A Panqueca

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Era Angelina quem batia à porta.

Vesti minha bermuda às pressas e corri escada abaixo, descalço mesmo. Sam acabava de receber a mãe, no hall de entrada, com um sorriso alegre que não lhe era comum. A abraçava como se não conseguisse mais conter a falta que sentia, algo que eu logo estranhei, porque, até então, eu podia jurar que Sam não se importava nem um pouquinho com a ausência de Angelina.

Quando Sam se afastou da mãe e apanhou algumas de suas malas foi que Angelina me notou ao pé da escada.

– Que bom ver meus dois garotos preferidos em casa! – ela disse, o sorriso fazendo suas bochechas saltarem no rosto, escondendo os olhos. Abriu os braços no alto. – Venha me dar um abraço, querido!

– Seja bem vinda de volta – eu disse, abraçando-a com menos vigor do que ela ofereceu ao gesto.

– Obrigada! Mal vejo a hora de tomar um banho e ir me deitar para descansar. Depois, quero saber de tudo o que aprontaram enquanto estive fora, hein? – Já subia as escadas quando se voltou para trás, para mim, a única pessoa em seu alcance de visão, já que Sam já se escondera no segundo andar, e disse:

– Não houve nenhuma baderna aqui, não é mesmo? Nada com o qual eu devesse me preocupar?

– Não – eu menti e engoli em seco. – É só observar pelo estado da casa. Está do jeito que você deixou. Mal usamos as louças.

– Eu imaginei. O Sam é preguiçoso com as tarefas de casa. Deve preferir beber água com uma concha feita com as mãos a usar um copo e ter que lavá-lo depois. Puxou ao pai. – Eu a acompanhava, carregando uma mala pequena, de mão. – Vocês já estavam dormindo? Me desculpe se os acordei com a campainha, mas as minhas chaves estão perdidas em algum desses bolsos, e eu não estava com paciência de procurá-las a essa hora da noite. E a noite está tão nebulosa. O Maine, às vezes, é tão assustador quanto o Stephen King diz.

– Eu imagino.

– Pode deixar a mala aqui na porta do meu quarto, eu me viro com o restante. Não quero que vocês se sintam mais cansados do que já estão, afinal, estudar não é fácil. Boa noite, querido! Mande um beijo para o Sam, aonde quer que ele esteja agora.

– Um beijo...?

– Sim. Um beijo. Boa noite.

Voltei ao quarto de Sam, que era exatamente onde ele estava, deitado em sua cama, totalmente coberto, com a postura de alguém que estava pronto para a chegada do sono. Não percebeu minha chegada, ou apenas a ignorou, pois não se moveu nem um pouquinho no lugar. Encostei a porta e me dirigi ao meu colchão no chão. Pigarreei antes de me deitar, porque aquele era eu fazendo de tudo para chamar a atenção do dono do quarto, mesmo que inconscientemente. Mas ele não moveu sequer um dedo.

– Sua mãe te mandou um beijo – sussurrei. Não sei se falei alto o bastante para ele poder ouvir, mas, se ouviu, Sam não deu o menor indício. Continuou quieto. Guardei minha vontade de repetir a frase, para ver se dessa vez ele a ouvia, e me convenci de que o melhor a fazer era dormir.

Mas não consegui.

Confesso que os primeiros instantes daquela noite, em que Sam retirava minha coberta sem eu ter a menor ideia de quem fazia isso, me assustaram, mas não posso negar que, agora, a memória disso era excitante. Deitado de costas para ele, eu torcia para que ele retomasse o que havia começado, que retirasse meu cobertor, que me tocasse onde bem entendesse, que retirasse minha bermuda, se quisesse, e que, dessa vez, terminasse de retirar a sua. Mas nada disso aconteceu. E nem parecia próximo de acontecer.

Eu desejava o corpo de Sam e essa excitação toda afastava o meu sono. Tentei todas as posições possíveis na cama, esperando encontrar aquela que fosse mais confortável, mas não encontrei nenhuma. Eu estava tão desconfortável quando estava acostumado a estar nos dias passados, mas o problema era que, daquela vez, isso acontecia por um motivo diferente. Eu estava tomado por
expectativa.

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