Falar com a minha mãe foi bem mais fácil do que havia sido nos dias passados. No sábado seguinte, quando acordei, bastou uma mensagem de texto curta – “Mãe, preciso falar com você” –, e logo ela me respondeu. A estratégia tinha funcionado, afinal: toda vez que alguém anuncia que precisa falar com outro alguém, não é certo esperar que boa coisa está a caminho.
Minha mãe surgiu no Skype com a mesma beleza da última vez em que havíamos nos falado, os cabelos agora ondulados e cheios de saúde, o sorriso contido pintado de vermelho. Começou a conversa com um desejo de bom dia cuja animação me contaminou apenas por uma fração de instante, mas que logo acabou perdendo espaço para o meu atual estado de desânimo. E minha mãe percebeu isso.
– O que está acontecendo, filho? – ela quis saber.
Sam está me machucando, era a resposta para aquela pergunta. E não com as mãos. Quer dizer, ele me estapeou algumas vezes – e foi bom, acredite –, mas dessa vez suas intenções são outras. Os tapas que suas mãos me deram enquanto a gente fodia jamais tiveram o mesmo impacto que a sinceridade das suas palavras.
Mas é claro que eu não diria nada disso à minha mãe. Aquele era um problema que compreendia a mim e ao Sam exclusivamente e a ninguém mais.
Nem Angelina, que dividia aquele mesmo teto com a gente, sabia do que se passava, e eu imaginava que nem uma leve suspeita ela tinha. Tinha problemas mais importantes com os quais esquentar a cabeça. Seria possível acreditar que nada estava acontecendo, que tudo era coisa da minha mente, se as marcas não fossem tão evidentes. Minha consciência podia ser o que fosse, mas louca ela não era.
– Não é nada – foi o que eu disse.
– Nada mesmo?
– Foi o que eu disse.
– Nunca vi um “nada” deixar alguém tão atormentado.
– Eu não estou atormentado, mãe.
– Querido, alguém que te conhece há poucos meses pode não perceber algumas das suas mudanças de humor, mas eu te conheço há pelo menos dezessete anos. Você é um desses livros que li vezes suficientes para conhecê-lo de cor. Mesmo que você tente esconder de mim que há algo de errado acontecendo, eu já sei que há.
O que dizer àquilo? Eu não sabia muito bem como reagir. Dei de ombros e suspirei profundamente, frustrado por estar sem palavras. Não era bem assim que eu queria que a conversa com a minha mãe fosse.
– E deve ter uma boa razão para você não querer falar disso comigo – minha mãe continuou. – E eu respeito o seu espaço. No momento apropriado, você vai falar, eu sei. E se não quiser, não tem problema, é uma escolha sua.
– Obrigado, mãe.
Ensaiei um sorriso e minha mãe sorriu de volta.
– E o que havia de tão sério que você queria falar comigo, que não é o problema que te aflige? – ela perguntou em seguida.
– Bem, eu ainda me lembro do que falei para você semana passada e eu sei que voltar atrás é sempre um sinal de fraqueza de personalidade, mas... – Como dizer aquilo? Eu não sabia por que estava demorando tanto para revelar o meu desejo. Aquela era a minha mãe, não um chefe para o qual eu estava prestes a pedir um aumento. – Eu quero voltar.
– Como é que é? Você quer voltar?
– Você ouviu certo.
– Mas, e aquelas coisas que você disse da última vez...?
– Tudo mudou. – Minha mãe parecia incrédula, então continuei: – É, as coisas podem mudar num piscar de olhos, estou tão surpreso quanto você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
BLAM!
FanfictionBlaine é obrigado a se mudar para o Maine quando seus pais, por conta do trabalho, também se mudam. Angelina, a amiga de sua mãe, pessoa que não vê problema em aceitá-lo na própria casa durante esse tempo, é uma excelente pessoa, mas Blaine não tem...