O Amor Muda Tudo

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Finalmente chega o tão sonhado e aguardado primeiro dia de aula de Bárbara como professora. Junto de Matias chega ao colégio, no corredor de entrada se depara com Raul, e nesse instante o coração passa a bater mais forte, um frio gelado toma conta das mãos, borboletas parecem comichar na barriga. Seria paixão? Pensava ela, claro que não, mal conheço esse sujeito, como poderia me apaixonar. Os olhares fixos se cruzam e incertezas tomam a mente de Raul, que como um adolescente pensava: será que ela está gostando de mim.
Bárbara vai pra sala da primeira turma que ela daria aula, se apresenta e já de cara surge uma sintonia bem forte entre a classe e a professora. No intervalo Raul pede para que o inspetor chame Bárbara até sua sala, queria conhecer mais quem era aquela linda mulher:
- Pois não, o senhor pediu pra me chamar?
- Pedi sim. Entra. Aceita um café?
- Não, muito obrigada.
- Te chamei pra saber como estão sendo os seus primeiros momentos aqui no colégio.
- Não posso me queixar diretor...
- Diretor não. Só Raul mesmo.
- Então Raul. A escola é maravilhosa, os alunos são muito educados e nunca vi uma estrutura tão grande como a daqui.
- Que bom que você está gostando. Assim tenho a certeza de que você ficará aqui por muito tempo.
Bárbara estava com o coração aceleradíssimo, porque aquele homem mexia tanto com suas emoções?
Antes que acabasse o intervalo, Raul aproveitou para fazer um convite:
- Você também dá aulas no turno da tarde hoje?
- Dou sim. Porque?
- Também terei que ficar aqui o dia todo, por isso gostaria de convidá-la para almoçar comigo, conheço um restaurante aqui perto que é uma maravilha.
- Aceito sim.
Com as pernas bambas, Bárbara retornou a sala dos professores. Matias estava bem curioso pra saber o que Raul queria:
- O que ele queria?
- Nada demais não. Apenas queria saber o que eu estava achando do colégio. E me convidou pra almoçar.
- Então você não vai almoçar hoje lá em casa comigo?
- Você não falou que ia levar sua mãe no médico depois da aula? Então pra não te atrapalhar almoço aqui perto mesmo.
Matias não quis demonstrar mas ficou bem chateado, se sentiu trocado.
Chega o horário do almoço, Bárbara e Raul seguem para o restaurante, durante o trajeto conversam sobre o colégio. Entram no local, fazem o pedido e prosseguem com a conversa:
- Bárbara agora vamos esquecer um pouco do trabalho.
- Tá bem, durante o almoço está proibido falar de trabalho.
- Vamos falar sobre nós, me conte mais sobre você. Tem pais vivos? Irmãos?
- Não, não tenho pais vivos, meu pai já morreu à alguns anos e minha mãe recentemente. Tenho uma irmã, uma irmã gêmea com a qual cortei todos os laços afetivos.
- Sem querer ser intrometido, mas porque?
- É uma longa história, não queria entrar em detalhes. E você?
- Meus pais morreram num acidente de carro, sou filho único, não tive irmãos, convivo apenas com alguns primos e amigos.
- Lamento pelos seus pais, é muito triste perder alguém assim.
- Pois é, eles eram tudo pra mim. Mas vamos mudar de assunto novamente, você mora sozinha?
- Não, estou morando com o Matias.
- Com o Matias?
- Sim.
- Então vocês são namorados?
- Não, não. Somos apenas bons amigos. O Matias é como um irmão pra mim.
- Ah bom! Por um momento achei que eram mais que amigos.
- E você? Tem alguma pessoa por quem seu coração bata mais forte?
- Eu? Não. Acabei de me separar, no momento estou solteiro.
- Agora eu que vou ser um pouco intrometida, separou porque?
Com uma tímida gargalhada Raul a responde:
- Sem problemas...Sabe quando a gente percebe que a pessoa que está ao nosso lado não é a pessoa certa pra gente. Então, percebi que Melissa, minha ex noiva, não era a melhor pessoa pra mim. Resolve-mos nos separar antes que estragace-mos tudo de bonito que vivemos.
- Pelo que vejo você é uma pessoa bem sensata.
- Depende, posso ser bem racional em algumas situações, mas posso ser bem emocional e passional em outras. Depende da pessoa que está na minha frente.
Tímida e sem graça Bárbara trata logo de desconversar:
- Tá frio né. Vou ter que comprar casacos novos para ir pro colégio de manhã, os meus estão todos velhos...
E assim se sucederam os dias, todas as manhãs Raul convidava Bárbara para o almoço, às vezes Matias os acompanhava, mas nem sempre era possível já que as segundas, quartas e sextas dava aulas em outra escola da rede municipal. O que era propício para Bárbara e Raul ficarem sozinhos e ali conversavam sobre tudo, sobre o colégio, sobre os alunos, sobre política, esporte, novelas, filmes, músicas e tantos outros assuntos. A cada dia que se passava, a afinidade entre o diretor e a professora só aumentava, Raul que antes não saia da sua sala quase nunca, passou a ser figura carimbada na sala dos professores no intervalo, só para ficar mais perto de Bárbara. Sempre que podiam estavam perto um do outro e quando distantes fisicamente, estavam próximos mentalmente. Aquela aproximação toda não agradava Matias, mas ele acreditava que não passava de uma amizade nova de Bárbara.
Com o decorrer do tempo Raul cria coragem querendo dar um passo a mais além dos almoços e das conversas. Em uma sexta-feira pela manhã decidido resolve fazer um convite a professora que já não saía mais de sua mente:
- Bárbara fui convidado por um amigo meu, dono de uma vinícola aqui em Parreiral para conhecer sua fazenda, e ver como são produzidos os vinhos, os quais particularmente gosto muito. Gostaria de saber se aceitaria ir comigo, gosta de vinhos? Já foi à uma vinícola?
Assustada, já que não esperava por um convite desses Bárbara, o responde após alguns segundos de surpresa:
- Que bacana Raul, não sei se te contei, mas meu pai trabalhava em uma dessas fazendas, lembro que quando pequena ele levava eu e minha irmã para ajudar na pisa das uvas. Seria muito bom relembrar esses tempos.
- Então você aceita?
- Aceito sim, pode ser uma ótima oportunidade para descansar e renovar as energias. Podemos chamar Matias.
- Podemos sim.
Na verdade Raul não queria a presença de Matias, mas sabia que não podia ser mal educado, o que Bárbara pensaria se respondesse que não. Matias entra pela porta, Bárbara se encarrega de fazer o convite:
- Matias estávamos falando de você agora mesmo, gostaria de ir com a gente até uma fazenda para conhecer uma vinícola?
- Uma fazenda?
- Isso mesmo, Raul tem um amigo que o convidou, então ele nos chamou, seria bem legal, não acha?
- Ah sim. E quando será este passeio?
Raul responde:
- Aproveitando que amanhã é sábado, estava pensando em passar o dia todo por lá. Estão dispostos a irem amanhã?
- Claro que sim! - exclama Bárbara.
No entanto Matias não poderia:
- Amanhã? Então não vai dar, vim aqui pra  falar com você sobre isso. Gostaria de pedir uma semana de licença pra você Raul, minha mãe nos próximos dias terá que fazer uma complicada cirurgia no cólon em Porto Alegre, terei que acompanha-la.
- Claro Matias, posso substituí-lo pessoalmente nas aulas. Mas você irá amanhã mesmo?
- Pra falar a verdade, irei hoje mesmo.
- É uma pena, não dará pra você ir com a gente.
- Uma pena mesmo, mas vocês podem ir e quero que se divirtam por mim.
Bárbara:
- A cirurgia será essa semana já, lembro que você tinha me falado sobre isso. A saúde da sua mãe é mais importante, não quer que eu os acompanho?
- Não, imagina Bárbara. Fique e aproveite seu passeio.
No fundo Raul gostou que Matias não poderia ir, assim poferia curtir o passeio a sós com Bárbara.
Assim aconteceu, logo pela manhã passou na casa de Matias, pegou Bárbara e seguiram para a fazenda, ao chegarem lá trataram de conhecer toda a vinícola, passearam pelas parreiras, os pés estavam carregados de uvas doces e saborosas, aproveitaram para se deliciarem colocando uvas um na boca do outro. O dia estava ensolarado, perfeito para um passeio daqueles. Estavam se divertindo bastante, esqueceram de todos seus problemas e responsabilidades e como dois jovens viviam intensamente aquele momento. Provaram e degustaram todos os vinhos, sucos, geléias e demais produtos feitos naquela fazenda e claro não podiam deixar de participarem da pisa das uvas, tradição naquela fazenda que produzia tudo de forma bem artesanal. Naquele momento em especial, lembranças e memórias tomaram os pensamentos de Bárbara. Ao perceber a distração de Bárbara, Raul quis saber onde se encontravam as lembranças da amada:
- Me deixou sozinho aqui né, posso saber onde se encontra seus pensamentos?
- Não seu bobo, só estou relembrando um pouco da infância. Porquê as pessoas se dão o trabalho de estragar tudo de bom que viverão por poder e ganância?
- Porquê diz isso?
- Estava lembrando da minha irmã Isabel, de como foi bom a nossa infância, quando eu e ela éramos inocentes e pequenas crianças. Ela trocou tudo isso, nossa amizade por dinheiro e poder.
Bárbara resolveu desabafar com Raul, revelando a ele tudo que havia passado com a irmã. Raul claro ficou indignado diante de tamanhas revelações:
- Por isso você não conversa com sua irmã?
- E quer mais motivos? Nesse momento nem sei por onde ela anda.
Percebendo o quanto tudo isso mexe com Bárbara resolve abraça-la , dando-lhe um forte aperto confortando-a. Apesar das lembranças de Isabel voltarem a atormentar Bárbara, o passeio foi bom, diria um dia inesquecível onde puderam ter a certeza de que estavam apaixonados.
E por falar em Isabel, estava que não se aguentava de curiosidade para saber quem era aquele homem, que aparecia no bordel dia sim, dia não, que não se deitava com nenhuma das garotas, pedia apenas um drink, com seu charuto não falava com ninguém e apenas a devorava com os olhos. Mas se a desejava, porque não ia até ela?, pensava Isabel. Aquele homem parecia cada vez mais instigante aos seus olhos e numa noite qualquer estava decidida a descobrir seus segredos, então parte em direção à sua mesa e com um andar sedutor se aproxima:
- Olá. Boa noite. Posso me sentar?
- Sim. Claro. Você não é a dona do negócio?
- Sou sim e já percebi que você gosta do ambiente, já o vi por aqui várias vezes. Prazer, me chamo Isabel e você?
- Prazer é todo meu, me chamo Alejandro.
- Alejandro, nome estrangeiro não é.
- Sim, sou Espanhol.
- Espanhol? Mas você está falando português.
- Me mudei para o Brasil aos 20 anos a trabalho, como os idiomas tem suas semelhanças, atualmente falo o português brasileiro fluentemente.
- Interessante, não quer conferir nenhuma de nossas garotas, tenho verdadeiras jóias raras aqui em meu cabaré.
- Sei disso, é só observar que vemos lindas mulheres, mas não vim aqui para isso.
- Então o que te atrai até aqui? O que vem fazer aqui?
- Venho apenas para admira-las, esquecer um pouco dos problemas e me distrair. Mas não posso me envolver com nenhuma de vocês?
- Porquê nao?
- Estou comptometido, vou me casar no próximo mês e modesta parte tenho a fidelidade como uma de minhas qualidades.
- Fidelidade? Faça me rir, a última coisa que existe nesse lugar são homens fiéis, e além do mais existem outras formas de se trair, através da mente por exemplo.
- Mas digo em traição carnal.
- Já que é tão fiel assim, porque não está ao lado da sua noiva. Cadê ela?
- Estou cheio de dúvidas, como disse vou me casar no mês que vem, mas não sei se é bem isso que quero. Já não nos entendemos como antes e a única coisa que sabemos fazer ultimamente é brigar e discutir. Me entende?
- Então você vem aqui para afogar as mágoas e esquecer dos problemas. Te entendo, o que não falta por aqui é homem carente.
- Confesso que algo à mais me atrai aqui.
- O que?
- A sua beleza, desde que a vi pela primeira vez, não a tirei da mente.
- Então você já traiu a sua amada mentalmente, ou seja não é tão fiel assim.
- Venho aqui por sua causa, para admirar a sua beleza, te desejo, te quero, estou louco por você. Nunca vi mulher tão linda como você. Mas como disse vou me casar e não quero trair minha futura mulher.
- Larga de bobagem, se me desejas tanto assim, você me terá por essa noite, me simpatizei com você. Vamos para um dos quarto, venha.
- Não, eu já disse que não, te desejo, te quero, mas não posso.
- Tá bom, não precisa se estressar, pelo que vejo você está bem confuso e quer apenas desabafar. Tá certo, estou à ouvidos. Vou pedir dois charutos para nós e um bom vinho. Vamos lá, além da sua problemática noiva, o seu desejo insaciável por mim, quais são seus demais problemas?
Alejandro é um homem de 36 anos, filho de espanhóis, herdou dos falecidos pais uma grande empresa espanhola chamada EL VINO DEL REI, uma produtora de vinhos, com filiais por todo o mundo, sendo dono de uma grande fortuna. Quando jovem mudou para o Brasil para comandar a filial Brasileira localizada em Porto Alegre, uma das que mais dão lucros. Após a morte do pai, passou a comandar tudo, se tornando o dono daquele Império. De casamento marcado, pretende-se mudar para a Espanha com a noiva onde está a sede da empresa e a mansão da família. Apesar de milionário não é feliz, cheio de incertezas e insegurança, além do vício em jogos.
No bordel desabafa com Isabel, revelando todos os seus problemas e informações da sua vida comob, despertando o interesse da jovem cafetina que no início da conversa estava apenas disposta a consola-lo, agora queria algo a mais, o fato de ser um milionário foi determinante para isso e de acordo com seus interesses passou a conselha-lo:
- Pelo que me disse sua noiva não te dar o merecido valor, você merece mais que isso. Precisa de uma mulher forte ao seu lado para governar este império deixado por seu pai, não de uma menina mimada, que não sabe nada da vida.
- E que mulher seria essa?
Aproveitando que Alejandro havia ficado enfeitiçado por sua beleza teve a ousadia de propor:
- Eu, você não está hipnotizado por mim, pela minha sedução. Então eu posso ser inteirinha sua, só sua, de mais ninguém.
- Confesso que a proposta é tentadora, mas agora é tarde demais, tenho que me conformar.- Uma resposta que deixou Isabel bem frustrada, mas ela não estava disposta a perder a oportunidade dos seus sonhos, para isso usaria todas as suas armas.
- Bom se é isso que você quer, a decisão é sua.
- Foi um prazer dividir essa noite com você Isabel, agora tenho que ir.
-  Já vai? Cedo ainda. Mas de qualquer forma o prazer foi meu. Quando você volta?
- Talvez em breve. Boa noite.
Isabel não acreditava que acabara de conhecer o milionário de seus sonhos e com um olhar frio e calculista após a saída de Alejandro com uma taça na mão pensou alto:
- Você será meu, de uma forma ou de outra. Vamos ver que ganha essa parada eu Isabel, a poderosa, maravilhosa ou a noivinha problemática.

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