A queda de um império

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A empresa EL VINO DEL REI vivia uma verdadeira crise interna, antigos diretores da época do pai de Alejandro e novos diretores nomeados pelo herdeiro instalaram uma verdadeira guerra onde discordavam sobre tudo, principalmente após um escândalo que abalou a imagem da rede em todo o mundo. Em uma das filiais localizada na Turquia, uma funcionária revoltada gravou um vídeo em uma das vinícolas localizada em uma fazenda no país onde é possível ver crianças das mais diferentes idades trabalhando ilegalmente traduzindo uma grande exploraçao de mão de obra escrava infantil. O vídeo rodou por todo o mundo, sendo notícia em vários países. ONGs contra o trabalho infantil fizeram pressão de todas as formas possíveis através de protestos e manifestações.
Faltava alguém no comando daquele império, já que o proprietário não se fazia presente.
Hospedados em um resort de Las Vegas Alejandro e Isabel não faziam ideia da situação, já que nem jornal assistiam mais, tinham apenas o desejo de curtir a vida sem limite algum.
Cristian, um dos diretores de maior confiança de Alejandro, foi atrás do casal, queria os informar sobre a situação da empresa no momento. Na recepção do resort pediu para chamar Alejandro, surpreso o empresário pediu para que o levassem até o seu quarto:
- Cristian, o que você faz por aqui?, aconteceu algo urgente para você aparecer aqui? Em primeiro lugar gostaria de saber como você nos encontrou?
- Confesso que foi bem difícil, mas após uma investigação consegui os localizar.
- E o que te traz aqui?
- Gostaria de deixar bem claro que estou aqui por não ter conseguido entrar em contato com você, tentei centenas de vezes através de telefonemas, mensagens e e-mails.
- De fato não queria ser localizado, mas vamos, sem mais rodeios, me diga o que veio fazer aqui.
- Vim falar sobre a situação da empresa.
- Percebo que o assunto é sobre trabalho, então vou tomar um pouco de sol na piscina, para que fiquem a vontade. -Disse Isabel.
Cristian insistiu:
- Não, quero que também fique bem ciente sobre o que ocorre na empresa.
- Tá bem, então fico.
Alejandro percebeu que se tratava de um assunto sério:
- Então diga Cristian.
- A situação na empresa está insustentável, os diretores já não se entendem mais sobre nada, tudo é decidido na base de brigas e tudo piorou depois daquele escândalo midiático envolvendo a nossa marca.
- Que escândalo?
- Você saberia se estivesse um pouco mais presente no comando dos negócios. Acontece que um vídeo filmado na nossa vinícola da Turquia mostra crianças sendo exploradas na produção de nossos produtos, vários países do mundo suspenderam a importação de nossos produtos, as vendas caíram drasticamente, tivemos que fazer ajustes, demitir funcionários para tentarmos recuperar o prejuízo, mas não foi suficiente, a situação ainda está complicada.
- Vocês são um bando de incompetentes, quer dizer que eu pago um monte de diretores, marqueteiros, assessores de imprensa para isso, pra a situação chegar a esse ponto. Volta para Madri Cristian, se vire, quero que você como diretor geral resolva todos esses problemas.
- Se estou aqui é porque ainda me preocupo com a empresa, mas se nem você se importa né, não tem o porque eu me importar. Você tem que voltar para a Espanha, precisamos de um comandante, alguém com força para mandar e desmandar em quem quiser lá dentro e só você pode fazer isso.
- Eu não vou voltar coisa nenhuma, volta lá você e resolva tudo. Isto é uma ordem.
- Desisto. Quer saber de uma coisa, eu entrego os pontos, neste momento estou me demitindo, é triste ver a empresa construída com tanto suor e dedicação por sua família sendo jogada no lixo. -Após desabafar Cristian revoltado sai do quarto e bate a porta.
Furioso Alejandro grita:
- Covarde!, então se demita, passe no Rh. Não preciso de você.  Vou nomear o Roberto como novo diretor geral, tenho certeza que vai resolver tudo, além de ser mais competente que você.
Com as mãos na cabeça, Alejandro senta na cama do quarto, se vira para Isabel que observava tudo em choque:
- Vamos ter que retornar para Madri meu amor.
Para desespero dos empregados da mansão, Isabel e Alejandro estavam de volta. Assim que chegaram Alejandro foi até a empresa, nomeou Roberto a diretor geral e marcou uma reunião as pressas.
Roberto como novo diretor geral iniciou a reunião:
- Analisando os problemas de perto vejo que a situação está mesmo complicada, uma crise financeira se instalou aqui na empresa, a coisa já não ia muito bem, depois desse escândalo envolvendo trabalho infantil, tudo desandou de vez. Mas tenho uma solução em mente, um plano que estabelece metas e diretrizes para tirar a empresa do buraco. A princípio pode parecer loucura, mas é uma possibilidade. Defendo que devemos vender as demais filiais ao redor do mundo, com o dinheiro da venda dessas vinícolas que envolvem fazendas, plantações, indústrias equipadas, podemos aplicá-lo aqui na sede principal, aqui na Espanha mesmo, já que o mercado internacional parece está com as portas fechadas para nós. Aos poucos conquistaremos tudo novamente, às vezes é preciso recuar para se recuperar e voltar a crescer de novo.
Entre os presentes na reunião alguns acharam aquilo uma loucura, um tiro no pé, já outros acharam aquela ideia genial. Alejandro propôs uma votação e o sim pela adoção do plano venceu. Assim foi feito, as sedes afiliadas foram vendidas, o dinheiro aplicado na sede, mas o que não esperavam era uma chuva de processos dos funcionários demitidos das afiliadas vendidas. Aquilo tornava as coisas mais difíceis e para piorar Alejandro e Isabel continuavam a gastar sem limites, ele com suas apostas e vícios e ela com seus mimos. A grande forturna herdada por Alejandro já estava reduzida a um terço do total. A crise continuava, em poucos meses começaram cortes mais agressivos, faltava água, luz, papel higiênico, tudo era regulado. Também passou a faltar dinheiro para pagar os funcionários, as dívidas e cobranças se acumulavam.
Isabel parecia que não se encontrava naquela situação, pois continuava a mesma de sempre, arrogante e petulante. Ainda sentia raiva de Cissa, a jovem arrumadeira que mantinha uma paixão secreta por Alejandro. A megera queria porque queria a moça fora dali. Na manhã daquela segunda-feira resolveu que a colocaria para fora da mansão. Pegou um de seus anéis mais caros, disfarçadamente foi até a área de serviços e o colocou na bolsa de Cissa. Em seguida fez o maior escândalo, afirmava que foi roubada e queria revistar a bolsa de todos os empregados:
- Temos um ladrão nessa casa, tenho certeza que meu anel estava no quarto. Esse anel é caríssimo, vou revistar todos vocês.
Alejandro tentava controlar a situação:
- Tem certeza que há necessidade disso Isabel, às vezes você não se lembra onde colocou o anel ou não procurou direito.
- Há necessidade sim Alejandro, não estou com amnésia não, sei muito bem onde coloco minhas coisas.
Os empregados não viram problema em ser revistados, já que tinham a certeza de que não haviam pegado nada.
Isabel revista a bolsa de todos, quando chega na bolsa de Cissa, cinicamente finge se espantar ao encontrar a jóia sumida:
- Não falei, sabia que alguém havia o pegado, nunca confiei nessa empregadinha, falsa, cínica, dissimulada. Ordeno que ela seja demitida Alejandro.
Desesperada Cissa tentava se explicar:
- Não senhor não faça isso, não fui eu não. Colocaram isso nas minhas coisas.
Alejandro:
- Infelizmente Cissa contra fatos não há argumentos. Terei mesmo que demiti-la.
Cissa só conseguia chorar diante de tamanha injustiça.
Consuelo toma as dores da amiga e ferozmente a defende:
- Se demitir Cissa também terá que me demitir.
O que deixa Isabel profundamente irritada:
- Cala a boca sua velha abusada, intrometida, você não sabe de nada.
Sem temer a cozinheira a enfrenta:
- Sei sim, muito mais do que a senhora possa imaginar. Cissa nunca faria isso. Tenho quase certeza que há dedo seu nessa história.
- O quê? Petulante, se é isso que você quer, então te digo que você também está demitida, quero ver onde vai conseguir um novo emprego, quem será o louco que vai querer contratar uma velha caduca como você.
- Sou velha sim com muito orgulho, melhor do que ser uma jovem safada, mal caráter e aproveitadora.
- Repete o que você disse, que você se arrependerá de ter nascido.
Alejandro tenta colocar fim na discussão:
- Se controlem, se acalma Isabel. Consuelo você sabe o enorme respeito que tenho por você, reconsidere, Isabel está muito estressada.
Consuelo:
- Não há volta senhor. Há tempo já vinha pensando em pedir as contas e isso foi o estopim pra mim. Estamos há meses sem receber, precisamos comer, botar dinheiro em casa. Lamento muito mas vou procurar meus direitos junto a justiça, preciso receber. E aconselho Cissa, Afonso e Bernardo a fazer o mesmo.
- Não façam isso, já não basta as centenas de processos movidos por funcionários demitidos da empresa.
- Não posso fazer nada, além do mais agradeça por nós não os processarem por danos morais devido as humilhações que sofremos nas mãos dessa daí, desde que ela pisou nessa casa, nossa vida se transformou num verdadeiro inferno.
Consuelo, Cissa, Afonso e Bernardo pegaram suas coisas e saíram pela porta, Alejandro tentou os segurar:
- Fiquem, preciso de vocês, prometo que em breve pagarei tudo certinho.
A situação deixava Isabel impaciente:
- Deixa Alejandro, agora vai ficar se humilhando para empregados, se é pra atrapalhar, que vão embora. É só contratarmos novos funcionários e tá tudo resolvido.
- Não é tão simples assim Isabel, como vamos contratar novos empregados se não temos dinheiro pra pagar.
- A situação está tão complicada assim?
- Está bem pior do que parece.
E à cada vez se complicava mais. A empresa não reagia, os processos movidos por credores só aumentavam. O nome EL VINO DEL REI já não era mais sinônimo de respeito e admiração. Já não pagavam mais impostos. Diante de tal situação a empresa foi confiscada pelo governo que a vendeu para outro grupo empresarial do ramo, o dinheiro foi usado para acertar as contas. Mesmo assim não foi suficiente para pagar as dívidas com o governo e quitar as indenizações trabalhistas. Alejandro entrou numa profunda depressão, o vício em jogos e álcool permanecia, o que fazia com que surgisse cobranças e ameaças. Para quita-las passou a usar as jóias, roupas, bolsas e sapatos de Isabel. O que tornava a relação do casal cada vez mais difícil:
- Você perdeu tudo Alejandro, tudo! A cada dia que passa você me decepciona mais. Juro que se você continuar pegando minhas coisas para sustentar esse seu vício maldito eu vou pedir o divórcio e voltar para o Brasil. Estamos vivendo com o restolho que seus pais lhe deixou, acorda ainda quanto é tempo, daqui à pouco não teremos nem o que comer.
- É só dinheiro né Isabel, só nisso que você pensa, ou você acha que eu não sei que há quatro anos atrás você só aceitou viver ao meu lado por causa do dinheiro, você nunca me amou.
Por mais que Isabel o alertava, Alejandro não dava ouvidos e continuava à jogar, numa dessas adquiriu uma monstruosa dívida que gerou ameaças de morte. Para tentar se livrar tinha em mente vender seu último bem, a mansão. Para isso teria que convencer Isabel.
Num crepúsculo qualquer, quando o sol ainda emitia alguns fracos raios de luz a chamou no quarto:
- Isabel teremos que vender esta casa.
- Como assim vender esta casa?, você só pode estar louco de vez, se não bastasse ficar deprimido pelos cantos, ficar a madrugada toda enfiado naquele cassino, agora ficou pirado.
- Não estou louco não, essa casa é muito grande para nós, estamos sem empregados, podíamos nos mudar para um lugar menor.
- Não, isso é a única coisa que temos. Não podemos vender.
- Estou sendo ameaçado de morte, a casa é minha e eu vou vender.
- Tá certo, como você disse a casa é sua e então você é quem sabe. Mas fique sabendo que vou pedir o divórcio. Me iludi com você Alejandro, você é um fraco, um perdedor, conseguiu o que era quase impossível, perdeu tudo. Perdeu tudo, você tem ideia do que é isso, a pessoa tem que ser muito burra, muito otária pra conseguir fazer o que você fez.
- Cala a boca Isabel. -Dizia Alejandro se sentindo o mais fraco dos homens.
- Cala a boca não, agora eu vou falar. Vou jogar na sua cara tudo que está entalado aqui. Você prometeu me tirar daquela vida, que iria me dar o bom do melhor, que iria me fazer a mulher mais feliz do mundo e agora me dá isso, só decepção, frustração, raiva, nojo.
- E você me prometeu que iria ser minha aliada, que iria estar do meu lado na saúde, na doença, na tristeza e na Alegria.
- É, realmente prometi, mas se você não cumpre com sua parte, não há o porque de eu cumprir a minha. Está decidido, vou me separar, não aguento mais.
- Você é uma uva podre que produziu o cálice mais amargo que provei, o cálice da decepção.
- Nós nunca iríamos dar certo Alejandro, e sabe o porque, porque você nasceu para perder e eu vim ao mundo apenas para ganhar. Fraco.
Assim Isabel se retira do quarto deixando Alejandro profundamente irritado que começa a se debater, rasgar a roupa e chorar. Isabel segue descendo as escadas, quando Alejandro abre uma das gavetas do quarto, pega um revólver e com um tiro na cabeça, dá fim à sua própria existência. Ao escutar o forte estrondo a ex dama da uva, retorna ao quarto e se depara com o corpo do marido esticado ao chão. Se aproxima, com o pé verifica se ainda há sinais de vida e diz:
- Covarde. Agora resolve tudo com um tiro e me deixa aqui na mão.
Após uma longa investigação se conclui que se tratava de suicídio.
Isabel presenciava o fim de seu império sem saber o que faria de sua vida daqui pra frente.
Já Bárbara junto de Raul acabara de receber o que consideravam ser a melhor notícia de suas vidas, iriam ser pais, estavam grávidos. O que não agradou nem um pouco Matias que ainda alimentava um amor por Bárbara. Irado e com muita raiva estava decidido a ir embora de Parreiral e a esquecer para sempre da sua amada.

A UVA PODREOnde histórias criam vida. Descubra agora