" Covardes são aqueles que se fazem fortes nos momentos de dor e fraqueza de seus inimigos para triunfarem."
O dia amanhece. Bárbara pula cedo da cama, faz o café, senta-se na cadeira, onde ali fica pensativa, com as lembranças na mãe.
Algumas horas depois Isabel desperta, vai até a cozinha para tomar o café:
- Que café mais ruim Bárbara.
- Qual o problema com o café?
- Tá doce demais. Não consigo tomar um troço desses.
- ué, prepara o seu café você mesma. A mamata acabou Isabel, não tem mais mamãe pra fazer todas suas vontades não. Tá na hora de amadurecer.
- Concordo com você, a mamata realmente acabou. Você sabe como eu sou, não gosto de rodeios, por isso vou direto ao ponto. Ontem fui falar com você sobre a casa, mas você me cortou, mas hoje eu vou falar, queira você queira ou não.
- Não estou entendendo onde você quer chegar. Casa, como assim?
- Essa casa está no meu nome, e agora que a mamãe se foi eu preciso vendê-la.
Surpresa Bárbara não entendia direito a atitude da irmã:
- Essa casa é tão sua quanto minha, juro que quero te entender, mas não consigo.
Isabel deu uma volta em Bárbara e com a voz mais exaltada falou bem perto do ouvido da irmã:
- Não tá entendendo, eu explico de novo, essa casa está no meu nome e eu vou vendê-la.
A casa estava mesmo no nome de Isabel. Seu pai antes de morrer, com medo que acontecesse algo com ele e Dona Laura, passou a residência para o nome da filha, com medo que algum parente se apropria-se dela, mesmo a propriedade sendo uma herança as filhas.
Chocada Bárbara se revoltou:
- Você não pode fazer isso. A casa não é sua, é nossa.
- Esqueceu que o pai antes de morrer, passou ela pro meu nome?
- E daí, ele fez isso por uma questão de segurança, não pra dar a casa pra você.
Diante da resistência de Bárbara, Isabel perde a paciência:
- Para de se fazer de sonsa Bárbara. Você não tem Direito à nada. Enquanto você ficou esse tempo todo vagabundando lá em Porto Alegre, quem ficou aqui cuidando da casa e da mãe fui eu.
- Vagabundando não! Eu fui estudar pra melhorar a nossa vida.
Com o dedo no rosto de Bárbara, Isabel se exaltava cada vez mais:
- Vagabunda sim. Nem trabalhar você trabalha.
- Tira esse dedo da minha cara. Pelo visto você tá muito mal informada a meu respeito. Por lá eu trabalhava sim, e agora que voltei pra Parreiral estou que nem uma louca atrás de uma oportunidade.
- Você quer saber a verdade Bárbara? Eu quero mais é que você se exploda.
Tremendo e chorando, sem forças para discutir mais, com a voz quase sem sair, Bárbara responde a irmã:
- Eu sempre soube que você não era uma pessoa de confiança, mas dessa vez você me surpreendeu. Um dia após a morte da mamãe, você veio brigar por causa de uma casa. Como você consegue ser assim, um ser tão deplorável?
Isabel fica furiosa, fora de si e começa a ofender a irmã:
- Sonsa, vagabunda, fingida, songamonga, mosca morta...
Matias que estava vindo visitá-las, ouviu os gritos da rua e entrou na casa:
- O que está acontecendo aqui? A vizinhança toda está escutando.
Bárbara o responde:
- É essa daí que pirou de vez.
Misturando gritos com gargalhadas, Isabel assustava a irmã:
- Pirei não querida, você não viu nada. Só to começando.
Matias implorava para se acalmarem:
- Se controlem, me expliquem porque estão assim:
- A Isabel botou na cabeça que essa casa é só dela, que vai vendê -la.
- Como assim, essa casa é de vocês duas, não é?
-É, mas essa louca tá achando que manda aqui.
Isabel:
- Acho não, eu mando. A escritura tá no meu nome, portanto a responsável legal sou eu.
- Você quer me expulsar daqui e quer que eu vá pra onde?
- Se vira, vai pra casa do Matias, arranja um canto qualquer, sei lá, só sei que vou vender, preciso do dinheiro.
Matias claro ficou do lado de Bárbara:
- Me desculpe Isabel, mas você não pode fazer isso não.
- Cala boca Matias, quem é você pra dizer o que eu posso ou não fazer? Um bobão que fica correndo atrás dessa sonsa aí.
Não acreditando na situação que vivia, Bárbara deu um basta na situação:
- Chega! Não quero que a mamãe tenha tanto desgosto assim, esteja ela onde for. Se você quer brigar por essa casa, tudo bem, nós vamos brigar, mas vai ser na justiça, não pense que vou abrir mão dos meus Direitos não, que vai se aproveitar desse momento difícil pra tirar proveito.
Matias admirava a força de Bárbara:
- Isso mesmo. Você pode anular essa escritura, pois envolve também seus Direitos. Conheço bons advogados, você vai vencer, tenho certeza.
Com um ar cínico Isabel desafiou Bárbara:
- Melhor assim, quero ver se é capaz de me vencer ao menos uma vez na vida, já que sempre perdeu.
Profundamente decepcionada com a irmã, Bárbara toma a decisão de sair de casa:
- Matias posso ficar na sua casa alguns meses até o fim do processo, não consigo ficar sob o mesmo teto dessa víbora.
- Claro que sim, pode ficar o tempo que precisar, vai ser um prazer ter você ao meu lado todos os dias.
Assim fez Bárbara, pegou suas coisas e foi pra casa de Matias, mas antes de sair deu o último recado a Isabel:
- A gente se encontra no tribunal.
Debochando da irmã que batera a porta, Isabel se jogou no sofá e começou a berrar:
- Tchau safada, já vai tarde...
Pegou uma cerveja e com um sorriso de orelha a orelha,parecia tramar alguma coisa.
Alguns dias depois Bárbara junto de um advogado entrou com uma ação judicial no fórum da cidade contra Isabel, em poucos meses a audiência seria marcada. Também passou a dar aulas particulares de reforço de português para alguns alunos que Matias arranjou para ela.
Enquanto isso Isabel levava a vida de sempre, dormia o dia todo e quando a noite caía, surgia lindíssima e deslumbrante no bordel de Teodora. Estava disposta a vencer de tudo quanto é jeito a batalha na justiça com a irmã. Para isso claro iria jogar sujo. Encontrou sentado em uma das mesas do bordel um advogado, Dr. Romeu, cliente antigo da casa, e com seu jeitinho foi colocar seu plano em ação:
- Oi, tudo bem? Posso me sentar?
- Claro, uma gostosa como você pode sentar onde quiser.
- Lembra de mim?
- Como poderia me esquecer, Isabel, é esse seu nome não é mesmo?
- Vejo que não esqueceu de mim.
- E tem como?mas eu não sou bobo não, o que é que você quer? Dá ultima vez não reclamou pra Teodora que eu fui agressivo demais com você?
- Aquele dia eu estava de tpm, mas na verdade é assim que eu gosto mesmo. Quer um repeteco daquela noite? Quer?
- Quero sim. Claro que eu quero.
- Mas não vai ser de graça não, além do pagamento eu preciso de uma informação sua?
- Qual?
- Você conhece o juiz que deve julgar uma briga judicial por uma casa aqui na cidade?
- Casos desse tipo são julgados na vara cível, e aqui em Parreiral tem só a primeira instância, por isso deve ser lá mesmo. O juiz de lá eu conheço sim, mas ele não mora aqui não, mora numa cidade vizinha daqui.
- Ele vem pra cá todo dia?
- Acho que sim. Mas vem cá, pra que todo esse interesse no juizão?
- Vou ter uma audiência pra ir nos próximos dias e estou disposta a ganhar de qualquer jeito.
- Pelo que ouço falar daquele lá, você compra ele rapidinho, é só você abrir as pernas pra ele como você faz com todo mundo que você vence. É o maior safado, tem três filhos, a mulher tá esperando o quarto e não pode ver um rabo de saia, deve ter mais um monte de filhinhos por aí.
- Melhor assim. E como faço pra chegar até ele?
- Vai lá no fórum, se disfarça de advogada, pega ele no estacionamento de surpresa, e aí é com você. Agora vamos parar de conversinha fiada e vamos ao que interessa.
Dessa forma fez Isabel, na manhã seguinte Romeu apontou o juiz e lá foi ela, antes que entrasse no carro estacionado, fez a ousada proposta:
- Olá juiz, está disposto a vender um processo por uma noite bem apimentada?
- Mas o que é isso? Eu poderia mandar te prender garota. Mas como faz tempo que não recebo uma proposta tão indecente e tentadora... Aceito sim. Entra logo aí no meu carro, antes que eu mude de ideia...
Chega o dia da audiência, após algumas horas de debate, o juiz tem uma sentença definida. Deu a vitória à Isabel, fundamentou que durante os anos que Bárbara estava fora, quem cuidou da mãe e da casa foi Isabel, por isso a propriedade era sua por Direito. Uma decisão absurda, mas fazer o que, aquele processo já estava comprado pela sedução de Isabel.
Na saída do fórum Matias ficou indignado com a decisão tomada pelo juiz:
- Que absurdo. Esse juiz só pode estar louco né.
O advogado de Bárbara:
- Eu também não entendi nada, mas vocês podem recorrer.
No entanto Bárbara não estava disposta:
- Não, melhor não. Deixa assim mesmo, já vamos ter que pagar seus honorários doutor, os custos do processo, não tenho mas de onde conseguir dinheiro para um outro processo.
- Se você pensa dessa forma.
Matias:
- Não Bárbara, eu te empresto mais dinheiro, você tem que lutar pelo que é seu.
- Não Matias. Muito obrigado, peço que respeite minha decisão. Quero seguir novos caminhos, novos planos, respirar novos ares. Agora só quero ir embora deste fórum, esse lugar me enjoa.
Ao passarem pela porta de saída Bárbara se encontra com Isabel comemorando sua vitória:
- Seja feliz Isabel. Amanhã passo na sua casa para pegar meus últimos pertences e as coisas da mamãe, quero que fiquem comigo.
Com um ar arrogante de superioridade, Isabel se limitou a balançar a cabeça com o sinal de positivo.
Bárbara seguia em frente, quando deu alguns passos para trás:
- Ha, já ia me esquecendo, me faz um último favorzinho? Esquece que algum dia você teve uma irmã.
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A UVA PODRE
RomanceDuas irmãs. A mesma face. Diferentes personalidades. Bárbara é a típica mocinha, batalhadora e sonhadora. O oposto de Isabel, sua irmã. Uma mulher gananciosa, que sabe muito bem onde quer chegar. Para a família diz trabalhar como garçonete em uma bo...