A Madrugada

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Eu não conseguia ouvir mais do que a minha respiração na escuridão do quarto, e eu respirava pela boca, porque isso parecia acelerar o processo, forçar o conforto, tornar mais rápida a troca de ar.

Meu peito subia e descia e eu, agora sentado na beira da cama, contemplava o carpete do chão em vários pontos diferentes, como alguém faria ao procurar algo muito pequeno e que se perdeu.

Apoiei a cabeça nas mãos e, em pouco tempo, meus dedos estavam embrenhados nos cachos negros que eram os meus cabelos. A respiração já começava a ficar a normal. Foi quando a realidade caiu como um pacote jogado do teto dentro do quarto que eu voltei meu olhar para Sam.

E ele se soltou da parede. Não parecia de todo seguro; seu olhar ainda era assustado e ele também respirava pela boca, daquele jeito que só alguém que correu muitos quilômetros ou que passou por um momento muito grande de desespero pode fazer. Caminhou na minha direção calculando bem os passos, como se ainda tivesse medo de fazer barulho. Sentou-se ao meu lado, na beira da cama.

Olhei rapidamente para o seu rosto (Sam olhava para o carpete, como eu fizera há pouco), mas logo voltei minha atenção para o espaço entre suas pernas. O pênis, já quase amolecido, nem parecia o mesmo de antes. Agia como se planejasse se esconder por entre os pelos que deveriam protegê-lo. Ainda assim, essa imagem me excitava, porque aquele era Sam ao natural, no dia a dia, quando dirigia, quando se sentava à mesa para o café da manhã, quando ria durante um filme de comédia, sentado no sofá.

Havia rubor no meu rosto e uma vontade incrível de rir. Eu estava eufórico. Sam mantinha sua coxa encostada na minha não porque ansiava pelo meu toque, mas porque, ao se sentar, foi assim que se sentiu mais confortável. E ele estava confortável, estava à vontade, e estava do meu lado. Seminu.

Sam apoiou os cotovelos nas coxas e escondeu o rosto na mão, como eu tinha feito há pouco também. Ouvi-o suspirar. Vê-lo assim, tão desprendido de pudor, era inspirador, me fazia pensar em como a vida parecia algo tão bonito em momentos como aqueles. Fazia com que eu me sentisse feliz e quase me fazia acreditar em felicidade plena. Dormir na mesma cama que Sam todo dia e depará-lo daquele jeito era um sonho que eu tinha certeza de que jamais se realizaria, mas eu podia apreciar aquele instante e eternizá-lo na minha mente. E era isso o que eu ia fazer.

Sam riu. Afastou as mãos para a testa e, curvado daquele jeito, riu quase que em sussurros. Eu conseguia ver o branco dos seus dentes no perfil do seu sorriso, mas não mais do que isso. Claro que eu poderia ter perguntado algo, começado uma conversa, exposto minha curiosidade em saber o que ele pensava, mas... Isso não era comum. Eu não estava acostumado a ter conversas profundas com Sam. Quando seu pau não estava envolvido na coisa, éramos apenas colegas distantes que dividiam a mesma casa.

Além do mais, ele já tinha me passado o aviso: eu não deveria falar sobre aquele lance se ainda queria que ele se repetisse. E agora, sentado ao seu lado, o pau doendo entre as pernas, com o esperma de Sam espalhado pelo peito, eu tinha certeza de que eu queria que aquilo se repetisse por várias e várias vezes, quantas fossem possíveis.
Respirei fundo. Eu não conseguia me conter de tanta animação.

– Isso foi... – Sam disse de repente, ainda curvado sobre os cotovelos.

Não continuou a frase. Agora olhava para frente, como se procurasse na parede à frente a palavra perfeita para terminar aquela sentença. E eu só tinha olhos para ele.

– Isso foi emocionante – ele disse quando a encontrou, e assentiu algumas vezes com a cabeça, como se enfatizasse que realmente concordava com aquele ponto de vista. – É, foi isso.
Emocionante.

Voltou-se para mim. Os olhos claros pararam nos meus e não piscaram por um bom tempo. Eu tampouco tive coragem de fechar as pálpebras enquanto ele me olhava; tinha que guardar aquele momento na minha mente e o observaria por todo o tempo que fosse necessário.

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