--//Bernardo\\--
Desde o acidente, não houve um dia em que o Bruno não tivesse do meu lado.
Depois de uma longa espera, finalmente tive alta e irei para casa dos meus pais, o que me deixou bastante feliz.
Apesar da dificuldade para aceitar a paraplegia, eu mantenho-me bastante positivo em relação ao prognóstico. O Bruno também tem ajudado nesse sentido e a equipa de reabilitação do hospital tem sido essencial.
Durante meu período de reabilitação no hospital, conheci o Daniel, um terapeuta ocupacional que me atendia quase diariamente e me fazia sentir cada vez mais confiante na minha recuperação.
Daniel me deu imensas orientações necessárias.
- Daniel: eu tenho a certeza que o Bernardo vai conseguir recuperar os movimentos das pernas gradualmente, mas o seu apoio tem sido essencial, então continue ao lado dele, haja o que houver! - disse para o Bruno
- Bruno: é claro Daniel! Eu sempre vou estar ao lado dele.
- Daniel: isso é muito bom! Vocês formam um belo casal!
Ouvindo aquela afirmação eu e o Bruno nos olhamos surpreso e ele falou:
- Bruno: A gente não é um casal! Somos só grandes amigos.
- Daniel: peço desculpas então, mas é que do jeito que vi vocês interagirem, pensei que estavam juntos. – disse todo envergonhado e continuou – Mas passando à frente. Bernardo não se esqueça do que eu falei, você vai conseguir recuperar os movimentos gradualmente, mas esse pode ser um processo demorado, por isso faça da sua cadeira de rodas a sua melhor amiga por enquanto.
-Bê: muito obrigado Daniel – disse estendendo- lhe os braços para um abraço, no qual retribuiu – você foi muito importante neste momento tão difícil para mim!
- Daniel: eu só estava fazendo o meu trabalho. Não te esqueças que o teu processo de reabilitação, vai continuar na clínica para a qual te encaminhei. Essa clinica é muito boa e tem profissionais fantásticos. Vais gostar de lá! – disse entusiasmado – Bem como disse não desistas do tratamento e te desejo o melhor.
Assim, Daniel deixou o quarto e logo o Bruno se dirigiu a mim:
- Bruno: ouviste? Nada de desistir.
- Bê: sim, eu sei. Mas, mudando de assunto, não achas que meus pais estão demorando?
- Bruno: eles estão ocupados com os preparativos da tua volta para casa. Afinal, eles tiveram que fazer algumas mudanças para facilitar o teu quotidiano lá, conforme o Daniel orientou que eles fizessem. Por isso vou ser eu, a levar-te.
- Bê: eles tiveram que mudar toda a dinâmica da casa só porque eu não posso andar. - disse entristecido.
- Bruno: não comeces. Eles não estão reclamando de nada. – disse segurando a minha mão. – Lembra do que conversámos? Mesmo que não recuperes o movimento das pernas, o que todos estão crentes do contrário, a tua vida vai sofrer algumas mudanças, com as quais tu és forte suficiente para lidar.
- Bê: eu sei...desculpa, é que ainda estou um pouco chateado com esta limitação.
- Bruno: eu posso imaginar, mas com os ajustes certos, tu sentiras poucas dificuldades em te adaptares, a esta tua "nova vida", digamos assim. Olha pelo lado bom, estás indo para casa. – disse me animando.
Me preparei para regressar a casa e quando lá cheguei, fui surpreendido por vários familiares e amigos que me esperavam, para me felicitarem pela saída do hospital e me desejarem o melhor para a minha recuperação.
Meu irmão se aproximou para falar comigo:
- Carlos: é bom ter-te de volta em casa.
- Bê: é bom estar de volta, apesar da minha limitação.
- Carlos: não te preocupes. Logo-logo já vais estar andando de novo.
- Bruno: eu já falei isso para ele, mas ele parece que não acredita. – disse se aproximando de nós junto com a Ana.
- Carlos: Bê...eu preciso te contar uma coisa.
- Bê: o que é Carlos. Fala! – disse apreensivo.
- Carlos: calma não é nada de grave. É que eu e a Ana, estamos juntos...e como para além de meu irmão, és nosso melhor amigo, achei que gostarias de saber!
- Bê: é claro! – respondi eufórico – Contem-me tudo! Desde quando? O que rolou?
- Carlos: calma. – disse rindo – Estamos apenas no começo.
- Bê: estou muito feliz por vocês, pois ambos são muito importantes para mim. Espero que dê tudo certo para vocês!
- Bruno: eu também – disse, tendo se mantido afastado da conversa até agora.
- Carlos: obrigado Bruno.
A minha receção durou bastante e passei boa parte do tempo conversando com o Bruno, Carlos e a Ana. Depois de algum tempo, as pessoas se foram, incluindo Carlos e Ana, restaram só os meus pais, que depois foram resolver alguns assuntos pessoais e fiquei só com o Bruno, que permaneceu ao meu lado e me ajudou a realizar a transferência da cadeira de rodas para a cama.
Estávamos deitados, quando disse:
- Bê: Bruno...
- Bruno: sim! O que foi?
- Bê: tu acreditas mesmo que eu vou conseguir voltar a andar? Eu sei que as pessoas dizem que sim, mas eu preciso que tu sejas sincero comigo, o que tu achas?
- Bruno: eu não sou médico, por isso talvez não seja a pessoa mais indicada para te responder. Mas uma coisa eu sei, que tu és um vencedor e vais vencer esta luta também.
- Bê: sim...
- Bruno: e olha só, tu nem sentias nada da cintura para baixo e agora já sentes alguma coisa, isso deve significar alguma coisa. Mas...se isso não acontecer, eu acho que tu vais conseguir lidar com isso! Tu já passaste por muita coisa e eu sei o quanto forte tu podes ser, então sei que vais ser capaz de superar isto.
- Bê: eu não sei... – disse começando a chorar e Bruno me abraçou – eu não me sinto mais tão forte. Eu não consigo me ver preso a esta cadeira de rodas e eu estou com medo de não voltar mais a andar.
- Bruno: eu entendo o que estás sentindo. – disse acariciando o meu cabelo – Em qualquer dos casos, eu vou permanecer ao tu lado!
- Bê: obrigado Bruno, por tudo. Pensei que depois da conversa daquela noite a nossa amizade tivesse terminado de vez – disse com tristeza.
- Bruno: esquece isso, esquece o passado, vamos viver o agora. Eu nunca te vou deixar. – falou me apertando ainda mais em seus braços.
- Bê: ok, mas voltando ao assunto, eu não queria me tornar dependente das pessoas, para realizar as minhas actividades.
- Bruno: tu não vais! Lembras-te do que o Daniel falou? Tu podes ser independente, mesmo estando numa cadeira de rodas.
Permanecemos conversando até que caí no sono nos braços do Bruno.
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Noites de Pesadelo
LosoweNoites de pesadelo, conta a história de Bruno um português hétero e Bernardo um brasileiro homossexual, e como a grande amizade que eles tem se pode transformar em noites de pesadelo. Um drama que vai por á prova essa amizade ou era revelar o grande...