a loira para seu tempo, ela não ficaria contente, mas não impediria. O que significava mais um arrependimento em sua longa lista, levando a cada vez mais perto de descobrir certas coisas sobre si, e isso era exatamente o que May precisava.
May olhou para o relógio que marcava 23:45, hora de dormir, mas não sem antes visitar Gabriel e Harriet.

***

Dessa vez, ela escolheu se teletransportar para a mini-cadeia que ficava no último andar de baixo do castelo. Carregava um caderno e um lápis apenas para desdenhar dele.
_ Suponho que esse não seja o meu jantar.- disse seu prisioneiro.
Eu sorri.
_ Se souber como isso funciona, pode conseguir seu jantar.
Gabriel saiu das sombras dá cela escura e eu levei um susto. Seu corpo moreno que já fora bem musculoso, agora parecia murcho o que estragava a ideia da nomeação "Anjo". Somente seu cabelo loiro cacheado continuava o mesmo, talvez um pouco maior.
Meu coração parou por 3 segundos, pensando no mal que estava fazendo ao único amigo que me restará. Mas depois voltou ao normal quando percebeu que não adiantava fazer nada a essa altura do jogo.
_ Eu não tenho os poderes de sua meia irmã.
É claro que ele sabia.
_ Pode ser um bom passatempo se você tiver imaginação. Vai querer ou não?
Numa rapidez estranha, ele avançou e tirou o caderno dá minha mão. Joguei o lápis para ele.
_ Vou aceitar isso como um "sim".
Meu coração me mandou fazer mais uma pergunta.
_ Gabe, sua promessa ainda vale?
Ele me olhou, hesitante. Mas respondeu confiante.
_ Não.

÷÷÷

Assim que May saiu, Gabriel escreveu 6 palavras numa folha do caderno: "May mudou de lado, tenha cuidado", e torceu para que Harriet as recebesse. Esperou 10, talvez 20, minutos, arrancou a folha, amassou e enfiou dentro de um buraco ,que ele tinha feito no colchão com a faca que fora usada para seu último almoço e o tampou. Agora, tudo se tratava de uma questão de não perder as esperanças.

¢¢¢ Harriet

Harriet estava sentada em sua cadeira no seu escritório, atendendo as ligações de socorro dos outros guardas espalhados pelo tempo. As vezes fazia isso para fugir dos normais problemas que o posto de general a oferecia, ainda mais quando May e Gabriel sumiam e ela tinha que assumir seus lugares.
Não fazia ideia de para onde os dois tinham ido e o resto dos seus amigos no conselho estavam ficando preocupados, assim como ela. May estava procurando sua irmã através do tempo, era compreensível seu sumiço. Gabriel jamais deixava a base sem avisar-la ou dar algum tipo de última ordem, mas ele tinha saído e ninguém sabia de seu paradeiro. "Será que ele poderia ter sido capturado?",pensei. Ele era muito bom em tudo que fazia, mas fazia tempo desde que ele fizera viagens no tempo, o mundo e o tempo tinham mudado muito nesses últimos anos.
"Respire. Fique calma, Gabe sabe se cuidar sozinho", disse para mim mesma. Peguei o meu caderno e comecei a fazer desenhos, apenas para distrair minha cabeça, como flores ou coisas assim, fáceis.
Parei por alguns segundos apenas para ir pegar um copo de água, e quando voltei, vi algo escrito no meu caderno: "May mudou de lado, tenha cuidado." Reconheci a letra rebuscada de Gabriel e o nosso sistema de comunicação que devia ser utilizado somente para quando um de nós estivesse preso, mesmo assim eu custei a acreditar no que estava escrito. Isso foi até a própria May bater na porta de meu quarto.
_ Oi.- disse.

***

"É muita coincidência", pensei. Fingi abrir o caderno em outra folha para que ela não percebesse, e me voltei para ela.
_ Por onde andou? - perguntei.
Ela revirou os olhos.
_ Nada de bem vinda de volta? -rebateu.
"Porque eu tenho que ser educada com você?", pensei em responder, mas acabei tentando enganar-la.
_ Você sabe que eu não sou desse tipo.-respondi.
_ Essa é a Harriet que eu conheço. - comemorou ela.- Preciso de um favor seu.
_ Depende.
_ Preciso invadir o escritório de Gabriel para...
_ Não.- cortei.- Por que não pode simplesmente pedir isso a ele?
Ela pareceu mais fraca por um instante.
_ Porque ninguém sabe onde ele está. Quero usar um objeto dele para poder rastrear com um feitiço.
O papel tinha razão, May tinha realmente mudado de lado e talvez batido a cabeça bem forte.
_ May nós não mexemos com os feiticeiros. É loucura procurar-los.-argumentei.
Nós tomamos conta do tempo, mas os feiticeiros eram os únicos "imóveis" nessa questão. A base deles ficava fora do tempo, eles não respeitavam o tempo. Não eram inimigos, assim como não eram amigos.
_ Eu não vou deixar Gabriel sofrer mais...
_ Como sabe se ele está sofrendo?
Ela fechou os olhos com força.
_ Desculpe, Harriet.- disse May.
E me atacou.

***

Ou pelo menos tentou. Eu sempre fui mais ágil em combate corpo a corpo que May, o que dificultou as coisas para ela. Apenas desviei do golpe que ela estava prestes a me dar com o meu bastão, abaixei e lhe dei uma rasteira. Um erro de principiante, o que me possibilitou roubar o bastão de volta e pressionar sobre seu pescoço.
Entendi o que ela pretendia, o que a trouxera de volta: meu bastão mágico. Ele podia, tecnicamente, trazer alguém dá morte, se funcionasse. Havia algum tipo de gatilho para fazer-lo funcionar, mas não fomos capazes de descobrir como. Eu sabia quem May queria trazer dos mortos.
_ May ainda há tempo de voltar atrás.Por favor, pare, antes que eu não possa mais ajudar-la. - disse a ela.
Por dentro, eu implorava para que ela reconsiderasse, por fora, eu estava quase chorando. Não acreditei que ela podia ter nós traído, não acreditei que ela pudesse estar envolvida com os feiticeiros.
_ Não posso. É tarde demais.- disse ela.
_ Então espero que possa me perdoar.- pedi.
Contra todas as minhas crenças, bati em sua cabeça com o bastão, apenas forte o suficiente para apagar-la. Ajoelhei-me ao seu lado, e a algemei.
O telefone tocou. Eu não podia dar uma brecha a May, mesmo com ela desacordada.
_ Viva-voz. - falei para a máquina.
A ligação foi efetuada.
_...
Eu ia começar a falar o padrão para atender as ligações, mas alguém me cortou.
_ Harriet? - perguntou. - Graças a Deus. É o Will. Preciso de ajuda. -falou.
Olhei para May ao meu lado.
_ Então somos dois.





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