A UVA PODRE

A dama da uva

* As poucas personagens que surgirão nos próximos capítulos apesar de serem da Espanha manteremos os diálogos na língua portuguesa, para facilitar o entendimento do leitor.

Após a tão aguardada noite de núpcias, assim que amanheceu Alejandro apresentou os empregados da casa à Isabel:
- Esses aqui são os nossos empregados, trabalham na casa desde que meu falecido pai ainda era vivo. Essa mais nova se chama Cissa, cuida da arrumação da mansão, a cozinheira se chama Consuelo, a comida dela é maravilhosa, você vai ver só. Esse aqui é o Afonso, motorista antigo da família, estará sempre a sua disposição Isabel para você ir aonde quiser. Tá faltando o Bernardo, ele é o nosso jardineiro, trabalha esporadicamente, por isso não está aqui, depois você o conhece.
- Prazer à todos, me chamo Isabel e como já devem saber sou a esposa de Alejandro.
- Bom agora que já se conhecem podem voltar a seus afazeres, quero que saibam que agora quem administra essa casa é Isabel, sempre que tiverem algo pra falar se dirijam a ela, tenho certeza que saberá o que fazer.
Todos os empregados se dirigiram para a cozinha, apesar de serem cordiais, ninguém gostou da nova patroa. Consuelo, mulher experiente só pelo olhar percebeu que não se tratava de boa pessoa.
Na sala Alejandro convidou Isabel para conhecer a empresa de perto:
- Vamos meu amor, estou ansioso para lhe apresentar ao pessoal da empresa.
- Agora meu amor? Estou um pouco cansada, não pode ser mais tarde, quero descansar um pouco pela manhã.
- Você é quem sabe, depois do almoço te levo então, agora eu tenho quer ir, vou falar á eles da minha volta e que em breve vou nomear um novo diretor para a filial do Brasil.
Enquanto Alejandro foi resolver os assuntos empresariais, Isabel passou a manhã tomando sol á beira da piscina.
Cissa limpava e arrumava o quarto do casal. Isabel cansada do sol com uma taça de vinho, agora sua amiga inseparável subiu para o quarto que já estava todo arrumado, no entanto a maneira como foi organizado não lhe agradava dando a sua primeira ordem e com um grito ensurdecedor chamou a empregada:
- Cissaaaaaa!
Desesperada a jovem arrumadeira subiu as escadas, apesar de falarem idiomas diferentes, se entendiam perfeitamente:
- O que foi Isabel?
- Em primeiro lugar senhora Isabel, é assim que quero que me tratem, apenas senhora, sem muita intimidade. Esse quarto tá sujo, imundo, vocês são pagos para fazerem as coisas bem feito, não esse serviço de porco.
- Mas senhora, tá tudo limpo...
- Sem mais nem menos, quero que limpe de novo, se você acha que isso é limpo, não seja por isso. -Sem dó nem piedade Isabel vira a taça de vinho que bebia sob o chão.
- Está bem, limpo de novo senhora.
- Vou verificar os trabalhos na cozinha e quando retornar quero tudo bem limpo.
Foi até a cozinha, Consuelo preparava o almoço:
- Olá Consuelo quero provar o almoço que prepara. -Com uma colher prova a Paella, típico prato espanhol feito de arroz, azeite, açafrão entre outros ingredientes, que estava sendo preparado pela cozinheira.
- Claro senhora, fique a vontade.
- Um pouco mais de sal e tempero Consuelo, aqui não tem ninguém doente. Detesto comida sem gosto.
- Como quiser senhora.- Consuelo não demonstrou mas sua vontade era de jogar toda a comida no rosto daquela abusada. Em todos esses anos, nunca ninguém havia reclamada de sua comida.
Isabel retorna ao quarto e sem fazer barulho observa na porta uma cena esquisita. Cissa estava com um porta-retrato na mão e carinhosamente acariciava a imagem de Alejandro estampada na foto. Cissa era uma jovem sonhadora que mantinha uma paixão secreta por Alejandro. Esperta Isabel, logo percebeu aquilo e propositalmente resolveu assusta-la:
- Ahan, o que é que você está fazendo fuçando nessas coisas. Fora daqui, abusada, não faça mais isso que da próxima vez você será demitida, só o que me faltava empregada safada.
Cissa levou um enorme susto, tremendo pegou os materiais de limpeza e saiu correndo escada abaixo, se refugiou na cozinha, nos braços de Consuelo, que lhe serviu um copo de água com açucar enquanto a pobrezinha chorava. Isabel queria demonstrar poder e estava realmente disposta a infernizar a vida dos empregados.
Após o almoço Alejandro como dito levou Isabel até a empresa. De perto ela conheceu todo aquele império denominado El VINO DEL REI. Conheceu o alto escalão da empresa e recebeu o agradável apelido de dama da uva, coerente já que agora era a mulher de um dos maiores empresários do mundo no ramo. Isabel claro adorou o título recebido.
Mas não era apenas Isabel que estava radiante de felicidade, a irmã Bárbara também se sentia bem realizada, Raul a completava em todos os sentidos e juntos viviam uma forte e intensa paixão manifestada através do amor. E os encontros, almoços, jantares e passeios já não eram mais suficientes, queriam estar cada vez mais próximos e numa das manhãs daquele mês de novembro, Raul trazia gratos convites a amada, a chamou em sua sala e a surpreendeu:
- Olá meu amor te chamei aqui pra te fazer alguns convites. Na verdade ia falar no almoço, mas não estou aguentando esperar, então vai agora no intervalo mesmo.
- Convites? Que convites? Estou curiosa, pode falar.
- O primeiro é que estamos sem vice-diretor desde que o antigo pediu demissão, então gostaria de convidá-la para ser a nova vice-diretora do Elite gaúcha. Claro, se você quiser né.
- Eu?, vice-diretora? Agradeço pelo convite mas nem sei se estou preparada para um cargo desses, é muita responsabilidade.
- Claro que está preparada, você é uma das melhores profissionais do colégio, querida por pais e alunos, você é a pessoa ideal para este cargo. Aceita por favor.
- E as aulas?, não quero parar de aula, gosto muito do que faço.
- Você pode acumular as duas funções, é só diminuir o seu número de aulas.
- Sendo assim, só me resta aceitar.
- Que bom meu amor, tenho certeza que não errei ao te escolher, mas não para por aí, tenho um outro convite.
- Mais um, qual?
- Queria te chamar pra morar comigo, me sinto tão sozinho naquela enorme casa, é muito espaço para uma pessoa só.
- Morar com você?
- Sim, assim vamos ficar ainda mais tempos juntos, só nós dois.
- Até que não seria uma má ideia.
- Então você aceita meu amor?
- Aceito sim.
- Te farei a mulher mais feliz do mundo.
- Não tenho dúvidas disso.
Bárbara e Raul assim fizeram, foram morar juntos. Bárbara se despediu de Matias, agradeceu por tudo que ele fez a ela naquele ano tão difícil, o abraçou emocionada e disse que as portas de sua nova casa sempre estarão abertas ao amigo. Matias como não podia ser ficou muito triste.
Ali estava tendo certeza que Bárbara nunca seria sua. A revolta o consumia, afinal fez de tudo por aquela mulher e mesmo assim ela preferiu a outro. No entanto se manteve sereno, tinha em mente que deveria a esquecer para sempre, de uma vez por todas, deveria se afastar, deveria a enxergar apenas como uma amiga.

***
Quatro anos se passam.
E durante todo esse tempo Bárbara e Raul se mantém firmes, fortes e muito felizes. Matias até arrumou uma nova namorada, mas o relacionamento durou apenas alguns meses. Ele ainda sentia algo por Bárbara.
Na Espanha, Isabel e Alejandro viveram os anos passados de forma inesquecível. Viajaram por países de todo o mundo, visitaram todos os países da América e Europa e alguns da África, Ásia e Oceania. Sempre hospedados nos hotéis e resorts mais caros e luxuosos do mundo, com diárias exorbitantes. Alejandro permaneceu com seu vício, passaram por cassinos de todos os países que visitaram, sempre fazendo apostas milionárias. Mais perdia do que ganhava, mas não ligavam para isso, acreditavam que todo aquele dinheiro e fortuna nunca teria fim.
A dama da uva aproveitava do vício do marido para o trair e se divertir com outros homens já que estava tão entretido com os jogos, que não percebia ou fingia não ver.
Com o passar do tempo o milionário herdeiro se distanciou da empresa, já não ligava mais para princípios e valores, queria apenas álcool, jogos, apostas e charutos. Sempre que algum diretor queria o consultar, não o encontrava. Não tinha mais endereço físico, ao lado de Isabel estavam cada hora em algum lugar do mundo participando de festas, fazendo compras, gastando tudo a que tinham direito sem pensar no amanhã.