" Alguns permanecem tempos e tempos no abismo da rejeição apenas por amarem quem se ama."
Matias queria ir embora de Parreiral, já não conseguia mais conviver com o fato de que havia perdido Bárbara. Desde que descobriu sobre seu namoro com Raul, guarda uma enorme mágoa do diretor. Agora que descobriu que iriam se casar então a raiva tomou conta de seu coração, tinha ódio de Raul. Mas não demonstrava, guardava toda repulsa que sentia pelo patrão para si.
A única forma de acabar com tantos sentimentos ruins era se distanciar, para isso iria pedir demissão e depois partiria para Porto Alegre. No entanto não queria ir embora sem dizer a Bárbara o quanto a amava, precisava colocar aquilo pra fora, revelar a amiga tudo que sentia por ela, todo o amor que sempre guardou para ela. Chega de covardia!, pensava o professor sobre a falta de coragem de ter se declarado no passado.
Ainda no dia que havia descoberto sobre o casamento do casal, aproveitando-se da ausência de Raul que havia saído do colégio no intervalo para pagar algumas contas, foi até a diretoria onde Bárbara se encontrava sozinha. Bateu na porta e pediu licença:
- Bárbara posso entrar?
- Claro Matias, entre, fique a vontade.
- Queria falar um pouco a sós com você, seria possível?
- Sim, aproveite que o Raul deu uma saída e me diga. Também tenho uma boa nova pra lhe contar. Mas fale você primeiro. Ocorreu alguma coisa?
- Vim te dizer que vou embora. Vim pedir demissão.
- Embora?, mas porque?
- Vou ser direto, antes que eu desista de falar, como fiz das outras vezes. Estou indo embora por sua causa.
- Por minha causa?
- Sim Bárbara, por sua causa. Porque eu te amo, sempre te amei e acho que sempre vou te amar. Desde que nos conhecemos eu guardo um amor secreto por você.
- Me ama, como assim?, eu também te amo como amigo.
- Não estou falando de amizade, estou falando de amor de homem e mulher.
- Então era verdade, as pessoas sempre zombavam de nós dois, da nossa amizade, diziam que éramos namoradinhos, a própria Isabel falava isso, mas nunca pensei que poderia ser verdade. Nunca passou pela minha cabeça isso, você nunca demonstrou isso, sempre me tratou como amiga.
- Você não percebia porque eu sempre fui muito respeitoso com você e me faltava coragem para demostrar o meu amor, me faltava a coragem que estou tendo agora. Tinha medo de ser negado. Você não sabe como me arrependo de não ter me declarado pra você no passado. Não tem um só momento que não me lembro disso. Ainda mais agora que você vai se casar.
- Então você já sabe, era isso que eu iria te contar.
- Sim ouvi mais cedo quando contava pra Talita.
- Matias me desculpe, mas não posso corresponder esses seus
sentimentos, como você disse vou me casar, estou grávida e amo o Raul.
- Por isso vou embora, não aguento mais isso, você não sabe como me sinto. Sofri muito quando soube do seu namoro, quando você foi embora lá de casa, quando você revelou estar grávida e agora você me dizendo que vai casar.
- Me desculpe Matias por te fazer sofrer, nunca foi a minha intenção.
- Tudo bem Bárbara, o erro foi meu. Só queria antes de ir embora, te revelar tudo.
- Não vai embora, fique, não estrague uma amizade tão bonita como a nossa. Você sempre foi o meu melhor amigo. Em breve você encontra uma mulher que te mereça, que te corresponda. A Talita por exemplo já me confessou que te acha muito bonito.
- Eu não quero ninguém Bárbara. Se não posso te ter, não quero mais ninguém. A decisão já tá tomada, vou embora.
- Então fique até o casamento, será daqui há um mês. Quero casar antes que a barriga cresça. Faz esse esforço por mim. Meu pai, minha mãe morreram, minha irmã sumiu no mundo, só me restou você. Represente minha família, fique por favor.
- Posso até ficar, mas que fique bem claro que é por você.
- Obrigado Matias, e mais uma vez perdão por te fazer sofrer, tenho a certeza que você ainda será muito feliz.
Raul volta da rua e entra na sala, percebendo um clima estranho pergunta se ocorreu alguma coisa, Bárbara e Matias disfarçam, ela não revela o que ocorreu, queria evitar conflitos, apenas disse:
- Matias veio pedir demissão, quer ir embora.
Espantado Raul o questiona:
- Ir embora?, mas porque?
Disfarçando a raiva, Matias responde com a voz áspera e sai da sala:
- É, vou atrás de novas oportunidades.
Raul fica sem entender nada, Bárbara justifica dizendo que Matias vem passando por momentos complicados.
O professor de Matemática sai da sala enfurecido, não podia nem ouvir a voz de Raul. Arrasado queria descarregar toda a pressão que sentia, para isso tinha em mente que iria sair logo mais à noite, queria extravasar, esquecer dos problemas, da vida, e sabia muito bem o local ideal para isso, uma boate localizada na saída da cidade, a famosa boate da Teodora. No fim do dia, tomou um banho, trocou de roupa e partiu para o local. A boate estava bem movimentada naquela noite, sentou-se numa mesa e pediu uma cerveja, estava disposto a pagar por uma garota, mais deixaria para depois, para mais tarde. Em meio a toda aquela gente encontra um rosto conhecido, era Isabel toda sensual que circulava por ali, a falida dama da uva também o reconhece e se aproxima:
- Matias!, você por aqui.
- Isabel, então é por aqui que você anda.
- Não nos vemos há muito tempo, como você está?
- Sente-se. Pra falar a verdade não nos vemos desde que você brigou com a sua irmã. Como veio parar aqui?
- É uma longa história... Deixa eu te contar.
Isabel o revela todo seu passado, conta tudo nos mínimos detalhes e o deixa perplexo diante de tamanhas revelações. Ele acredita em tudo, menos na parte que ela casou com um milionário e perdeu tudo.
- Então quer dizer que você enganou a todos durante a vida inteira com essa sua vida dupla. Pobre dona Manuela ainda bem que não descobriu isso antes de morrer.
- A vida é realmente surpreendente, olha pra você ver até você que era todo certinho tá aqui, quem diria que eu iria viver para ver essa cena, Matias num bordel.
- As pessoas mudam, às vezes pra melhor, às vezes pra pior, mas sempre mudam. Vem cá então quer dizer que você se casou com um milionário. Só bêbado pra acreditar numa mentira dessas. Que história mais louca heim Isabel, tá mais pra história de pescador.
- Vai rindo, mais é tudo verdade. Conto pras pessoas, mas ninguém acredita. Só eu sei o que eu vivi.
- E não tem nenhuma foto pra comprovar?
- Não, ele era muito reservado, proibia de tirar fotos suas e quando tiravam ele até processava pra pessoa apagar a imagem.
- Tá bom, vou fingir que acredito.
- E a sonsa da Bárbara, como está?, fiquei sabendo que vai ser mãe, que tá namorando um ricaço.
- A Bárbara tá melhor que nós dois juntos, além disso vai se casar daqui um mês.
- Sabia que eu botava a maior fé que vocês dois iam ficar juntos.
- Eu também, mas só que veio esse babaca e tomou ela de mim.
- Mas você também é um lerdo né Matias, tava com a faca e o queijo na mão e ainda deixou escapar.
- Pra você ver que as vezes ser bonzinho demais a gente acaba se dando mal.
- Minha irmã também é uma aproveitadora de mão cheia né, quando precisou de você te usou e abusou e quando não precisava mais, descartou que nem um lixo. Ela devia ficar com você por obrigação.
- Você acha?
- Claro. Ela te deve isso, se você fosse um pouco mais esperto essa hora ela estaria nos seus braços.
- Mas agora já é tarde demais e ela vai se casar com outro. E eu vou embora de Parreiral.
- Não Matias, tudo tem uma solução. Se você quiser eu posso te ajudar a conquistar Bárbara e tê-la em seus braços para sempre.
- Como você faria isso, nem com a sua irmã você conversa mais.
- Vamos colocar a cabeça pra funcionar. Bolar um plano, uma estratégia. Tem que ser um plano que beneficie tanto você quanto eu.
Após alguns goles de cerveja, Isabel tinha um plano, qual julgava ser perfeito.
- Tenho uma ideia genial, uma ideia perfeita.
- Que ideia é essa?
- Vamos sequestrar Bárbara.
- Sequestrar Bárbara?, você está maluca Isabel, eu não sou nenhum criminoso como você.
- Espera eu terminar de falar. A gente sequestra a Bárbara, você a leva para bem longe daqui, para Porto Alegre, então eu tomo o lugar dela, com os documentos dela passo a ser Bárbara. Me caso no lugar dela, enquanto isso você vai embora com ela.
- Que doideira Isabel, que ideia mais estapafúrdia.
- Pode parecer absurdo mas é uma ideia perfeita. Pensa só. Você leva a Bárbara embora, aluga uma casa e a mantém presa lá, com o tempo ela vai perceber o homem incrível que você é, e quando ela aprender a te amar, quando estiver apaixonada por você então você a solta e são felizes para sempre. Você não disse que ela tá grávida, então você poderá criar essa criança ao lado da sua amada. Eu vou morar na casa do diretor lá marido dela, com os documentos dela me passo por Bárbarae me caso com ele.
- Mas ela tá grávida e você não.
- Isso é o de menos, posso fingir que perdi o bebê, sei lá, algo do tipo.
- Você não é professora, ela é, você mal sabe ler e escrever direito.
- Eu posso dizer que estou cansada, que não quero mais dá aulas. Fico sendo só a vice-diretora, aposto que quem resolve tudo é o Raul, ela fica só fazendo pose. Você me passa toda a rotina dela, me mostra quem são seus atuais amigos, essas coisas e deixa o resto comigo. Bárbara fez alguma mudança drástica no cabelo, algum procedimento estético.
- Não. Não que eu saiba.
- Nem eu, nunca precisei disso, sou linda por natureza.
- Mas Bárbara é doce, delicada, gentil e você sempre foi mal educada e grossa.
- Eu também sei ser doce quando a ocasião pede.
- Eu ainda acho tudo isso uma loucura.
- Larga de ser covarde Matias, melhor do que viver o resto da sua vida frustrado e infeliz por não ter conseguido conquistar a mulher da sua vida.
- Pensando por esse lado. Preciso de um tempo pra pensar, não posso decidir isso de uma hora pra outra.
- Tá certo, gaste o tempo que quiser pra pensar, outro dia você me dá a resposta, mas lembre-se que isso deve ser antes do casamento. E não se esqueça que caso me case com Raul no lugar de Bárbara, posso convencê-lo a se mudar para o exterior, deixando o caminho livre pra você, impedindo que ele e Bárbara possam se reencontrar novamente. A decisão é sua. Agora se divirta um pouco, vou chamar uma das garotas pra você.
Aquele maquiavélico plano não saía da mente de Matias.
Fazia sexo com a garota de programa mas via a figura de Bárbara, demonstrando que sua obsessão pela amiga era maior do que se imagina.
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A UVA PODRE
RomanceDuas irmãs. A mesma face. Diferentes personalidades. Bárbara é a típica mocinha, batalhadora e sonhadora. O oposto de Isabel, sua irmã. Uma mulher gananciosa, que sabe muito bem onde quer chegar. Para a família diz trabalhar como garçonete em uma bo...