Sophia
- Você tem que soltar aos poucos, Amor. – sua voz não demonstrava nada, mas eu sabia que Arthur já estava impaciente. Ri internamente.
- Assim? – perguntei, soltando a embreagem de uma vez. A moto deu um solavanco e “morreu”.
- Não. Você tem que soltar ao mesmo tempo que acelera. – fiz o que ele disse, mas não andei muito. Dois metros após, a aceleração entrou em desacordo com a embreagem, e eu parei novamente. Dei uma olhadinha pra trás, e vi Arthur dar uma corridinha até mim. Ele estava sério e em sua testa havia uma ruga de preocupação.
- Você está bem? – baixou o pé da moto, e praticamente me arrancou de cima dela.
- Ei! Calma, estou bem. – não consegui segurar o riso.
Ele analisou meu rosto com atenção, para se certificar. Balançou a cabeça e suspirou.- Já chega de tentar. Você pode se machucar. – eu queria mesmo não deixá-lo apreensivo, mas o meu lado maldoso não se satisfez.
- Aaah. Eu quero aprender! – fiz biquinho. Ele continuava sério.
- Não, Sophia. Vamos entrar que está ficando frio aqui fora. – Ri de sua desculpa esfarrapada para tentar me tirar de cima da ‘Fan’ de papai. Coitado, estava com medo de eu cair!
- Por favooor! – implorei. Sentei na motocicleta novamente, e ele sentou atrás, revirando os olhos e pondo os pés no chão.
Nesse momento minha mãe passou. Ela estava vindo da casa da vizinha, e trazia uma cesta nas mãos.
Ela sorriu, mostrando os dentes brancos e bem cuidados.- Filha! Já estava sentindo saudades de te ver rodando por aí em cima dessa Monstra. – senti Arthur tencionar atrás de mim.
Mamãe chamava a Motocicleta de Monstra desde que, alguns anos atrás, quando ela tentou aprender a pilotá-la, caiu e torceu o tornozelo. Lembro que ela xingou-a de todos os nomes possíveis, e prometeu “nunca mais chegar perto dessa Monstra”. E ela não chegou mesmo.Eu dei uma olhada significativa pra mamãe, e ela entendeu que tinha falado de mais.
- Oh – exclamou.
Arthur debruçou sobre mim.
- Mas que porr... – antes que ele terminasse, arranquei com a moto. Coloquei-a na rua com a maestria de sempre.
Eu pretendia enganá-lo mais algum tempo, antes de dizer que, na realidade, sou a melhor motoqueira da região, porém mamãe havia estragado a brincadeira.
Sorri ao sentir a brisa levar meus cabelos que estão fora do capacete, e sorri mais ainda ao ouvir Arthur resmungando em meu ouvido.Não havia nada mais libertador que aquilo. Sentir a brisa fria, a adrenalina correndo em seu corpo como um trem desgovernado. Aquilo era como um porto seguro pra mim. Conseguia esquecer de todos os problemas enquanto me concentrava na direção.
Passamos pela velha padaria na esquina, e dobrei pra direita, rumo aquele lugar que eu sempre gostei de passar um tempo sozinha pra pensar. Eu não podia ir embora hoje à noite sem ir aquele lugar paradisíaco.
- Então você estava me enganando? – falou próximo ao meu ouvido, sobressaindo o barulho do vento. Sua voz tinha uma pitada de humor e sarcasmo.
-Enganando, não. Só queria ver como se saía como instrutor. – ele sorriu.
- E aí? –
- Bom... Você até que é bonzinho. – sua mão atrevida adentrou minha blusa, e acariciou minha barriga. Senti um arrepio.
- Posso te mostrar o quão bonzinho eu sou. – agora sua voz estava baixa e sexy. Um chamado ao tesão. Porra! Se ele continuasse, nós poderíamos nos acidentar.
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Meu Chefe
RomansaUma garota humilde de família pobre,Sai em busca do seu futuro na casa dos seus "tios" em outra cidade. Mal sabe ela que encontrará muito mais do que a esperança de um futuro melhor.