A Festa

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Às dez horas da noite, eu me encontrava sentado no sofá da sala de estar, assistindo a um filme de suspense, explorando o conteúdo de um balde de pipoca que eu mesmo preparara. Em uma poltrona ao lado, estava Sam, estirado como um gato, dedilhando a tela de um celular, em silêncio. Havia algum tempo desde que havíamos falado alguma coisa, então o silêncio só era cortado pelo som da televisão, algo pelo qual eu me sentia grato, porque ficar em silêncio na companhia de Sam não era uma experiência muito agradável.

– Pronto – ele disse de repente e se levantou, enfiando o celular no bolso da bermuda. – Esteja pronto em uma hora, Blaine. Não vai querer estar com roupas de dormir quando o pessoal chegar.

O filme não era exatamente interessante, mas eu estava compenetrado no roteiro. Dessa forma, não entendi de primeira o que Sam quisera dizer e o questionei com um “Hum?”, sem tirar os olhos da TV.

– A festa na piscina que eu vou dar. Chamei um pessoal e eles já estão a caminho. Vão trazer bebida. Você sabe se tem algo que o pessoal possa comer?

Eu não podia crer que Sam estivesse falando aquilo para mim, e isso por uma série de motivos que iam desde o fato de eu não ser o dono daquela casa – e, portanto, não saber dizer se tinha algo para os convidados de uma festa comerem ou não –, até o de Sam querer dar uma festa assim, do nada, em plena noite de segunda-feira.

– Você não pode estar falando sério – foi o que consegui dizer.

– Se morasse aqui há mais tempo, saberia que estou falando sério, sim – ele disse e se retirou para a cozinha.

E eu o segui.

– É uma segunda-feira – era o único argumento que eu tinha.

– E daí?

– Sua mãe disse que contava com a sua colaboração para manter a casa em ordem.

– E em nenhum momento eu disse que vou deixar a casa bagunçada – ele disse e verificou o interior da geladeira. Satisfeito, se voltou para mim. – E não vou deixar. Vou dar a festa e depois vou arrumar tudo. – Caminhou na minha direção e parou com seu rosto a um palmo do meu. – E você vai me ajudar com isso. Não vai? – ele disse e tocou meu peito com o indicador.

Eu não queria ajudá-lo com arrumação de coisa nenhuma, porque, primeiramente, aquela ideia de festa era absurda. Mas o jeito como ele me olhava, não com ameaça, mas com compreensão, dando importância a mim, fez com que eu não tivesse coragem de negar o meu auxílio.

No entanto, mesmo eu estando disposto a dar a ele a resposta que procurava, eu precisava de uma justificativa que fosse convincente, e de preferência uma que não estivesse relacionada ao fato de eu me sentir tão atraído por Sam. A que encontrei, de imediato, foi:

– Sua mãe confia em mim, então, mesmo se você quebrasse a sua promessa, eu limparia essa casa sozinho.

– Essa é o espírito da coisa! – ele disse e acariciou meu ombro. Caminhou em direção aos armários e começou a abri-los. – Pelo visto, não tem nada para comer aqui, mas o pessoal vem para beber, então é só despejar esses pacotes de bolacha em vasilhas e espalhar pela casa. Não queremos ninguém dando perda total porque bebeu demais e não comeu, não é mesmo?

Que se dane!

Eu não tinha vindo para o Maine preparado para frequentar festas, até porque eu imaginava que não houvesse festas no Maine, sendo esse um lugar tão pacato. Vesti-me da melhor maneira que pude: uma bermuda jeans e uma regata vermelha. Seria uma festa da piscina, então não seria normal se eu me vestisse como se fosse a uma balada.

Quando desci para o andar de baixo, Sam estava (irresistivelmente) pronto também. Vestia uma bermuda de tecido leve e azulado que me fazia pensar em surfistas e uma regata que se ajustava ao seu corpo como se fosse feita sob medida. Na sala de estar, ele agora arrumava caixas de som e ajustava algo em um notebook.

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