Todo pesadelo tem um fim

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Vinte dias se passam desde o nascimento de Gabriel.
No cativeiro de Matias, a verdadeira Bárbara já estava melhor, recuperada do trabalhoso parto. No entanto representava ainda estar fraca, pois assim Matias mantinha o quartinho onde se encontrava destrancado. Desde que deu a luz, ele mantinha a porta do cômodo apenas encostada, já que necessitava de cuidados e atenção especial. Assim acreditava que seria mais fácil para uma eventual fuga com a porta destrancada.
Apesar das dificuldades, Bárbara mantinha-se firme e forte em sua fé, não tinha um só dia que não pedia ao Senhor a chegada do dia em que se veria livre. Como uma escrava que reza por sua alforria, Bárbara rezava por sua liberdade.
Aquele tão sonhado dia parecia nunca chegar, mas quando menos se esperava ele chegou.
Fingia estar dormindo.
Matias entrou no banheiro para tomar um banho. Seus banhos costumavam ser longos e demorados, aquele não foi diferente. A porta do quarto estava destrancada, e Bárbara decidida que aquele era o seu último dia naquele inferno. Levantou-se sorrateiramente, revirou os outros cômodos da casa, atrás de algo que pudesse lhe ajudar naquela fuga. Nas gavetas do quarto de Matias se deparou com um molho de chaves, que foi deixado ali por um descuido do compulsivo e apaixonado sequestrador. Naquele momento uma esperança tomou conta de sua alma. Cuidadosamente deixou a criança no berço e iniciou uma incessante tentativa de abrir a porta da sala. Pacientemente testou uma por uma das chaves. Deu certo, a porta se abriu. O mesmo fez com o imponente portão e seu cadeado, mais uma vez deu certo, o portão se abriu. Voltou ao interior da casa, pegou algumas cédulas de dinheiro que estavam na carteira de Matias, pegou o filho, o enrolou em algumas mantas e fugiu. Assim que colocou os pés para fora do cativeiro, se viu desesperada, temia que Matias percebesse sua fuga e saísse a sua procura. Pegou um táxi, pediu ao motorista que seguisse para a rodoviária, o taxista percebeu sua apreensão, perguntou se estava tudo bem, ela confirmou que sim. Desceu na rodoviária perguntou a atendente que horas sairia o próximo ônibus para Parreiral, foi respondida que daqui há trinta minutos. Tempo demais. Matias poderia surgir ali a qualquer momento, então resolveu se esconder no banheiro do terminal, até que o ônibus partisse.
Matias saiu do banho, ainda enrolado na toalha percebeu que havia algo de errado, em poucos segundos, percebeu que Bárbara havia fugido. Irado começou a chorar e gritar:
-Bárbara você me traiu, fugiu, me enganou. Volta meu amor, por favor. Volta.
Se vestiu, pegou o carro e saiu a procura de Bárbara, vistoriou todas as ruas próximas, mas nada, não a encontrou em lugar algum. Desistiu da busca, retornou a casa, se deitou na cama onde mantinha Bárbara. Cheirando os lençóis, começou a chorar, como se ela estivesse morta, como se a tivesse perdido para sempre.
Após 8 horas daquela apreensiva viagem, Bárbara havia retorna a Parreiral. Pegou um novo táxi, quase que o dinheiro que estava consigo não deu, sobrou apenas algumas moedinhas. O destino, o apartamento de Talita.
Talita assistia televisão. A campainha toca reproduzindo um som desesperado, de quem tinha muita pressa. Acelerou-se para ver quem era e ao abrir espanta-se:
- Bárbara? Que criança é essa? Parece estar fugindo. O que está acontecendo?
Com a voz trêmula devido ao frio, já que estava com uma fina roupa, a legítima Bárbara só conseguia dizer uma coisa:
- Eu sou a verdadeira Bárbara, aquela outra é uma farsante, uma impostora.
- O que você está me dizendo? Entre, você está pálida de frio, não estou entendendo nada.
Talita a enrolou num edredom junto com a criança, fez o possível para acalma-la e quando obteve êxito, voltou a questionar:
- Agora mais calma, me explique essa história.
Aos pouco Bárbara lhe revelou tudo, desde o dia do casamento até a sua desesperada fuga, não deixando escapar um detalhe se quer. Talita, como não podia ser, ficou incrédula, diante de tal história. A professora de Geografia também revelou algo a Bárbara, lhe contando sobre o flagra que havia feito de Isabel junto do inspetor. Bárbara se sentiu ofendida com a atitude da irmã:
- Eu nunca trairia o Raul com outro homem, ele é o homem da minha vida.
- Então, achei tudo aquilo muito estranho, pensando devagar agora, noto que faz todo sentido, que aquela não é você, ela é muito estranha e diferente da Bárbara que conheço. Mas quem poderia imaginar que se tratava de uma outra mulher?
- Ninguém desconfiou de nada? Que ela poderia ser outra pessoa.
- Ninguém. Conseguiu enrolar todos nós direitinho.
- Se casou no meu lugar, foi pra cama com meu marido, fingiu ter perdido nosso filho, ajudou Matias a me sequestrar. Minha própria irmã foi capaz de tudo isso.
- Realmente ela é um monstro. Ai que raiva, a minha vontade é ir lá agora, desmascarar ela, dar uma surra naquela pilantra e entrega-la pra polícia.
- Fico pensando no Raul, o tanto que ele sofreu com essa história da falsa gravidez.
- Ele sofreu bastante mesmo, e aquela farsante também fingiu sofrer bastante, falsa.
- Imagina agora que ele descobrir que o nosso filho está vivo. Não vejo a hora de me reencontrar com ele e puder revelar tudo.
- Quem poderia imaginar que o Matias era apaixonado por você e que iria se aliar a sua irmã golpista, desaparecida pra armar tudo isso.
- Pra você ver. Mas eu acredito que foi tudo invenção da Isabel, ela soube usar ele direitinho pra conseguir o que queria, o meu lugar. Não acredito que Matias teria tais ideias, ele sempre foi meu braço direito, meu melhor amigo.
- É, mas fez tudo isso. Com aquela cara de anjinho dele não fica atrás também não.
- Por esse lado verdade.
- O seu bebê é lindo Bárbara. parabéns! É a cara do Raul.
- Obrigada.
- Agora o que você pretende fazer em relação a Isabel e Matias? Vamos na delegacia?
- Não. Tenho um plano melhor.
- Qual?
- Amanhã você irá dar aula normal, como se não soubesse de nada, fingindo acreditar naquela farsante. Então você marca um encontro com ela aqui em sua casa, assim eu apareço, dou a surra que essa golpista sempre mereceu, quero descontar toda minha raiva, antes da gente entregar ela pra polícia. Quanto ao Matias amanhã eu o denunciarei pras autoridades.
- Mas você não acha que o Matias vai avisar a ela da sua fuga? Assim vamos dar tempo para ela escapar.
- Creio que não, Matias está pertubado, vai querer fugir, se esconder da polícia, a última coisa que ele vai querer é retornar pra Parreiral, e em todo esse tempo que fui mantida presa lá, nunca vi ele entrando em contato com a Isabel, não deve nem ter o número dela, eles não queriam criar nenhum tipo de vínculo que pudesse desmascarar o plano deles.
- Vai ser muito difícil fingir não saber de nada, mas por você, a verdadeira Bárbara, vou me esforçar.
- Obrigada Talita, você é um anjo enviado por Deus em minha vida.
- Quê isso, você que é um na minha. E você tem todo meu apoio para ensinar uma lição pra sua irmã nunca mais esquecer.
Por alguns segundos o silêncio toma conta da sala, Talita olha profundamente em Bárbara, que fica sem jeito:
- O que foi?
- Estou olhando pra você, como conseguiu passar por tudo isso e ainda está aqui pra contar a história. Guerreira. Me dê um abraço.
Emocionadas e com lágrimas de felicidade se abraçam.
Após a emoção e calor do momento, Bárbara toma um banho quente, enquanto Talita improvisa um banho morno para Gabriel. Jantam. Bárbara amamenta a cria e vão dormir. Naquela noite dormiram os três juntos, já que a cama de Talita era uma espaçosa e confortável cama de casal. Não viam a hora de chegar o dia seguinte.

A UVA PODREOnde histórias criam vida. Descubra agora