O inesperado desfecho

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Isabel e Bárbara seguem numa difícil negociação:
- Sim Bárbara, finalmente só nós duas. - Diz Isabel.
- Você não tem vergonha na cara não. Sua covarde. Você teve coragem de raptar uma inocente criança pra negociar sua vida.
- Cala a boca. Eu estou armada, você não está vendo.
- Você acha que o fato de você está armada me intimida.
- Eu já mandei você calar a boca. Se não eu atiro.
Bárbara se levanta e olhando nos olhos da irmã a enfrenta:
- Então atira. Atira Isabel, acaba com isso logo de uma vez. Atira.
- Há, há, há, essa altura resolveu criar coragem e me enfrentar?
- Atira. Vamos. Pelo que vejo aqui quem perdeu a coragem foi você.
- Não diga bobagens. O que eu ganho com a sua morte? Só resolvi trocar o bebê por você, porque vou fazer você de escudo. Como disse não vou sair daqui presa. E eu sempre consigo o que eu quero, ao contrário de você que sempre perdeu pra mim, sempre foi humilhada por mim. Sua Maria mijona.
- De onde vem essa sua raiva por mim. O que eu te fiz? Até hoje eu não consigo entender de onde vem isso.
- Não se faça de sonsa. Você sabe muito bem que eu te detesto porque você sempre roubou tudo que era meu. Todas as atenções. E você sempre fez tudo isso de propósito.
- Eu nunca fiz nada de propósito pra te prejudicar. Isso são coisas da sua cabeça.
- A mamãe e o papai sempre preferiram você do que a mim. Sempre você era a melhor em tudo. Era o anjo em pessoa e eu o demônio.
- Mentira. Mentira. Sempre deram a mesma intensidade de amor pra mim e pra você.
- Mas não era isso que eu sentia. Sempre me senti inferior. Esquecida.
- Porque você é uma louca e sempre foi.
- Não. Eu não sou louca. Eu só queria ser amada igualmente. Tratada da mesma forma. Mas não. Estavam sempre me xingando, me colocando de castigo.
- Faziam isso pra você criar juízo. Pra você aprender a respeitar as pessoas. Ou você se esqueceu de toda a maldade, de tudo que você fazia.
- Não. Eu não me esqueci de nada que eu fiz. Assumo tudo que eu fiz. E não me arrependo. Tudo que eu fiz tem justificativa.
- Não adianta Isabel. Nada justifica suas maldades. E aquele golpe que você me deu, assim que a mamãe morreu. Qual a justificativa pra aquilo?
- Aquela casa era minha por direito. Você foi embora estudar e me deixou lá tendo que cuidar de tudo sozinha. Aí depois você volta achando que tinha direito a alguma coisa.
- Eu estudei sim, porque foi a minha escolha de vida. Você não estudou porque você não quis. Achou que ia ficar rica da noite pro dia. Mas se deu mal e agora tá aí sendo cassada pela polícia.
- Cala a boca.
- Você vai pagar por todos os seus crimes, por tudo de errado que você fez.
- Cala a boca. Eu já disse. Vou atirar.
- Então atira. Mata a sua irmã e carregue esse peso pro resto da sua vida. Porque você não vai sair daqui ilesa.
- Você tá brincando com fogo. A hora que eu te matar você vai sossegar. Pensa no seu filho, mal nasceu e já vai ficar órfão.
- Eu sei que caso eu saia daqui morta, o meu filho vai ser muito amado pelo pai dele. Não adianta Isabel, é melhor você se entregar, porque eu prefiro morrer, acabar com a minha vida do que deixar você escapar.
- Se é assim que você quer. Só me resta te matar.
- Se você fosse mesmo me matar. Você já teria atirado faz tempo. Você sempre quis ser rica, poderosa, ter dinheiro, mas você não passa de uma bandida, uma criminosa, uma covarde.
Naquele momento Isabel começa a chorar e como quem já não suporta mais o que ouve diz:
- Cale-se.
- Vamos Isabel, se entregue. Olha só pra você, no que você virou, se tornou um monstro, uma pessoa sem coração, sem escrúpulos. Você não se arrepende de seus pecados?
- Eu fiz o que achei que era melhor.
- E isso é o melhor? Você apontando um revólver pra sua irmã. Acerte suas contas com a justiça, pague por seus erros, vai se tratar, procurar ajuda.
- Chega. Agora eu me livro de você de uma vez por todas da minha vida.
Isabel levanta o revólver. Estava determinada a atirar. Entretanto são surpreendidas com um forte vento, que faz as coisas voarem, tudo sai do lugar, pratos, copos caem no chão. Portas e janelas batem. Um vento misterioso, que surgiu do nada, como se tivesse vindo do além. Isabel persiste com o revólver na mão, mas parece escutar vozes.
Vozes da sua falecida mãe, dona Laura, que diziam o seguinte:
- Não atira, por favor, não atira, é a sua irmã. Não atira.
- Cala a boca voz maldita. - Diz Isabel atormentada.
- Você está ouvindo vozes Isabel. Você está louca. Precisa de tratamento. Abaixe essa arma e se entregue. - Diz Bárbara.
As vozes permanecem:
- Não atira, não atira, é a sua irmã. Se entregue. Eu sempre te amei minha filha e sempre vou te amar, independente dos seus defeitos. Eu sempre vou te amar. Agora se entregue. Quero o seu melhor.
Naquele momento Isabel cai de joelhos no chão. Como uma estátua que desaba. Começa a chorar. Chora como uma criança. Desiste do que fazia e só consegue chorar. Parecia estar arrependida, envergonhada, não conseguia olhar nos olhos de Bárbara, com a cabeça baixa, olhando para o chão, diz:
- Sai, vai embora Bárbara, sai. Vai ser feliz.
Bárbara sai correndo pela porta afora, vai em direção ao marido e ao filho. Todos ficam aliviados.
A polícia entra na casa, algema e leva Isabel para o camburão. Sai ainda com a cabeça baixa. Teodora fica morrendo de pena, quando Isabel passa por ela, como quem quer se desculpar diz:
- Eu fiz o melhor pra todos Isabel. Espero que me perdoe.
Isabel entra na viatura e é encaminhada para a delegacia.
Agora dali em diante todos teriam paz.


A UVA PODREOnde histórias criam vida. Descubra agora