A UVA PODRE

Os cruéis também amam

" Os que não demonstram seus sentimentos se dizem fortes. Mas na verdade são fracos. Fracos por não terem a coragem suficiente em assumirem quem se ama."

Bárbara assim como qualquer mulher que dá a luz, se recuperava aos poucos. Matias se mostrava um excelente enfermeiro, cuidando da mulher de sua vida e da criança, como vasos de vidros que podem se quebrar a qualquer momento.
No Elite Gaúcha Isabel, a impostora, retornava ao colégio após um período sabático fingindo sofrer devido ao suposto aborto espontâneo. No papel de Bárbara como mulher e amiga até que se saia bem, já no papel de vice-diretora era um desastre, mas como a bichinha era astuta, sempre dava um jeito de se safar das inevitáveis armadilhas que a função a colocava. Naquela manhã da sua volta ao colégio, os funcionários prepararam até uma festinha surpresa com direito a bolo de chocolate. Num cartaz os dizeres: seja bem vinda traduzia o carinho de todos por ela. Contudo uma pessoa entre os funcionários lhe chamava a atenção, ou melhor um novo funcionário, o qual nunca tinha visto por ali. Se tratava de Danilo, o novo inspetor de alunos, contratado em sua ausência. Um jovem inspetor de 24 anos, que lhe chamou bastante atenção, branco, forte, bem malhado, olhos azuis. E com muitas tatuagens pelo corpo, o que fascinava ainda mais a farsante. Nunca um homem havia lhe atraído daquela forma, e olha que ela já havia se deitado com os mais diferentes perfis que possa se exemplificar.
O inspetor havia mesmo enfeitiçado Isabel, chegou até cogitar está apaixonada, já que estava sendo vítima daqueles tradicionais sintomas que deixa a pessoa boba ao se apaixonar por alguém. Diria que uma paixão avassaladora tomava o coração de Isabel, a qual ela já não tinha mais como controlar. Apesar disso não poderia fazer nada além de se contentar em admira-lo, já que era Bárbara. E Bárbara nunca teria coragem de trair o marido. E Isabel também não queria demonstrar seus sentimentos, achava que isso era coisa de fracos.
Com o passar dos dias Danilo já percebera que a " mulher do diretor" estava interessada em sua persona, devido aos seus reveladores olhares que a denunciavam. Era questão de tempo para o jovem também se apaixonar e retribuir os olhares, afinal aquela mulher era uma tentação. E foi o que aconteceu. Danilo também se apaixonou. Mas de que adiantava um pensar no outro o tempo todo, se não podiam ultrapassar as barreiras do respeito?
Isabel tentava se controlar de todas as formas possíveis, mas a sua forma intensa de viver a vida, lhe impedia. Mais uma vez aproveitando-se da ausência de Raul, que iria a uma feira de livros em São Paulo, adquirir alguns fascículos para o colégio, entregou a Danilo um bilhete com os dizeres: ME ENCONTRA ASSIM QUE BATER O SINAL PARA OS ALUNOS ENTRAREM EM SALA NA BIBLIOTECA. ASS: BÁRBARA. Aquilo perturbou Danilo, que pensou dezenas de vezes na possibilidade de ir ou não ao encontro. Todavia apesar da incerteza foi assim mesmo, queria saber o que seu amor secreto, havia a lhe dizer.
Chegou ao local marcado, bateu na porta e com a voz de quem não sabia o que lhe esperava, disse:
- Licença vice-diretora, pediu para que viesse aqui.
- Entre Danilo, encoste a porta e fique a vontade.
- O que a senhora deseja?
- Te chamei aqui pra te dizer, que te acho uma pessoa bem interessante.
- Obrigado senhora.
- Interessante em todos os sentidos, se é que você me entende.
- Perdão senhora, mas estou trabalhando, aqui não é lugar para isso.
Isabel vai em direção ao rapaz, o abraça por de trás e diz:
- Para de se fazer de santo, você sabe que me enlouquece, que me deixa louca, e eu sei que isso é recíproco, é so olhar a forma como você me olha.
- Confesso que você me tirou o sono, só penso em você, desde que a conheci, mas sinto muito, você é comprometida, mulher de meu patrão, não podemos, me desculpe.
- O que isso importa se a gente se ama, nunca um homem mexeu tanto assim comigo. Podemos ser amantes.
Danilo rejeitava as investidas da farsannte, que naquele momento demonstrava os mais verdadeiros sentimentos, se entregando como Isabel faria:
- Não podemos senhora, não insista. Infelizmente não podemos.
- É uma pena, te entendo, se ao menos eu não fosse Bárbara, se eu fosse uma outra pessoa, talvez poderíamos nos entregar nessa avassaladora paixão que nos consome.
- Não to te entendendo.
- Deixa pra lá, agora me beije, me beije, estão todos em sala, vamos correr esse risco.
- Desse jeito não consigo resistir.
- Tenho algo a lhe revelar, algo que poderá remover as paredes que nos impedem de ficarmos juntos. Algo revelador. Mas antes me beije, me consuma Danilo.
Assim se beijam ardilosamente, como se não houvesse o amanhã, nem o depois de amanhã. Porém o que não esperavam eram ser surpreendidos por Talita, que esquecera sua bolsa na biblioteca e retornara para pegar:
- Bárbara! O que significa isso.
Com a expressão de assustada "Bárbara" tenta se explicar.
- Talita não é nada do que você está pensando.
- Como não, estou vendo com meus próprios olhos você aí se esfregando com o inspetor. Que diga- se de passagem, um safado, que acabou de ser empregado e já tá traindo o patrão. Onde esse mundo vai parar?
Danilo sai da biblioteca completamente envergonhado.
Isabel, a falsa Bárbara tenta se explicar:
- Me desculpe Talita, não sei o que deu em mim, que me senti atraída por esse inspetor, acabamos nos beijando, mas foi só isso, nada além disso.
- Como se isso ainda fosse pouco.
- Por favor Talita não conta nada pro Raul não. Por favor.
- Não sei não, isso aqui é um colégio, estamos lidando com crianças e adolescentes, temos que dar o exemplo. Isso que vocês fizeram é muito grave.
- Eu sei, prometo nunca mais fazer isso, foi só um deslize, não conte nada a ninguém, eu te imploro.
- Tá bem Bárbara eu não revelo nada a ninguém, mas com algumas condições, que você se afaste desse rapaz, Raul não merece passar por isso, vou ficar de olho em vocês e se notar qualquer coisa suspeita, me desculpe mais vou ter contar tudo pro Raul.
- Muito obrigada Talita, não sei nem como te agradecer.
- Que fique bem claro que só estou fazendo isso devido a forte amizade, que nós duas construímos. Juro Bárbara que não esperava isso de você, pra falar a verdade, ultimamente estou te achando muito estranha.
- Estranha? Não estou normal, é só impressão sua, e mais uma vez muito obrigada.
Restava a Isabel, digo "Bárbara" apenas se afastar de Danilo, por mais que aquilo a machucasse profundamente.