Novos Caminhos

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" Saber recomeçar. Esse é o maior desafio dos homens que desejam encontrar a sua paz."

Após alguns meses de muita dor, devido a morte da mãe seguida pela traição da própria irmã, Bárbara resolveu que era hora de recomeçar, escrever uma nova história. Assim ela fez, acordou cedinho e bateu de escola em escola, seja pública ou particular, atrás da tão sonhada vaga de professora de português. No entanto por mais que ela se esforçasse, não conseguia nada, nem uma entrevista de emprego seguer, mas seguia confiante, com Matias sempre ao seu lado, tinha a certeza que uma hora as coisas iam dar certo.
No outro lado da história assim que venceu o processo pela casa, Isabel tratou de colocá-la a venda. Não demorou muito para que aparecesse algum interessado, pois o bairro era bem tranquilo, um bom lugar para se viver. Sessenta mil, esse foi o valor, pelo qual conseguiu vender o imóvel. Quanto aos móveis, camas, geladeira, fogão entre outros jogou tudo fora, os transformando em meras sucatas, para ela tudo aquilo não passava de quinquilharias.
Tinha ambiciosos planos com aquele dinheiro, tinha em mente ir para Porto Alegre, fazer fortuna, abrindo seu próprio bordel. Tinha cansado de ser explorada, tratada como objeto, agora queria explorar, ter poder, ser a dona. Assim que recebeu o valor da venda somou-o com a quantia que havia guardado pelo trabalho que fazia, colocou o dinheiro numa bolsa, arrumou a mala com alguns pertences e comprou a passagem, apenas de ida, estava mesmo disposta a sumir de Parreiral. Mas antes disso não poderia perder a oportunidade de acertar as contas com Teodora, a cafetina que a explorava como um garimpeiro explora uma mina de ouro. Naquele mesmo dia antes de partir pegou um táxi e foi até o bordel, deixou suas coisas no carro e disse ao taxista que não demoraria muito, iria apenas resolver um assunto pendente. Teodora estava se produzindo em frente ao espelho, e surpresa se assustou com a entrada de Isabel:
- Isabel, você por aqui. Ainda não está no seu horário, são seis horas ainda, só vamos abrir às nove.
-Eu não vim aqui pra isso Teodora.
- Veio aqui pra quê então?
- Pra lhe comunicar que estou indo embora.
- Como assim embora, tá louca?
- Isso mesmo que você ouviu estou indo embora, e pra sempre, pra nunca mais voltar.
- Você só pode tá de brincadeira né, você precisa disso aqui pra sobreviver, agora mais do que nunca após a morte da sua mãe, a única coisa que você sabe fazer na vida é isso aqui.
- Aí, que a senhora se engana, posso não demonstrar mas sou muito inteligente ou a senhora achou que eu iria passar o resto da minha vida enchendo os seus cofres.
- Senhora não, você sabe como eu detesto ser chamada disso.
- Mas é isso que você é, uma senhora, velha, ultrapassada, acabada.
- O que é isso Isabel? Você nunca me tratou dessa forma?
- Cansei, cansei de ser seu bichinho de estimação, sua velha exploradora.
- Disgraçada, agora que você resolveu que não precisa mais de mim, resolveu se rebelar, me afrontar sua vadia.
- Olha quem fala, se eu sou a vadia daqui, imagina o que você é.
- Ingrata, eu que te apoiei desde o início, te ajudei a esconder tudo da sua família, te apresentei aos clientes mais ricos, te levava todos os dias em casa e agora é isso que você me retribui.
- Ajudou por que era conveniente, afinal quem mais dá lucro nessa espelunca sempre fui eu. Porque se dependesse de você isso aqui já tinha falido há muito tempo, afinal quem quer pagar por uma velha horrorosa como você.
Isabel tinha tocado na ferida de Teodora, vaidosa, nunca conseguiu aceitar que o tempo passou para ela. Furiosa pega uma tesoura que estava sob a cômoda e parte para cima de Isabel que a segura pelos pulsos com tanta força que a tesoura cai sob o chão. Com muita raiva, Teodora não conseguia fazer um arranhão se quer em Isabel, afinal era uma mulher de cinquenta e sete anos contra uma jovem de vinte e cinco. Sem forças cai ajoelhada sob os pés de Isabel, que a humilha com um enorme prazer:
- Velha sim. Exploradora. Olha pra você maquiada que nem uma palhaça, com esse vestidinho curto pra quê, pra mostrar essas pernas cheias de crateras, esses seios todo caído. Sem falar nesses dentes, tão amarelo de tanto fumar. Seu rosto cheio de rugas e olheiras.
Quanto mais Teodora se debatia e chorava, mais Isabel sentia prazer de fazer aquilo:
-Velha ultrapassada. Acabada. Você não é mais nada. Ninguém te quer mais, ninguém te deseja mais.
Se debatendo no chão e chorando de soluçar, Teodora só conseguia gritar:
- Some daqui, sai daqui. Desgraçada. Sai daqui...
Após o acerto de contas com Teodora, Isabel seguiu para Porto Alegre. Nos primeiros dias na capital, ficou num hotel, nos dias seguintes conseguiu encontrar um lugar que desejava, um espaço para o bordel que abriria e aos fundos um local onde poderia morar. Investiu no ambiente escolhido, fez reformas, pintou, decorou, colocou luzes, deixou o lugar perfeito, do jeito que queria. Investiu tanto, que fechou no vermelho, mas sabia que iria recuperar tudo rapidinho. Aliciou algumas meninas para o negócio, umas aceitaram por não terem escolha, pois precisavam do dinheiro, outras porque gostavam daquele tipo de vida mesmo. Em pouco tempo o Bela night, nome que escolheu para o bordel já estava funcionando. E a cada dia que se passava o estabelecimento ficava ainda mais famoso na capital.
Já em Parreiral cada dia que ia embora Bárbara se desanimava cada vez mais, parecia que o destino estava contra seus sonhos.
Mas em uma manhã qualquer daqueles dias, Matias chegava do colégio Elite gaúcha, no qual trabalha, com a melhor notícia que Bárbara poderia receber, entrou pela porta todo afobado:
- Bárbara, Bárbara, cadê você, tenho uma ótima notícia pra te dar.
- Oi Matias, estou aqui na cozinha terminando de fazer o almoço. O que que deu em você? Porque tá assim?
- Você não vai acreditar no que tenho pra te falar.
- Fala logo, você sabe como eu sou curiosa.
- Lembra que eu te falei que tinha uma professora lá no colégio, que estava prestes a mudar de cidade?
- Lembro, e daí?
- Então ela pediu demissão hoje, e o colégio abriu uma nova vaga pra professora de português.
- Você tá brincando? Já não era sem tempo. Vou lá agora mesmo.
- Não vai ser preciso. Eu indiquei você pro Raul, diretor e dono do colégio. E o melhor de tudo é que ele quer que você vai pra uma entrevista amanhã cedo mesmo.
- Mentira.
- É verdade verdadeira, pode acreditar.
Radiante de alegria Bárbara deu um forte abraço em Matias, que também não se aguentava de tanta felicidade:
- Obrigado Matias, não sei nem como lhe agradecer. Você é o melhor amigo que uma pessoa poderia ter.
No dia seguinte, assim que amanheceu Bárbara e Matias tomaram o café por garganta abaixo e foram pra entrevista, o diretor queria conversar com ela antes que começassem as aulas do dia.
Assim que chegaram, Matias a levou até a sala do diretor que já os aguardava. Raul disse apenas um entra, de cabeça baixa analisava algumas planilhas, quando se vira para o alto e parece não acreditar no que estava vendo. Por alguns segundos ficou em silêncio, devorava Bárbara apenas com o olhar, nunca tinha visto uma mulher tão bela como aquela. Raul é formado em história, junto dos já falecidos pais também professores fundou em Parreiral o Elite gaúcha, colégio referência em ensino de qualidade na região. Acabara de separar, após um noivado que perdurou por oito anos. Paulista, pode ser considerado um atraente galã, sempre de colarinho, moreno de pele clara, malhado, alto, olhos castanhos, cabelo curto e traços bem marcados. Possuía trinta e dois anos.
Antes que falassem alguma coisa, os olhares de Bárbara se cruzavam com os de Raul, ela também ficou balançada com a figura que via em sua frente, os lábios se mexiam inconscientemente, dando indícios de que estavam bem atraídos um pelo outro.
Sem perceber o clima que estava ocorrendo entre Raul e Bárbara, Matias apresentou a amiga ao diretor:
- Bom dia Raul, bom essa aqui é a Bárbara, professora de português que eu te falei.
- Bom dia Matias. Bom dia Bárbara, muito prazer me chamo Raul e sou o dono aqui do colégio.
Ao se cumprimentarem, as mãos tanto de Bárbara como Raul suavam frias:
- O prazer é todo meu.
- Bom, o Matias já deve ter falado que estamos precisando de uma professora nova aqui né. Então gostaria de fazer uma entrevista com você. Pode ser?
- Claro, estou a sua disposição.
Após alguns minutos de conversa, Raul já tinha se decidido:
- Gostei de você Bárbara, acho que você pode acrescentar muito aqui em nosso colégio. Precisamos de uma professora jovem, com vontade de ensinar, que tenha prazer no que faz.
- E isso quer dizer...
- Quer dizer que você está contratada. Pode começar amanhã mesmo.
- Ha, nem acredito. Muito obrigada. Não tenho nem como agradecer o senhor.
- Senhor não, sem formalidades pode me chamar de você.
Matias também estava muito feliz ia ter Bárbara como colega, além de conviverem em casa, agora também passariam a conviver no trabalho. E por mais que ela o considerasse apenas um amigo, ele tinha a esperança que um dia se tornassem marido e mulher.
Após a entrevista, ainda na sala da diretoria Matias convidou a amiga para um jantar mais tarde, pois aquilo merecia uma comemoração. Raul apenas observava. Bárbara aceitou o convite do amigo que ficara radiante de tanta alegria.
Enquanto o dia seguinte não chegava, Raul e Bárbara não conseguiam parar de pensar um no outro. Relembravam aquele encontro á todo momento, estavam perturbados tentando entender por que mexeram tanto um com o outro.
Na capital, o Bela night se tornava um paraíso para os perversos, se consolidava como um local discreto onde se podia realizar as mais excitantes fantasias sem ser descoberto. Reunia políticos, empresários e as mais diversas autoridades. Isabel agora era cafetina, apenas mandava e desmandava, não se deitava com mais ninguém por obrigação, apenas quando queria e por livre e espontânea vontade.
Mas em meio a tantos clientes poderosos, um chamava a atenção. Um homem que apenas estava ali para admirar Isabel, não se deitava com ninguém, e com olhar penetrante admirava a cafetina como quem admira uma obra de arte.

A UVA PODREOnde histórias criam vida. Descubra agora