A Toalha

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Muita gente se sente incompleto, como que sem um braço, quando não está com o celular por perto. Eu nunca senti isso porque não conheço tantas pessoas com quem teria urgência de falar e também porque (ainda) não sinto essa necessidade de ficar verificando o Facebook a todo instante; não gosto desse tipo de atenção. Mas isso não quer dizer que não há nada no mundo do qual eu não sinta falta. Há, sim, e eu só fui perceber isso quando, mais tarde naquela noite, fui esvaziar minhas malas.

– Pode usar o banheiro do corredor para tomar o seu banho, querido – disse Angelina antes de fechar a porta de seu quarto para o mundo. – Boa noite!

– Boa noite – eu sussurrei de volta, certo de que, nem se eu gritasse, ela me ouviria. O problema de Angelina não era de audição, mas de atenção. Mas esse também não era um motivo para eu ser mal educado.

Girei nos calcanhares e segui para o meu mais novo quarto. Eu olhava para aquelas paredes brancas, para aquela cama tão bem arrumada, com mais travesseiros do que eu estava acostumado, para aquela janela fechada, coberta por cortinas, para aquele carpete de pelos beges, curtos, para a porta do meu novo armário, e, mesmo sabendo que tudo aquilo fora me concedido de bom grado para que eu usasse, eu ainda não conseguia me sentir à vontade.

Nada daquilo era meu de verdade. Aquele seria, para mim, o que um quarto de hotel era durante uma viagem, com a diferença de que, daquela vez, eu esvaziaria as minhas malas.

Certo de que eu precisava de um banho, vasculhei o que ainda não tinha sido tirado das bolsas atrás da minha toalha, do meu xampu especial para cabelos cacheados, do meu desodorante antitranspirante, da minha roupa de dormir e da minha roupa de baixo.

Encontrei todos os itens com facilidade, nos lugares em que eu sabia que os encontraria, com exceção de um: a toalha.

Não consegui evitar uma pontada de apreensão a respeito. Eu tinha certeza de que havia guardado tudo o que precisava, que vasculhara cada um dos ambientes da minha casa atrás de cada objeto que eu sabia que fazia parte da minha rotina, então não tinha como eu não ter trazido a toalha. O problema era que minhas malas não tinham tantos bolsos que pudessem servir de esconderijo para ela e nem o quarto era tão grande ou tão cheio de pontos cegos para eu conseguir perdê-la por lá.

Enfiei os dedos da mão direita em meus cabelos e, estarrecido, olhei para a minha bagunça de coisas. Eu estava perdido. Estava sem toalha. Como uma pessoa poderia tomar banho sem uma toalha?

– Ei.

Tão envolvido que eu estava em minha busca pela toalha, me assustei quando a voz de Sam me trouxe de volta à realidade do quarto. Voltei-me para ele, com a mesma expressão de espanto que utilizei quando não encontrei a toalha pela primeira vez.

Sam estava parado à porta do quarto, com os (enormes) braços cruzados, um dos pés, descalços, tateando o carpete como se o explorasse (ou como um gato faria com suas garras se tivesse a chance de entrar naquele quarto, brincando com os pelos), o rosto sério. Já começava a me acostumar com aquele fato: Sam não era uma pessoa de riso fácil.

– Pois não? – eu disse de volta.

– Procurando alguma coisa? – Eu até abri a boca para responder a pergunta, mas Sam não conseguiu evitar a piada quando ela lhe ocorreu: – Você é desses que só consegue procurar coisas perdidas quando está de óculos e que, quando os perde, faz uma busca ainda mais difícil por eles antes de começar a verdadeira exploração?

E ele era terrível com piadas.

– Eu não uso óculos – respondi.

– Não se esqueça do que te falei – ele disse, apalpando o carpete uma última vez com o pé, como se o ajeitasse e estivesse pronto para se retirar. – Se precisar de ajuda, é só dizer.

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