Mesma face: diferentes personalidades

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"Ninguém é cem por cento mal ou cem por cento bom. A maldade e bondade estão presentes em todos nós. A diferença é que alguns são mais propensos em utilizarem o mal e outros mais o bem."

Estamos em 2012.

Tudo se inicia na cidade de Parreiral, um município com pouco mais de 50.000 habitantes, localizado nas serras do Rio Grande do Sul, conhecido pela arte da vinicultura e produção da uva Vitis labrusca Isabella, uma uva única, tão doce e saborosa que se confunde com jabuticabas.

É de manhãzinha, o sereno transforma as cores e texturas do ambiente deixando tudo branco como neve. O silêncio domina ruas, avenidas e os campos da cidade. Na rodoviária localizada próximo ao portal de entrada do município não é diferente, um silêncio tão esplêndido que só é interrompido pelos ansiosos passos de Dona Laura, que vão de um lado para o outro.
Acompanhada de Isabel, uma de suas filhas e Matias, um amigo, estava aflita:
-Que horas são minha filha? não era pra esse ônibus estar aqui? Será que aconteceu alguma coisa?
Impaciente, Isabel já estava ficando irritada com o drama da mãe, quando perde as estribeiras com Dona Laura:
-Sossega mãe! Não deve ter acontecido nada. O ônibus deve estar um pouco atrasado. Para de pagar mico nessa rodoviária vazia.
Observando a falta de educação de Isabel, Matias intervém:
-Você deveria ser mais gentil com sua mãe Isabel.
-Fecha Matias. Larga de ser intrometido, nem é da família e fica dando palpite. Nem sei o que você está fazendo aqui.
-

E você larga de ser ignorante. Estou aqui em nome da amizade que tenho com Bárbara, e pela sua mãe que pediu a carona.
- Sei muito bem quais são suas intenções, você não me engana não, larga de ser bobo, acha que durante todo esse tempo Bárbara não arrumou ninguém?
Constrangida com a atitude da filha, Dona Laura se resume a cruzar os braços e com um risinho forçado a dizer:
- Liga não Matias, Isabel assim porque teve que acordar cedo hoje.
- Pra falar a verdade eu nem dormi, saí direto do trabalho e tive que vir pra .
Aguardavam Bárbara, a outra filha de Dona Laura que acabara de se formar em Letras na capital.
Dona Laura estava que não se aguentava, afinal foram quatro anos se comunicando apenas por mensagens e telefonemas.
Bárbara é gêmea de Isabel, nasceram na mesma noite com apenas um minuto de diferença, são idênticas, não muito altas nem muito baixas, pele branca, cabelos negros, olhos castanhos, nariz arrebitados, corpo violão e seios fartos. Belas e graciosas por natureza nunca passam despercebidas. São de São Paulo, mas mudaram ainda crianças para Parreiral quando o pai delas conseguiu um emprego numa vinícola da cidade. Atualmente possuem 25 anos.
Se por um lado as semelhanças física impressionam, por outro as personalidades são bem diferentes.
Bárbara é uma mulher doce, delicada e gentil. Sempre trata todos com respeito e educação. Desde pequena sempre quis ser professora e batalhou muito para isso, assim que o pai morreu devido a uma cirrose no fígado, pois bebia muito, passou a ajudar a mãe na confecção de roupas para pagarem as despesas da casa. Assim que se formou no ensino médio prestou vários vestibulares para realizar seu sonho, até que conseguiu aos vinte e um anos. Daí partiu pra Porto Alegre, onde fica a Universidade. Sempre focada e estudiosa nunca teve tempo para namoros sérios, apenas alguns ficantes. Totalmente o oposto de Isabel.
Uma mulher ambiciosa, que sabe muito bem onde quer chegar. Gosta de vida fácil, sempre se recusou a ajudar a mãe nas costuras. Nunca gostou de estudar, ia pra escola apenas para arrumar namoradinhos e atrapalhar as aulas. Ao contrário de Bárbara ao terminar os estudos, nem quis saber de universidade, dizia que ia arrumar um emprego, que essa história de ser professorinha não era com ela. E arrumou, um emprego do jeito que ela gosta. Pra mãe e pros mais próximos ela diz que trabalha como balconista em uma casa noturna, mas na verdade o trabalho dela é bem diferente. É uma requisitada garota de programa num bordel disfarçado de boate na cidade. Esconde isso de todos, afinal se Dona Laura soubesse morreria de desgosto, pois não botou filha no mundo pra isso. Assim Isabel segue com sua vida dupla, e Bárbara atrás de seus sonhos.
O ônibus aponta na rodoviária e no meio dos passageiros surge Bárbara que corre em direção da mãe, que a recebe com muitos abraços e beijos:
- Filha como você está? quanto tempo não nos abraçamos, não nos vemos, não nos falamos. Você não sabe como estou feliz, contei cada dia, cada semana, cada mês, ano pela sua volta.
Emocionada e com lágrimas nos olhos, Bárbara retribui o amor da mãe:
-Eu também estou muito feliz minha mãe, não via a hora de retornar a Parreiral. Missão cumprida, agora nada mais vai nos separar.
Com cara de poucos amigos Isabel observa a cena, quando a irmã parte em sua direção:
- E você minha irmã que cara emburrada é essa?Não estava com saudades de mim?
- Por mim você poderia ficar por mais um pouquinho, tava tão bom sem as pessoas me confundirem com você na rua.
- Pelo visto você continua a mesma, larga de ser rabugenta e vem me um abraço.
Enquanto isso com o sorriso mais inocente do mundo Matias aguardava seu abraço:
- E você Matias, como está meu amigo? Não sabe como sua companhia me fez falta. Estou cheio de novidades pra te contar.
Matias era o melhor amigo de Bárbara, sempre foram muito unidos, desde crianças quando a família de Bárbara se mudou pra cidade nutrem uma forte e verdadeira amizade. Amizade por parte de Bárbara pois Matias queria muito mais que fossem simples amigos, ele guardava um amor muito grande pela amiga, um amor de homem e mulher, mas lhe faltava coragem para se declarar. Um amor tão intenso que fazia com que Matias apesar de estar com vinte e seis anos, ser inteligente, viril e atraente não conseguisse se envolver seriamente com outra mulher, se envolvia apenas em pequenos flertes. De família de classe média alta, se formou em matemática numa faculdade particular em Parreiral mesmo e dava aula num colégio particular da cidade.
Após muitos abraços todos seguiram para o carro de Matias que fez questão de guardar a bagagem de Bárbara e abrir a porta para ela entrar.
A recém formada professora não via a hora de chegar em casa, não foram quatro dias mas sim quatro anos fora do lar. Moravam em uma simples casa com uma sala, dois quartos, cozinha, banheiro e uma varanda, localizada em um bairro mais afastado do centro.
Ao chegarem, Bárbara logo desabafa:
- Nada como o lar. A experiência em Porto Alegre foi inesquecível, mas confesso que estava morrendo de saudade desse arzinho de Parreiral.
- Você pode louca Bárbara, não sei como vocês gostam desse fim de mundo. -Murmurou Isabel.
Assim se sentaram em volta da mesa de café que Dona Laura havia preparado antes de ir a rodoviária para receber a filha, e ficaram de prosa, afinal havia muito o que conversar.
Para provocar Matias, Isabel de cara pergunta:
- Como são os homens da capital Bárbara? Arrumou algum gaúcho interessante?
- São normais, iguais aos homens daqui. Arrumei apenas alguns ficantes, nada comprometedor não.
Constrangido Matias se levanta da mesa:
- Bom o papo está muito agradável, mas eu tenho que ir, dou aula agora no segundo tempo.
- vai Matias achei que você ia ajudar a Bárbara a tirar as coisas da mala e arrumar no guarda roupa.-Provoca Isabel.
Envergonhada Bárbara repreende a irmã:
- Me poupe Isabel desse seu humor sarcástico e cínico.
- Liga não Bárbara, já me acostumei com o veneno da sua irmã, ele não faz mais efeito sobre mim.
-Mas que pena que você tem que ir amigo. Depois me liga pra gente combinar uma volta pra colocar o papo em dia. Há...e não esquece que você prometeu que ia me ajudar a conseguir um emprego aqui nas escolas da cidade.

-Pode deixar, te ajudo sim e mais tarde te ligo. Tchau Dona Laura.
-

Tchau meu filho, obrigada pela carona, vai com Deus.
- Amém. Tchau Bárbara.
- Tchau Matias até mais tarde.
Agora só as três o papo continuou:
- E por falar em emprego. Você ainda tá trabalhando a noite Isabel?
- Tô sim. Continuo como garçonete lá na boate da Teodora.
- Mas não era balconista minha filha? -Confusa indagou Dona Manuela.
Tentando concertar a situação Isabel desconversa:
- É balconista, garçonete tudo a mesma coisa. Agora deixa eu ir dormir um pouco que à noite eu que tenho que pegar no batente.
- Eu já falei pra você arrumar outro serviço mas você não quer, não gosto dessa ideia de você trabalhar à noite é muito perigoso.
- Não é que eu não quero mãe, trabalho hoje em dia tá difícil, quem tem o seu tem que preservar. Agora deixa eu dormir.
Enquanto isso na sala Bárbara e Dona Laura continuam a conversa com muitas risadas quando dos fundos da casa se ouve os gritos de Isabel no quarto:
- Dá pra falar mais baixo, quero dormir...
Aos cochichos mãe e filha matam a saudade. Afinal como era bom ter a filha de volta ao lar.
E dessa forma seguem os dias, Dona Laura na costura, Bárbara atrás de um emprego como professora, Matias ministrando suas aulas e tentando criar coragem para se declarar para a mulher de sua vida e Isabel com sua ambição sem limites.

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