Mais cedo, naquela mesma semana, eu tivera uma conversa com a minha mãe de um modo bem pouco convencional: pelo Skype. Tradicionalmente, a gente só se falava através de mensagens de texto e ligações curtas (segundo o que ela dizia, tinha pouco tempo para se dedicar às ligações, e, quando tinha, queria estar dormindo), mas eu estava com saudade de vê-la e ela dizia que estava com saudade também. Combinamos de nos encontrar no Skype no domingo, depois do almoço, quando, ela assegurava, teria um tempo para uma conversa.
E estava linda. Não me lembro de ter visto minha mãe tão bem arrumada quanto naquele vídeo, mas ela estava estonteante. Aprendera a usar maquiagem mesmo em dias corriqueiros, em que não teria que trabalhar. Seu cabelo estava mais bem penteado e eu podia jurar que estava mais claro. Era como se ela finalmente tivesse encontrado a felicidade, e eu já devia ter imaginado que a felicidade da minha mãe estava em trabalhar, porque ela sempredemonstrara grande interesse pelo trabalho. Devia se sentir completa agora, onde quer que estivesse.
Cumprimentamos-nos e foi ela quem elogiou minha aparência. Disse que eu estava ficando com cara de homem. Perguntou se a frequência com que eu fazia a barba tinha aumentado, e foi com certa infelicidade que eu disse que sim. Perguntou se eu estava me dando bem com a Angelina, apesar de ela ter o horrível costume de falar sem parar (palavras dela), e eu disse que eu e Angelina tínhamos uma ótima relação, sem mentira nenhuma. Perguntou como eu lidava com o filho dela. Eu disse que estava bem e não fiz mais nenhum comentário a respeito. O assunto “Sam” não era um do qual eu gostasse de falar – não que eu tivesse oportunidade ou pessoas com as quais falar sobre ele. Minha mãe deu-se por satisfeita com a pouca informação e eu me senti aliviado.
Eu não esperava que ela fosse abordar a minha possível volta para a casa naquela ligação, mas, após alguns instantes de silêncio, em que seus olhos ficaram apenas voltados na minha direção, ela me perguntou se eu estava pronto para reencontrá-los. Por um momento, eu não entendi de quem ela estava falando e isso ficou claro no meu rosto. Ela reforçou a questão, querendo saber se eu estava pronto para voltar a morar com eles.
Eu não estava, mas não disse isso. No lugar, perguntei como seria possível voltar a morar com eles, estando eles com essa vida tão instável. Minha mãe assegurou que ela e o marido tinham encontrado uma boa casa em um bairro de subúrbio e que ela tinha um quarto vazio à espera de mim.Mesmo assim, eu disse que era um absurdo largar a escola de Portland agora, durante um semestre, afinal, eu estava em época de provas e eu tinha estudado tanto... Ela disse que isso não seria um problema, que as escolas por lá não exigiriam tanto de um aluno novato, sabendo eles das dificuldades dessa mudança. Eu disse que duvidava disso. Ela disse que esse era o menor dos problemas. Eu disse que era melhor eu ficar no Maine e terminar o que já tinha começado.
Ela disse que talvez eu poderia estar atrapalhando a rotina na casa dos Evans.
Eu ainda não tinha pensado nessa hipótese, mas...
Por que eu atrapalharia? Eu fingia tão bem que não existia quando não estava nos momentos das refeições e ainda ajudava a lavar a louça e limpar meu quarto. Angelina não tinha por que reclamar, e isso era algo que ela mesma dizia para mim. Só se estivesse mentindo para não parecer indelicada.
Perguntei à minha mãe se ela sabia de algo que eu não sabia, e ela disse que não, que conhecia as pessoas e sabia que visitas só são boas para os anfitriões quando eles não são obrigados a conviver com a dúvida de se a visita vai embora em algum momento ou não.
Isso fazia sentido. Mas eu não podia me afastar de Sam agora, eu não podia simplesmente ir para o outro extremo do país e deixá-lo para lá. Se embaixo do mesmo teto eu já me sentia distante dele, com a distância essa sensação seria pior. Eu seria obrigado a me esquecer dele, mas isso só seria possível se eu o substituísse por outra pessoa. E quem no mundo seria como Sam? Eu nunca tinha conhecido alguém como ele e suspeitava de que jamais fosse encontrar.
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BLAM!
FanfictionBlaine é obrigado a se mudar para o Maine quando seus pais, por conta do trabalho, também se mudam. Angelina, a amiga de sua mãe, pessoa que não vê problema em aceitá-lo na própria casa durante esse tempo, é uma excelente pessoa, mas Blaine não tem...