O Amigo

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Angelina, naquela tarde de domingo, estava bastante animada enquanto preparava o nosso almoço. Permitira-se ligar o rádio e conhecia as músicas pop da atualidade tão bem quanto qualquer garota adolescente.

– Amo esses meninos do One Direction – dizia e ria, batendo uma colher de madeira em sua panela, onde uma espécie de molho vermelho era preparado. – Jovens, nem devem ter idade para serem presos, mas são talentosos como muito veterano não é!

Não estava falando comigo especificamente, mas quem estava na cozinha era eu, então, a fim de não deixar parecer que ela falava sozinha, soltei um muxoxo de concordância.

– Preparando o quê, mãe? – perguntou Sam ao surgir na cozinha. Imediatamente me retirei do meio do caminho, quando ele se deslocou na minha direção. O que ele queria era chegar à geladeira.

– No momento, molho de tomate, pois quero servir espaguete hoje – respondeu Angelina. – Acha que devo colocar almôndegas ou salsichas no macarrão?

– Salsichas fazem mal para o metabolismo, não fazem? – disse Sam, retirando da geladeira um galão de Sunny D.

– Posso não colocar nada no macarrão, se preferir.
– Almôndegas estão OK.

Sam abriu o galão e estava prestes a levá-lo aos lábios quando a mãe, mesmo de costas, notou o que estava para acontecer.

– Não ouse fazer isso! – ela esbravejou, apontando ameaçadoramente uma colher de madeira na direção do filho, uma que gotejava molho vermelho como o sangue coagulado de uma vítima assassinada há algum tempo. – Use um copo, como eu e seu pai te ensinamos a fazer!

– Blaine, poderia pegar um copo para mim? – Sam pediu, pousando com um baque o galão de suco de laranja sobre a mesa. – Pegue um para você também, se quiser.

– Não quero beber nada antes do almoço, obrigado – eu disse, abrindo o armário em que eu já sabia que ficavam os copos. Se tivesse que expressar em porcentagem o quanto eu agora, depois de alguns meses, me sentia à vontade naquela casa, eu diria que já estava setenta e cinco por cento bem. Grande parte disso era culpa de Sam.

– Você é quem manda! – ele disse ao receber o copo. Mesmo um simples resvalar de seu indicador no meu me fazia ter arrepios.

Eu já começava a agir como uma virgem desesperada por atenção e tinha plena consciência disso, razão pela qual eu me sentia tão constrangido na presença de Sam. Se pelo menos eu tivesse metade da autoconfiança que ele tinha...

– O Ralph vai vir aqui hoje – ele anunciou de repente, e o tom que usou para dar a notícia foi tão baixo que eu achei que ele tivesse dito aquilo só para mim.

– Ah, é mesmo? – sua mãe respondeu, no entanto.

– Ele vai vir para o almoço?

– Sim. Temos mais uma cadeira, prato e conjunto de talheres disponíveis?

– Temos isso e um colchão a mais, se ele quiser dormir aqui também – a mãe respondeu e, por um instante, eu fiquei sem saber se Angelina estava sendo irônica ou sincera. Será que seu senso de hospitalidade era tão intenso àquele ponto? Será que aquele era um costume de quem morava em Portland?

– Isso não vai acontecer – Sam replicou. – Só vamos fazer um trabalho de escola.

E eu senti alívio. Não sei por que razão especificamente, mas senti.

– Então ajeite suas coisas, nem que seja apenas varrer tudo pra debaixo do tapete ou da cama – Angelina aconselhou. – Não quero que seus amigos pensem que não somos pessoas organizadas, por maior que seja essa verdade.

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