O fim de uma amizade

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Aquela noite custou a passar para Bárbara, que ao lado de Raul e Talita ainda permaneciam incrédulos com tudo que viviam. Tiraram um raso cochilo no sofá da sala mesmo. Aflitos aguardavam o toque daquele telefone, seja para uma ligação da delegada com novas informações ou por um contato de Isabel, pedindo um resgate.
Entre os empregados na cozinha só se dava aquele assunto e não era pra menos, estavam livres da patroa infernal, a melhor patroa do mundo estava de volta. No entanto também se preocupavam com a criança que estava nas mãos de Isabel, não o conheciam, mas a torcida para que tudo terminasse bem e que a farsante fosse presa era descomunal.
O telefone finalmente vibra, todos os presentes na casa se voltam ao telefonema. Bárbara o atende desesperada:
- Alô, quem tá falando? Alô.
Era a delegada Judite:
- Olá muito bom dia senhora Bárbara.
- Bom dia doutora. Alguma novidade? Encontraram meu filho?
- Infelizmente ainda não, mas estamos fazendo o possível. Encontramos o carro em que Isabel fugiu do apartamento com a criança abandonado numa encruzilhada próximo a saída da cidade, é uma pista, as buscas continuam.
- Será que ela fugiu com ele pra outra cidade?
- Ainda é cedo pra afirmar alguma coisa, mas tudo é possível. Fique tranquila, vamos encontrar o seu filho. Confie em nosso trabalho.
- Tá bem doutora.
- Te liguei para lhe informar que a polícia de Porto Alegre já localizou o Matias. Ele foi preso e transferido aqui pra Parreiral, pra gente conseguir solucionar o sequestro.
- Que bom, ele tem que pagar pelo que fez.
- Já o interroguei e ele me fez um pedido, para que lhe avisasse que ele gostaria de ter uma última conversa com você. Se fosse você eu não viria, mas a decisão é sua. O recado tá dado.
- Ele quer falar comigo...Vou pensar doutora, caso opte em ir, te telefono avisando.
- Ok. Bom dia.
- Bom dia.
Raul e Talita estavam ansiosos a saber o que a delegada havia dito.
- Então Bárbara, o que a delegada disse? -Perguntou Raul.
- Ela disse que encontraram o carro da pilantra numa encruzilhada próximo a saída da cidade, mas o nosso filho ainda continua desaparecido.
- Que bosta.
- Também disse que pegaram Matias, ele está aqui em Parreiral e quer falar comigo.
- O que esse canalha ainda quer?
- Quer ter uma última conversa.
- Se eu fosse você não iria Bárbara, o que ele fez não dá a ele direito a uma última conversa. - Diz Talita.
- Eu sei, mas Matias sempre foi meu melhor amigo, como um irmão pra mim. Tenho que dar a ele o direito de se explicar. Pedir perdão.
- Você não está pensando em ir nesse encontro né Bárbara. -Argumentou Raul.
- Estou pensando em ir sim, preciso ir.
- Você quem sabe então, independente das suas escolhas vou te apoiar.
Dessa forma fizeram. Bárbara e Raul foram até a delegacia para a tal última conversa com Matias. Foi complicado sair da mansão, pois a frente da casa estava tomada de jornalistas, o caso havia ganhado proporções nacionais. Talita continuou na casa para caso Isabel entrasse em contato. As aulas naquele dia foram suspensas.
Ao chegarem na delegacia, Judite encaminhou Bárbara até a sala onde se encontraria com Matias. Raul possesso de raiva não quis entrar, aguardou do lado de fora. Bárbara o encontrou com a cabeça baixa, estava envergonhado, com grandes olheiras de quem havia chorado a noite toda. Lhe deu uma grande pena em ver o amigo naquela cena:
- Matias.
- Bárbara você veio. Pensei que não viria.
- Motivos pra isso eu teria, mas sei que você não fez isso por mal, sei que fez em nome desse amor que você diz sentir por mim. Bem como também sei que você foi usado e manipulado pela Isabel a participar dessa loucura.
- Fiquei sabendo que ela sequestrou o moleque. Oh, como eu me arrependo meu Deus. Tudo isso só está acontecendo por minha causa.
- É, agora não adianta chorar pelo leite derramado, só nos resta orar pra que tudo termine bem.
- Você me perdoa Bárbara? Não sabe como estou arrependido. Se eu pudesse voltar no tempo, nunca quis fazer mal a você e a seu filho.
- Perdoo Matias, sei que você é uma pessoa boa, afinal foram tantos anos de uma amizade linda e verdadeira.
- Você não sabe o peso que você tira das minhas costas.
- Mas tenho alguns pedidos a lhe fazer. Se trate Matias, procure uma ajuda psiquiatra, para o seu próprio bem. Cumpra a sua pena, acerte suas contas com a justiça, depois disso, seja feliz, procure uma pessoa que possa retribuir seu amor. Para o seu bem, pra você ser feliz.
- Pode deixar Bárbara vou fazer tudo isso, pode acreditar. Sei que o Raul não pode nem ouvir tocar no meu nome, mas peça perdão pra ele em meu nome, por favor.
- Falo sim. Bom, agora tenho que ir, tenho um filho pra procurar.
- Boa sorte. Vou orar bastante. Tenho certeza que vai terminar tudo bem.
- Assim espero.
- Bárbara uma última coisa.
- Diga.
- Amigos de novo?
- Não é tão simples assim Matias. Quem sabe um dia.
- Quem sabe né.
- Adeus Matias.
- Adeus Bárbara.
Bárbara sai da delegacia. Junto de Raul retornam a casa. Permaneciam desesperados por um pedido de Resgate. Em meio a tamanho aflito Talita decide resolver algo que estava a incomodando:
- Raul tenho algo a lhe dizer, espero que não fique bravo comigo.
- O quê? Pode dizer Talita.
- É sobre o inspetor Danilo.
- Ah, sobre o beijo que ele deu em Isabel no colégio.
- Isso mesmo, então você já sabe.
- Sim, Bárbara me contou. Inclusive o chamei para vir aqui. Infelizmente vou ter que demiti-lo. Primeiro porque infringiu uma grave regra da escola, segundo porque se Isabel não fosse uma farsante, ele teria me traído. Não posso confiar numa pessoa dessas.
- Eu só não te contei quando tudo aconteceu, em consideração a amizade por Bárbara, eu ainda acreditava que aquela era a Bárbara.
- Entendo Talita. Não precisa se explicar, você agiu como uma amiga, no seu lugar eu faria o mesmo por um amigo. Ademais aquela Bárbara podia me trair, mas nessa aqui eu confio de olhos fechados.
Danilo chega na casa, Raul pede que entre, e sem meias voltas vai direto ao assunto:
- Danilo te chamei aqui para anunciar a sua demissão, os motivos você já sabe muito bem. Você era um bom profissional, mas se envolveu com pessoas erradas. Agora não há nada que eu possa fazer.
- Eu já imaginava senhor, de qualquer forma peço desculpas pelos transtornos causados.
- Você já está ciente da história envolvendo a Bárbara e a irmã golpista dela, não está? -Indagou Talita.
- Sim, já sei de tudo. O caso foi notícia em todos os lugares. Entrar aqui foi um sufoco só, está cheio de jornalistas aí fora. Fiquei tão chocado quanto vocês. Confesso que também estava bem apaixonado pela Bárbara, digo Isabel.
- Pois bem rapaz não estamos interessado na sua vida amorosa, amanhã passe no Rh e acerte suas contas.
- Ok. Boa sorte, que vocês possam encontrar o filho de vocês e serem muito felizes. Bom dia.
Danilo já ia embora, quando Bárbara o chamou:
- Não. Fique. Não vai embora.
- Porquê meu amor? -Pergunta Raul espantado.
- O Danilo pode nos ajudar, caso a Isabel entre em contato.
- Como assim? -Persistiu Raul.
- Pelo que vocês me disseram, Isabel estava apaixonada por esse moço, conheço aquela víbora, ela não se arriscaria, colocaria tudo a perder se não tivesse muito apaixonada. Caso ela entre em contato, podemos colocar ele pra negociar com ela. Nesse momento temos que mexer com as emoções dela, pra que ela revele algo, revele onde possa estar.
- Mas ela estava tão apaixonada assim? -Questiona Raul.
- Naquele dia ela me pareceu bem apaixonada, como disse ela também mexeu bastante comigo. -Confirma Danilo.
- Por esse lado você pode ser um aliado. Então fique Danilo, você pode nos ajudar caso a desgraçada entre em contato.
- É tudo que eu mais quero Raul. Ajudar.
Apesar de todas as revelações a respeito de Isabel, Danilo ainda permanecia encantado por ela. Independente do que falavam a seu respeito ele continuava fascinado, afinal tratava-se de uma paixão avassaladora. Na sua mente ela parecia tão diferente do que falavam, ele precisava se encontrar com ela, olhar em seus olhos, resolver tudo aquilo, ouvir tudo da sua boca. Mas como ninguém sabia de seu paradeiro, restava a ele aguardar.
No sítio, Teodora percebia que Isabel estava ficando cada vez mais pertubada, dava indícios de loucura. E não era pra menos, ao mesmo tempo que sentia raiva por Bárbara, seus pensamentos a transportavam a Danilo, seu grande amor, ficando assim dividida em dois mundos paralelos: a raiva e o amor. Somado à isso a criança não parava de chorar. Aquilo também já incomodava Teodora, que desejando o prometido, começou a cobrar:
- Que horas que você vai entrar em contato pra pedir o resgate? Você disse que era ainda hoje.
- Já são meio dia.
- Já passou são uma hora já.
- Então vai ser agora mesmo.
Isabel pega o telefone e faz o primeiro contato. Na mansão Raul atende:
- Alô, quem fala? Quem fala.
- Alô, é você Raul. Boa tarde.
- É você sua desgraçada, cadê meu filho? Fala.
- Pelo visto você já sabe de tudo.
- Sei sim, sei que você é uma farsante, uma ordinária, uma vagabunda que não vale nada.
- Vamos parar com esse blá blá todo e vamos ao que interessa. Eu quero dez milhões pelo seu filho.
- O quê? É muito dinheiro, é impossível eu conseguir todo esse dinheiro.
- Não importa, não quero saber. Vende esse colégio, se vira, eu quero os dez milhões. Não tenho nada a perder. Se vocês acham que vão me pegar vocês estão muito enganados, com esse dinheiro eu vou fugir do país e vocês não vão relar em mim. Tem mais, não coloquem a polícia no meio disso ou as coisas podem ficar bem pior.
- Tá certo, não vou colocar a polícia nisso. Onde eu deixo os dez milhões?
- Amanhã cedo eu ligo pra dizer onde a gente vai fazer a troca, o bebê pela maleta com dez milhões de reais. Ah, tem mais uma coisinha pra te dizer, queria te dizer que esperava mais de você, um homem tão forte, tão bonito, me decepcionou demais na cama, juro que esperava mais, e também não estava mais aguentando me fazer de boa moça, de sonsa. Foi até bom que descobriram tudo, não estava aguentando mais.
- Cala sua boca desgraçada, acho bom você fazer tudo direitinho, porque se eu te pegar eu te mato com as minhas próprias mãos. Entendeu? Continua na linha, que tem uma pessoa querendo falar com você.
Danilo pega o telefone e passa a negociar com Isabel:
- Bárbara, quer dizer Isabel.
Do outro lado a sequestradora não esperava por aquilo:
- Danilo. O que você faz aí? Não acredita em nada que eles disserem sobre mim, é tudo mentira desses malvados. Eles querem nos separar. É tudo mentira. Eu sou bem diferente.
- Eu acredito em você. Então se você é bem diferente, devolva essa criança, se entregue, vai ser o melhor, vamos conversar, nos acertar. Independente do seu nome, da sua personalidade, você me encantou, eu escolhi te amar. Me diga onde você está.
- Não posso Danilo. Me entenda. Não posso. Preciso fugir. Não posso ser presa, eu não nasci pra ver o sol nascer quadrado, eu nasci pra ser rainha, pra ser poderosa. Me entenda.
- Te entendo. Mas diga onde você está.
- Não adianta Danilo, não vou ceder. Mas me escuta aqui, não sei como vai terminar essa história, pode ser que eu saia morta de tudo isso, mas eu queria te dizer que tivemos pouco contato, mas foi o suficiente pra mim dizer que te amo. Independente do que acontecer eu te amo. Agora tenho que desligar. Em breve ou adeus.
- Isabel, Isabel, Isabel...desligou.
Após a ligação Isabel coloca o telefone no gancho e desmonta-se no chão, chorando como uma criança.
Danilo vai para casa, não havia mais nada que pudesse fazer.
Talita e Bárbara reforçavam as orações. Raul vai ao banco, negocia com o gerente, que com a permissão da diretoria da agência, autoriza o saque de dez milhões. Coloca em uma maleta e vai para casa, à espera do próximo contato. Não comunica a delegada Judite, que segue com as buscas.
Mais uma noite se aproxima, Teodora percebe que Isabel piora cada vez mais, tendo diversos ataques de loucura. Estava realmente fora de si. Aquilo a preocupava, temia que pudesse perder o controle e fazer algum mal a criança. Além do mais também percebera que Isabel não cumpriria com o prometido de entregar a criança, já era noite, não havia mais aquela possiblidade. Tinha que fazer alguma coisa, pegar a criança de madrugada e leva- la embora? Não. Fazendo isso Isabel perceberia, acabaria fugindo e ela queria que Isabel fosse presa. Não que quisesse algum mal a Isabel, pelo contrário, queria que Isabel acertasse suas contas com a justiça, se tratasse. De que adiantava salvar a criança e empurrar a mulher que considerava como uma filha ao precipício, permitindo que Isabel fugisse e fizesse coisas bem piores. No dia seguinte estava decidida a ir na delegacia, revelar o paradeiro de Isabel e da criança. Que a polícia possa decidir a melhor forma de se solucionar o caso.

A UVA PODREOnde histórias criam vida. Descubra agora