De volta à Nova Iorque, pude reencontrar colegas dos quais eu sentia falta e nos quais eu não pensava mais já há um tempo, devido às circunstâncias. Um deles era Kurt Hummel.
Kurt era gay e não escondia isso de ninguém.
Entendia de moda melhor do que qualquer garota do colégio, tinha a voz mais delicada e doce do que qualquer garota do colégio e podia cantar melhor do que qualquer cantora pop da atualidade. Também tinha excelentes conselhos amorosos e me ajudou bastante nas semanas que seguiram a minha volta.
Disse que estivera morrendo de saudade de mim durante todo o tempo do meu afastamento, o que eu achei, a princípio, exagerado (o que não deveria me causar nenhum espanto, sendo Kurt um garoto naturalmente exagerado), mas que logo se justificou. Kurt não tinha muitos amigos que fossem como ele, então, sim, ele sentira a minha falta.
E eu sentira a dele.
No fim das aulas, quando já era verão, Kurt e eu combinamos de ir a um parque aquático para relaxar, tomar algumas bebidas e falar de outros assuntos que não estivessem relacionados à escola - pelo menos no que dizia respeito às matérias. O parque aquático não vendia bebida alcoólica, mas Kurt costumava carregar consigo garrafas térmicas com vinho, a fim de disfarçar a bebida que carregava. Não o fazia porque vinho era a bebida que mais apreciava, mas porque gostava do estilo que a bebida proporcionava. Sentia-se bonito.
E aquele era um sábado, ao meio dia, e o pequeno parque aquático ao qual fomos compreendia uma enorme piscina frequentada, em grande parte, por alunos de férias, algumas vendas ao redor, banheiros e vestiários e, naquele dia, um céu ensolarado de fazer inveja a qualquer morador de outra cidade. Era preciso ser sócio do clube para entrar, e nossos pais eram.
Passamos pelo vestiário e nos trocamos. Eu estava acostumado com as sungas tradicionais, mas Kurt, que não perdia a chance de querer chamar a atenção mesmo quando estava com pouca roupa, providenciaria um short de banho que parecia ter sido retirado dos anos cinquenta, guardado em uma estufa com o passar das décadas e preservado apenas para aquela ocasião.
- Será que a gente pode fingir que está na Califórnia? - disse Kurt, espreguiçando seu corpo branquelo e magro na beira da piscina.
- Acho que eu não gostaria de estar em outro lugar, senão esse.
- Use a imaginação, Blaine. Sair da Selva de Pedra de vez em quando pode ser uma boa - ele disse e sorriu aquele sorriso que fazia com que parecesse não ter dentes. - Ei, você pode segurar minha bolsa um instante?
- Claro - eu concordei, apanhando uma bolsa de alça única, de lona, que ele trouxera consigo. - Aonde você vai?
- Vou buscar copos plásticos naquela tenda...
- Kurt! A gente não pode trazer bebida...!
- Ninguém vai saber se você não contar! - ele repreendeu e fez o gesto de quem passa um zíper na boca. - Já volto. Vê se não some.
- Não há pra onde ir, como vou sumir? - eu dizia enquanto ele se afastava.
Olhei para frente. A piscina, em um dia tão perfeitamente ensolarado, era um convite atraente.
Naquele dia, no entanto, o cenário parecia ter sido construído para, sem dúvida, agradar o meu olhar, pois, além da piscina, as pessoas que hoje a frequentavam eram tão atraentes quanto as de um sonho americano. Caras de abdômen rachado ao sol, acompanhados de suas bronzeadas garotas de corpos esguios, portando belos pares de óculos. Era quase como um comercial de creme dental no qual eu de repente fora parar.
Sobre a água, havia uma garota em um dos colchões de ar que o clube fornecia fazendo o possível para, com as mãos, remar até a borda da piscina mais próxima, que era onde eu estava. Havia muito pouca dedicação em seus gestos, mas, no final, a muito custo, ela conseguira o que queria.
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BLAM!
FanfictionBlaine é obrigado a se mudar para o Maine quando seus pais, por conta do trabalho, também se mudam. Angelina, a amiga de sua mãe, pessoa que não vê problema em aceitá-lo na própria casa durante esse tempo, é uma excelente pessoa, mas Blaine não tem...