PART 19 - MISTAKE

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   "Desculpa ter me importado com você na intensidade de uma tempestade, enquanto você se importava na breve forma de uma garoa."


—  A gente já está rodando por horas e nada dele parar, Clara.
— Ele tá no celular, provavelmente alguém tá dizendo por onde ir. — indagou ela, toda entusiasmada com aquela situação.
— Ou percebeu que está sendo seguido e quer enrolar a gente.

— Impossível. Olha lá onde ele parou.

O carro dele estacionou em uma pequena praça, em frente dela havia um enorme prédio e de lá avistamos alguém sair. De onde estávamos não víamos nitidamente, então decidimos aproximar mais o carro.

— Cuidado pra não chegar perto demais, sua louca.
— Eu sei, já ia parar aqui mesmo. Tá dando pra você ver direito?
— Sim. É um garoto quem tá com ele, só que o Bruno está na frente e não tá dando pra ver quem é.

 Tudo estava muito calmo, só conversavam, não havia abraços ou algo "suspeito".
Uma roda de capoeira havia chegado na praça, toda aquela movimentação pareceu irritar os dois, fazendo com que entrassem no carro e fossem pra outro lugar vamos nós segui-lo de novo. Ele estava saindo da cidade. Eu conhecia aquele caminho, era o da colina. O Bruno já havia me levado antes. 

  Lá é incrivelmente lindo, além de ver as estrelas muito bem dá pra avistar toda a cidade. Trazia paz e sossego.

— Porque ele traria alguém que é amante pra esse lugar tão romântico? — Perguntou Clara.

— Sei lá, não acho que ele tenha vindo tão longe pra ser romântico dessa vez, ele quer paz, não ficar a vista de ninguém e aí é o lugar perfeito.

 A colina não estava tão calma como no dia em que ele me levou, pelo contrário. Algumas crianças haviam ido acampar lá. Antes mesmo de chegarmos mais perto eles já haviam descido do carro e foram caminhando até a mata fechada.

— Que porra ele vai fazer lá? Ninguém entra em mata a noite, Clara.
— Vai ver tem uma festa na floresta hoje.
— Você saberia se tivesse. Para de tentar amenizar as coisas. Pode ser sincera.
— Bom, não queria dizer nada, mas algumas coisas estão óbvias. Acho que nosso único problema aqui é descobrir se é mesmo o Matheus quem está com ele.

 Nem ouvi o que ela tinha a dizer, fui andando pelo mesmo caminho que eles. Dando passos largos sem fazer nenhum barulho. Caminhei por bastante tempo até que avisto os dois em baixo de uma enorme árvore. Estava bastante escuro, fui até mais perto pra ver melhor. Assim que me movo piso em um galho que fez um pequeno barulho. Despertou eles e ficaram olhando, procurando alguém. Me escondi atrás de uma das árvores e quando os fitei novamente já haviam voltado a fazer o que estavam fazendo. —Eles estavam se beijando. Ele o tocava como me tocava. Aquilo era realmente muito estranho. Eu só conseguia sentir raiva, nojo. Me sentia um idiota por um dia ter gritado aos quatro cantos de que eu confiava nele de olhos fechados. 

  Vai ver fiquei deslumbrado demais com essa coisa de ter um namorado, de ter alguém além do Erick cuidando de mim. Eu quis tanto ser desejado que acabei me deixando levar tão rápido. Mesmo sendo gay não tinha alguém fixo, uma ficada aqui, outra ali, mas nunca era o suficiente pra manter por perto alguém e quando ele veio querendo permanecer nem pensei nas consequências. Tinha finalmente me achado suficiente pra alguém. —  Meu medo de ficar sozinho foi a minha ruína.

 Já estavam sem suas camisas e se eu não tivesse interrompido iriam transar ali mesmo. 

— Que ótimo jantar com a tua tia, Bruno. — gritei enquanto ia para perto deles, aplaudindo o showzinho.
— O que você tá fazendo aqui? — ele estava mais branco que o normal, como se houvesse visto um fantasma.
— Não era pra eu estar aqui? Queria conhecer a sua tia. Mas eu já conheço né, Matheus?

 O Matheus mudo ficou, já o Bruno tentava se explicar a todo custo, como sempre tentando fazer com que eu me sentisse culpado.

— Você acha que eu não sei que você deixou de ir pro baile comigo pra dormir com o Erick? —gritava ele.

—  Não dormi com o Erick da forma que você pensa. Diferente de você fui fiel durante todo esse tempo. Se não te contei sobre ir pra casa dele foi porque sabia que não iria deixar.

—Se escondeu é porque aconteceu algo.

— Você entende muito bem esse lance de esconder mas não me confunda com você.

— A culpa é sua, claro que é. Tem dias que só quer saber do Erick, quando eu queria transar você nunca estava afim. Nunca tinha tempo pra mim.

— Então só sou um bom namorado quando estou de quatro pra você? — o questiono.

— Não foi isso que eu disse.

— Em fim, não importa mais. Fica aí com teu objeto sexual, ele deve ter todo o "tempo" pra você.

 Senti tanta raiva que nenhuma lágrima descia. Era incrível como toda aquela admiração e carinho estava se transformando em ódio.

— Vamos embora. Já vi tudo o que tinha que ver. — disse eu assim que entrei novamente no carro.
— Claro. Sei que não quer falar sobre isso, mas era o Matheus mesmo? 

Apenas assenti com a cabeça e fomos direto pra minha casa sem darmos nenhuma palavra

𝙼𝙴𝙼𝙾𝚁𝙸𝙴𝚂 (𝚁𝙾𝙼𝙰𝙽𝙲𝙴 𝙶𝙰𝚈)Onde histórias criam vida. Descubra agora